—> Aviso que este capítulo possa ter possíveis gatilhos devido a abordagem de temas sensíveis como agressão física, depressão e suicidio, se for sensível NÃO LEIA! <—
Tudo começou naquele dia que eu abri os olhos pela primeira vez após sair do ventre da minha mãe. Eu obviamente não me lembro de memórias tão antigas e de uma época que um bebê não tem um controle tão grande de suas faculdades mentais, então com base na minha primeira memória mesmo, que eu diria ter sido de um momento um tanto quanto conflituoso, foi no meu aniversário.
Eu era a gêmea mais velha de um casal que papai e mamãe tiveram, meu irmão era um pequeno "demônio", comprado a mim, mas ele tinha algo que eu não tinha: certeza sobre o que ele era e quem ele era. Naquele dia que iniciamos juntos a nossa vida fora do ventre de mamãe, eu não podia imaginar o inferno que seria conviver com aquilo, com todo aquele pesadelo que se tornou a minha rotina depois dos meus 15 anos.
O momento que me lembro de ter tido o meu primeiro questionamento interno e desconforto, foi no nosso aniversário de 6 anos, estávamos todos reunidos na casa da vovó, minha prima — e melhor amiga até hoje — também havia nascido no mesmo dia que nós, e comemorávamos o aniversário de nós 3, na época eu ainda atendia pelo meu "nome" de batismo, e confesso que sempre odiei aquele nome, ele nunca pareceu combinar comigo, com quem eu era — e não combinava mesmo, mas isso só fui descobrir isso anos depois. –, minha prima tinha ganhado um presente que pra mim era perfeito, não era nada muito espalhafatoso, era um pequeno kit de cozinha infantil, naquela cor tradicional rosa com roxo — clichê —, mas aquelas panelas e fogão me deixou tão encantada que de repente aquele brinquedo da hotweels que papai me deu pareceu deveras insignificante, então como uma criança agiria, eu tomei o brinquedo de minha prima.
A primeiro momento foi um choque, para todos os adultos presentes, para minha prima, amigos íntimos da família, e até pra mim mesma, eu não sabia o que tinha me movido a agir assim, até então eu não tinha demonstrado "publicamente" a minha repulsa a tudo aquilo que envolvia o universo masculino e que agradava tão bem ao meu irmão caçula, mas sim aquele maldito mundo rosa, que minha prima vivia e que sempre me levava junto quando estávamos sozinhos. Mas ali não estávamos sozinho, aquela foi a primeira vez que meu pai levantou a mão pra mim e agiu com grosseria, eu jamais esqueci as palavras que ele me disse, como tanto fervor: "Você não vai ser uma bichinha e desonrar o nome da família", naquele momento mamãe não fez nada, e segurou o meu irmão que ficou muito agitado e chorava junto comigo, ainda que quem apanhasse fosse somente eu, e meu irmão tentava inutilmente se soltar do aperto de mamãe para me ajudar.
Daquele dia em diante, Taeyong nunca mais saiu de perto de mim, ou soltou a minha mão, e eu segurei ela por muito tempo até não a ter mais...
Depois daquele aniversário caótico, a relação do meus pais desandou. Não existia mais paz dentro daquela casa. Todos os vizinhos já haviam cansado de ouvir, ver, separar e chamar a polícia pra todas as brigas e agressões que aconteciam naquele lugar, que um dia, foi um lar amoroso que não causava medo, raiva, ou qualquer outro sentimento que possa ser atribuído a coisas negativas, dos meus 15 aos 19 anos.
Devido à mudança que teve no ambiente familiar, meu irmão logo começou a trabalhar e no serviço se envolveu com muitas pessoas, mais velhas, vividas e nem sempre de boa índole. Taeyong não tardou em encontrar alívio para todo o estresse que ele passava em casa, com as amizades erradas — aos olhos do papai — que ele andavam, eram os que podiam dar ao meu irmão tudo aquilo que eu não tive psicológico para dar: alívio e espaço.
Falhei em não ver o quão esgotado o Taeyong estava, e o que não faltou foram sinais, depois que papai me agrediu daquela primeira vez isso passou a ser quase um hábito, algo rotineiro, pois ele via que ainda que eu tentasse disfarçar eu ainda era eu, é isso doía como o inferno, a dor física nem tanto, mas as palavras, as ofensas e os desejos de morte, isso era horrível demais, meu irmão já não aguentava mais isso, ele estava tão saturado quanto eu dessa situação. Ainda que ele impedisse que papai me batesse quando ele estava presente em casa, e aquilo me causasse um certo alívio – ainda que o desespero fosse o mesmo, pois não era algo agradável de se ver quando meu irmão e meu "pai" trocavam socos pela casa–, era algo momentâneo, porque a qualquer momento, já que ainda quando ficávamos a sós eu tinha medo, medo de nunca mais conseguir ser capaz de respirar novamente após toda aquela sensação ruim que ficava comigo no final do dia, quando todos iam dormir, mas meus demônios ficavam lá acordados comigo.
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nem rosa nem azul, apenas eu...
FanfictionJá imaginou como seria viver e estudar em um internato sendo a única garota da escola? Está é história de como eu, Kim Taehyung, descobri de uma forma um tanto traumática que aquele corpo masculino nunca me pertenceu, e ter uma mente feminina num a...