EXISTIA UM SAPO QUE VIVIA NAS MARGENS DE UM RIO E AJUDAVA OS OUTROS ANIMAIS e insetos a cruzar esse mesmo rio. Um dia, chegou perto dele um escorpião e lhe pediu que o levasse até a outra margem. Esperto, o sapo disse que nem louco porquê sabia que assim que o levasse, o escorpião o mataria, mas o escorpião disse que não lhe picaria, porque se o matava, os dois morreriam. Para o sapo pareceu lógico e como era um sapo muito bom, o carregou em suas costas e começou a cruzar o rio.
O sapo o levou, mas no meio do caminho o escorpião o picou. O sapo não podia ser de outra maneira, por isso ajudou o escorpião. Ele não era desconfiado, sua natureza sempre fora assim. E nisso o sapo e o escorpião eram iguais; nenhum podia mudar sua verdadeira natureza. O sapo era bom e o escorpião traiçoeiro.
A natureza de uma pessoa é como um rio; nunca muda seu curso, nem se pode nadar contra a corrente, assim que é melhor deixá-lo fluir e que a corrente nos leve.
É uma metáfora espetacular. Você escolhe como morre. Já imaginou isso? Morrer caindo do alto da própria decadência. Ou morrer no fundo da opressão mais profunda. Morrer vítima de outra vítima. Ser o vitimizador de um vitimizador. Morrer matando é morrer duas vezes. Morrer sem comer nada, até ser nada.
A humanidade sobreviveu até hoje, apesar de sua crueldade. Se você deixar duas sementes e voltar no tempo, o que encontrará? Uma planta crescendo vigorosamente. E se você deixar dois animais, macho e fêmea, e voltar no tempo, o que você encontra? Filhotes dessa mesma espécie. Vida. Se você deixar dois seres humanos juntos e voltar um mês, o que encontrará? Apenas um. Ou talvez, nenhum.
Essa é a natureza humana. Eles são maus, implacáveis, suicidas. O projeto humano falhou desde sua origem. Nós falhamos, a criação falhou. Isso é uma contradição em si, eu digo, porque tudo que é criado é perfeito. Perfeito em sua imperfeição.
Perfeito?!
Shuhua não costumava ter o sono muito pesado, a ansiedade lhe impedia de dormir muito. Contudo, os rémedios prescritos por seu neuro em relação à sua condição a levava a adormecer em uma quantidade desproporcional, principalmente pela alta dosagem que obrigava a si mesma a tomar. Por isso, apenas conseguira despertar na madrugada do dia seguinte, os olhos pesados e o peito apertado em uma agonia que não conseguia identificar.
E quando tateou a cama em busca do corpo da namorada, não o encontrando, sentiu sua boca secar. Ergueu o corpo rapidamente, soltando uma respiração ruidosa.
- Soojin?! - ela chamou, obtendo nada mais do que o silêncio em resposta.
Shuhua jogou as cobertas para o lado, agitando seu interior quando rapidamente saiu do quarto para procurá-la pelo apartamento. Sem sucesso, voltou para o cômodo inicial, sentia suas mãos tremendo quando tomou o celular para si, ofegando em surpresa ao ver um número desconhecido brilhar incansavelmente pela tela.
- Alô...? - atendeu, sentando-se a cama, seu corpo tremia tal qual sua voz.
- A bela adormecida finalmente acordou. Honestamente, pensei que estivesse morta. Não que fosse de todo mal se estivesse, porém.
Seu coração deu um salto.
- Nolan... - sussurrou em uma agonia torturante. - Onde ela está? Pra onde você a levou?
A gargalhada alta ecoou do outro lado da ligação.
- Até que você não é burra.
- Onde ela está, Valley? - insistiu, travando os dentes em um ódio irremediável. - Eu não vou perguntar novamente.
- Não precisa alterar a voz, linda. Soojin está comigo, sim, como você bem deduziu. Você quer vê-la novamente, não quer? E com vida? - o silêncio se fez presente, dando para Nolan a oportunidade de continuar. - Te passarei o endereço, vamos ver até onde seu amor por Agnoletto vai. Arriscaria sua vida por essa vadiazinha? - riu baixo. - Venha sozinha ou eu não vou te esperar para começar a me divertir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
VERMELHO CEREJA
FanfictionRecém formada em fotografia, a jovem Shuhua Blue Smith assiste seu mundo inteiro virar de cabeça para baixo quando recebe uma proposta tentadora para atuar como fotógrafa pessoal da mais nova queridinha angel, Soojin Agnoletto. Terrivelmente quente...