Entre amor e ruínas

Capítulo 2

O grande auditório estava mais arrumado do que de costume: altos vasos decorativos que continham rosas brancas e vermelhas - as cores da instituição-, seis lustres de cristal acesos no teto amadeirado, uma violoncelista tocando suavemente músicas clássicas e, diante das cadeiras enfileiradas, a mesa coordenativa, a qual possuía 8 lugares reservados, 7 deles para professores renomados que eu particularmente nunca gostei de verdade e entre eles, o lugar da diretora Abigail James, uma quarentona estadunidense que herdou da mãe o cargo nesse colégio.

Assim que enxerguei Lizzie, corri da forma mais delicada que pude para sentar-me ao lado dela.

- Tá mais ansiosa pra que? Encontrar seus pais? Viajar de avião ou voltar pra Rússia? Eu tô em êxtase ! Faz quase dois anos que não vou em Londres e tomo um chá de verdade, somente essa porcaria que me servem aqui. - disse minha melhor amiga.

- Pra ser sincera, não faço ideia. A última vez que vi meus pais foi no meu aniversário de 15 anos e não demoraram mais que o necessário para me parabenizar antes que partissem para sei lá onde. E quanto à Rússia, não piso desde os seis anos, nem sei como deve estar.

Era verdade. Mesmo meu pai, Ivan, sendo o CEO de uma grande empresa de telecomunicações, eu nunca viajei ou sai daqui, nem mesmo recebi visitas no período de férias. A única pessoa que fazia questão de me ligar todos os dias era minha irmã mais nova, Natalya, que até hoje não entende o porquê de não ter sido matriculada comigo; dizendo o papai, estava preparando a filha primogênita para "dominar o mundo". E ele não poupou despesas para que eu tivesse os melhores tutores, sendo eles de idiomas, conhecimento geral, tecnologia, administração e até mesmo artes marciais. Meu pai sempre disse que eu não deveria decepcionar e que meu destino fora traçado desde sempre, foi pra isso que eu nasci.

- Nat nat... - disse Elizabeth- se ficar com esse pessimismo justo na despedida escolar sabe que vai dar oque falar. Nós somos o rosto do mundo, amiga, não podemos transparecer nada!

- Eu sei, é que-

Antes que eu pudesse terminar de falar, a diretora James segurou o microfone e pediu silêncio

- Silêncio a todos, meus queridos- disse a diretora- vamos começar a cerimônia. Durante 12 anos vocês estudaram, cresceram e se transformaram em adultos inteligentes e preparados para os grandes cargos destinados em suas determinadas origens. Foi uma honra para nós acolhe-los e instruí-los da maneira mais adequada possível e saibam que farão falta...

- Começou o showzinho comovente, não esperava menos - sussurrei para minha amiga.

- Natasha, presta atenção!- ela me respondeu.

- ... E que nós todos já estamos orgulhosos para ver seus grandes feitos.- continuou a diretora- Sem mais delongas, vamos passar para a entrega dos diplomas.

Depois de duas horas, a cerimônia chegou ao fim e todos os jovens foram o quanto antes para os carros, aviões, jatinhos ou seja lá por qual transporte eles chegariam em suas casas. Aquela despedida parecia um grito de liberdade para os adolescentes sucumbidos a viverem reclusos do mundo. Embarquei no meu voo particular para fugir dos paparazzis do aeroporto e decidi ler um livro, seriam longas seis horas e meia até chegar em São Petersburgo.