[Gwen Stacy e Peter Parker]
Gwen Stacy sempre soube melhor do que ninguém da existência de leis e fatos incontestáveis que regem o universo.
Um dos fatos, estava diretamente correlacionado a algo que aconteceria bem antes de sua queda livre eminente, onde o medonho e trágico final, seria seu corpo lânguido e a cabeça pendula em um ângulo grotesco.
Tudo começou alguns anos antes do sonho juvenil, o ato de segurar um canudo como prova viva da conclusão de uma fase, as portas para a tão temida, mas também tão esperada vida adulta.
Ele, Peter Parker.
Aquele garoto estranho, franzino., que vagava e circulava quase periodicamente os corredores do colégio em torno de si. Lábios trêmulos e vacilantes quase todas as vezes que se comunicavam com palavras, mas evidentemente hábeis e doces quando a tocavam com maestria.
Embora não soubesse, o seu jeito peculiar já havia cativado a garota perfeita. Perfeita porque sempre rendia bons aproveitamentos acadêmicos, perfeita porque vinha de um família estruturalmente regida pela lei nos termos mais literais da sentença. Perfeita porque possuía ondas solares no topo de sua delicada cabeça, que adoravam um rosto totalmente angelical e criavam vivacidade em seus olhos tempestuosos.
O até então embaraçoso Peter Parker deu lugar a um novo garoto, que sorria mordaz e abandonara os óculos de fundo três quartos. Mas ele ainda era ele. A mesma essência, apenas um receptáculo mais despojado. Não. Algo de dentro dele havia mudado, ela sentia isso em seus ossos todas as vezes que seus olhares se cruzavam nos corredores, todas as vezes que se tocavam.
Não demorou para que sua teia de mentiras fosse desvendada e desfeita pelos ágeis dedos da jovem loira com fortes tendências a investigadora. Foi depressa como um trovão.
Uma aranha solta acidentalmente. Um garoto. Ondas falatórias de línguas amargas e diferentes sobre um novo herói, alguém de coração puro.
"Um justiceiro". Pensavam alguns. "Um cara que faz o que a polícia não é capaz de fazer sozinha". Isso era o que ele próprio declarara, bem como o que ela começou a pensar, quando o desnudou de alma e coração.
Seus destinos de emaraharam como as teias de Peter, sem aviso prévio.
Uma Aranha. Um garoto. Um segredo. Um garoto e uma garota que compartilhavam um segredo.
Ela podia fugir, se calar. Podia fugir e anunciar o que sabia a plenos pulmões. Preferiu a cumplicidade inegável. Como uma mariposa assume o riscos ao se aproximar de uma lareira em busca de luz, lá estava ela. Talvez em busca de indentidade, de trazer um real significado aos seus dias posteriormente calculados com uma precisão sufocante.
Face impecável. Corpo em perfeito funcionamento. Esqueleto, órgãos e sangue que agiam em sintonia de forma saudável o suficiente, suas bochechas rubras diziam isso sempre que seus lábios se curvavam para rir ou sorrir para fotografias.
Como ela ficava bem em fotografias.
Diferente dele que se acanhava sempre que estava de frente a lente, Gwen sabia exatamente o momento que devia mostrar os dentes alinhados. Peter começou a colecionar fotos dela, nunca achou que seriam tão necessárias como viriam a ser um dia.
Se aquela aranha de proporções e capacidades anormais não houvessem feito de vítima um garoto aleatório, em um dia aleatório, talvez, e apenas talvez ambos pudessem vivenciar uma vida comum e desfrutar de momentos corriqueiros e enfadonhos.
Teriam seu drama de separação graças as escolhas de universidades, depois, em um pequeno apertamento, entulhariam livros pelos cantos mais inimagináveis do ambiente. Teriam discussões banais sobre o gosto musical questionável de um, que sempre acabaria cedendo espaço e removeria suas fitas e cd's para que ou outro, feliz, ouvisse um álbum inteiro do seu artista favorito bebericando do café recém passado em sua caneca lascada e de desenho desbotado.
Tudo seria diferente, se ele não houvesse feito a nobre escolha de salvar o mundo.
Peter Parker já havia feito suas escolhas, e agora era cativo delas.
E de repente, a garota era um anjo de metal em queda livre, em meio as engrenagens do velho relógio.
Suas orbes se cruzaram, mesmo sob aquela máscara estúpida Parker ainda vislumbrava seu amor despencando, suas tentativas desesperadas de evitar que algo ainda mais danoso a acontecesse, mas já era tarde, todo seu senso de autopreservação havia sido deixado desleixadamente em seu beijo mortal.
Ela sucumbia, lindamente seus olhos pediam por socorro. Quando ele a alcançou, já era tarde demais.
Gwen teria tido apenas o tempo de saber, que ele já a amava. No fundo ele também soube que ela o amou desde o princípio incondicionalmente, enquanto seu corpo quente era aninhado em despespero e agonia de uma sucessão de "e se's" que nunca obteriam respostas objetivas.
Seu rosto brando denotava placidez, mas ao mesmo tempo dizia algo como "missão cumprida". Um ser quebrado por dentro se encontrava agora inteiro. A menina perfeita encontrara seu objetivo, e embora por fora estivesse ao avesso ao normal, internamente ela ia em paz, deixando para trás um herói desolado.
Um herói que foi capaz de salvar o mundo, mas que não foi capaz de salvar seu mais puro amor.
Se ele ao menos contemplasse os mirantes estrelares de Gwen e os interpretasse, seu vitupério infame seria menos doloroso.
O seu amor era dorido, uma expectativa e experiência efêmera, que se perdeu no badalar mecânico.
🌿🌸
N.A: Olá meus amores, tudo bem? Como podem ter notado,andei sumida. Mas não, não morri. Estava apenas tentado voltar aos eixos e me tornar um ser humano funcional novamente, acho que consegui e por isso estou aqui né? Enfim, mesmo "afastada" permaneci por aqui para ler habitualmente quando possível e ver se estavam me xingando por desaparecer.
Como podem ver, esses tempos continuei escrevendo, mesmo que textos avulsos. Deixo-vos aqui uma escrita bem quinta categoria e uma das partes mais vergonhosas de mim que se rende aos clichês e fanfics mentais.
Um beijo e um queijo.Ass. Mandy 🦋

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Vitupério de sentimentos
عشوائيApenas rascunhos de uma jovem melancólica e alegre que passa os dias em um loop contínuo e cinematográfico dia após dia.