Pete pov
Quando somos crianças, tudo o que desejamos é virar adulto logo, queremos sair e fazer a nossa própria vida, queremos ter a nossa independência e ser por si, mas quando chegamos a uma certa idade, percebemos que esses desejos eram de uma idiotice sem tamanho. Eu sempre acreditei que seguir os nossos próprios sonhos era o certo, fazer o que gostamos, como gostamos e com quem gostamos, mas não imaginava que isso resultaria no que estou vivendo nesses dias.
Quando pensei em cursar psicologia, tinha quase certeza que meu futuro já estava garantido, eu tinha um emprego estável e morava com a minha avó materna, estava praticamente tudo sob controle, mas minha vida mudou drasticamente em dois anos. No momento batalho para não trancar a faculdade e me sustentar, minha avó faleceu há algum tempo e meus tios tomaram a casa, agora me encontro morando de aluguel num tipo de ex garagem, ali há apenas minha cama, um banheiro recém construído, uma cozinha improvisada apenas com o necessário para que eu possa cozinhar, e claro, um armário com minhas roupas.
A situação é tão humilhante, não consigo acreditar que realmente estou vivendo isso. A vontade de desistir cresce a cada dia. O Pete de dois anos não viveria de forma alguma num cubículo daqueles, ele não era uma pessoa rica, mas tinha suas exigências.
Agora eu não posso nem exigir o básico, não consigo um quarto em uma república perto da faculdade e todos os dormitórios gratuitos estão ocupados.
Neste exato momento eu estou pelas ruas de Bangkok enviando currículos em lojas de conveniência e de roupas sem parar. Já deixei por todos os sites possíveis também, seja para auxiliar, para babá, até mesmo tentei como mecânico - sequer sabendo mexer em um carro.
Todos os dias eu fazia aqueles mesmos caminhos: saia da faculdade, andava o centro inteiro deixando currículos, comia em uma loja de conveniência algo barato que não fosse me matar - não naquele momento, pelo menos - e torcia para que pelo menos fingissem se interessar pelo meu currículo.
Apesar de ser jovem, ele era bem completo. Fora que eu já tinha várias experiências com carteira assinada, comecei a trabalhar desde cedo por querer, queria ter meu próprio dinheiro e haviam coisas que eu não queria usar o dinheiro de minha avó, foram vários trabalhos de meio período, as vezes a noite, as vezes a tarde.
Eu até gostava de trabalhar, mas agora que estava nessa situação, odiava trabalhar por necessidade, acredito que todas as pessoas pobres no fundo pensem da mesma forma. Trabalhar é legal até ver que precisamos trabalhar. Trabalhar feito um condenado por um salário curto onde tudo que podemos pagar são necessidades básicas de sobrevivência, onde não podemos gastar com agrados ou nada do tipo, isso é uma tortura sem tamanho.
Por pensar demais, acabo me sentando na pequena praça que tinha ali na cidade, eu estava suando como um pequeno porco, não parava de pingar nem passando a blusa de cor escura pelo rosto.
Ouço meu telefone vibrar em meu bolso e torço para que seja uma entrevista marcada, mas era apenas o Porsche enchendo o nosso grupo de amigos com figurinhas do seu namorado. Reviro os olhos e dou uma risadinha, apesar dos dois serem extremamente bregas, meu coração se encontrava quentinho sabendo que ele estava finalmente feliz. Porsche é meu melhor amigo desde o ensino fundamental, passou grandes perrengues para cuidar de seu irmão, mas nunca desistiu. Seu coração fora partido incontáveis vezes, ser gay em uma sociedade tão reclusa era muito difícil, e ele também só se envolvia com quem sabia que não valia uma moeda de um de cinco centavos.
Ouço novamente o telefone vibrar, desta vez é ele me ligando. Bufo e acabo por atender, sabia que ele não pararia se eu fingisse não ter visto.
– Amor do Porsche! - ouvi uma risada feliz do outro lado, ele parecia muito animado.

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Heal Me | VegasPete
FanfictionHeal Me conta a história de Vegas, um rapaz que está vencendo o vício de drogas após seu pai falecer, para conseguir cuidar dos negócios da família, e Pete, um jovem estudante de psicologia que conheceu Vegas enquanto procurava um emprego. #8 em bib...