- Dizem que ele não existe.
- Mas ele está em todo lugar.
- Só não podemos ver?
- Apenas sentir.
- Bom, acho que sim. Porém estaria mentindo se falasse que aceito isso tranquilamente.
- E qual motivo de não querer aceitar, Ate?
- Olha, acho que me expressei mal. Não é questão de aceitar, é que eu tenho muitas dúvidas se ele realmente existe de forma pura.
- O que você quer dizer com "forma pura"?
- Quando falamos de "amor" a primeira imagem que aparece na cabeça das pessoas é apenas um relacionamento conjugal, e isso me irrita profundamente. Já começa por aí.
- Admito que isso também me incomoda.
- Pois bem, quando nós falamos de "amor" e a primeira coisa que pensam é em um homem e uma mulher juntos de forma romântica, obviamente sempre um casal hetéro, isso não me parece uma forma pura de amor.
- Eu não tô entendendo você.
- É que o amor está em todo lugar. O amor por um amigo, um parente, até mesmo por um animal de estimação. E também por coisas não vivas, como uma memória, ou um local, um gosto, um cheiro...Consegue entender? Eu por exemplo amo aquele aroma dos dias chuvosos...
- Então pra você isso é o amor puro, e o amor conjugal não?
- Não é isso. Estou me explicando mal. Vamos rebobinar...Para mim o amor puro é aquele que é...Ah, deixa vai... - Desistiu Atena, com lágrimas nos olhos.
- Ora, o que teve, Ate?Sarasvati desceu da cama e se sentou ao lado da amiga no chão.
- Ate...
Atena estava chorando, tentava enxugar suas lágrimas, mas tinha dificuldades em esconder seu nítido desconforto.
- Por favor, Ate, fale comigo...O que houve?
- e...e...eu não posso - Sussorou a garota.
- Ate...Nunca guarde tudo para si, a dor é grande, mas se deixar suas dores dentro elas irão se acumular, lembre-se que somos copos com água, temos que nos equilibrarmos para não transbordar.
- O amor não existe. Isso que me deixa...AHHHHH - Atena socou sua coxa em um surto de raiva. - EU ODEIO ISSO, QUE DROGA.
- Calma...Continua, vai.
- Ninguém se importa com ninguém, Sara. É fato. Claro que temos apreço por alguns próximos, mas nada além disso, isso é no máximo gostar de alguém, para amar é preciso de muito mais.Sarasvati ficou em silêncio.
- Sara, o amor puro é ficção, coisa de livro, filme...Não há diferença entre o amor verdadeiro e o UCM, é o mesmo grau de mentira... - Desabafava Atena enquanto suas lágrimas secavam. - Quantas vezes você ouviu que estariam com você para tudo?
- Muitas.
- E quantas foram verdade?Sarasvati olhou para o chão calada.
- Eu...ODEIO isso. Ah, eu não aguento tanta coisa às vezes! EU ODEIO ESSE MUNDO, ODEIO, ODEIO, ODEIO!! ODEIO TUDO QUE EXISTE. - Atena se debrulhou em choro novamente.
- Eu entendo como se sente.
- Sara, eu... - Atena enxugou as lágrimas. - Eu não vejo nada de puro na terra. Isso me entristece. Sabe o que existe de verdade? É apenas o desejo. Só isso. E o tal "amor"... - Atena fez sinal de aspas com suas mãos. - ...É uma bela variação do desejo, apenas isso. Isso é ciência, um mecanismo de sobrevivência para que a espécie propague.
- Ah, se depender dos meus desejos a humanidade vai acabar então...E dos seus também, não?Atena ficou quieta.
- Eu sei que muitas vezes isso de que amor é apenas um mecanismo de reprodução é bem plausivél de se crer, porém então deve ser um mecanismo bem falho nos nossos casos.
- Todos mecanismos têm suas falhas, isso não anula o fato de que o prazer carnal é maior do que o "amor puro", por isso sempre que falamos em amor a primeira imagem é um casal.
- Como você explica pessoas assexuais por exemplo? Elas não sentem esse tipo de prazer.
- Bom, elas podem não sentir o desejo pela carne mas também não amam.
- Lógico que não! Muito pelo contrário. Assexuais amam sim! Simplesmente não tem atração por atividades sexuais humanas, isso não os agrada. Mas assexuais podem amar sim, muitos têm relacionamentos, é super normal.Atena se calou por um tempo.
- Olha, seu ponto é muito válido, Ate. E eu sei como você sente dor com isso. Eu também tenho medo do amor ser apenas uma ilusão às vezes. Será que o desejo sexual é o maior "sentimento" que existe? Doí pensar nessa possibilidade, sei como isso é. Mas eu vejo que há pessoas que amam de verdade, vejo que há pessoas que nem sentem desejo sexual, sendo assim não me parece que todo ser humano é movido por desejo. Talvez alguns sim, mas todos? Isso não.
- Sara...
- Desejo é algo humano, nós sentimos isso, é normal, Ate. Faz parte do que nos faz humanos, nos faz indivíduos, assim como todo e qualquer sentimento. Mas principalmente, você se lembra?
- De que?
- Eu amo você. Lembre-se disso. Pra mim essa é a maior prova da existência do amor, o sentimento que tenho por ti. Eu disse que estaria contigo quando você quisesse, e é por isso que aqui estou. Pois te amo, minha amiga, e nada mudará isso.Sarasvati e Atena se abraçaram, e depois de um longo e apertado abraço, as duas foram pra cama, e um pouco antes de se calarem, Atena disse:
- Obrigado por me manter crendo no amor, ás vezes esse mundo nos faz achar que tudo está perdido, graças a pessoas como você eu lembro que sempre há esperança.
- É nosso dever acreditar, Ate. Muitos não acreditam em romance, mas não acreditar no amor pra mim é loucura. É loucura pois eu sinto o amor, você me desperta ele, e eu sei que esse amor é maior do que qualquer desejo que já tive por alguma garota.Atena sorriu.
"Porquê a esperança nunca morrerá enquanto existirem pessoas pra nela acreditar."
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As linhas de Atena
General FictionAtena (Ate) e Sarasvati (Sara) são duas amigas que se conhecem desde quando eram crianças. Hoje, aos 16 anos, as duas tentam lidar com o mundo e a vida, fazendo questionamentos, perguntas, e tentando fazer o bem. Ou será que o bem também é apenas al...