Capítulo Único

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"Quem um dia irá dizer que existe razão / Nas coisas feitas pelo coração? / E quem me irá dizer que não existe razão?

Yuji provavelmente teria passado o dia inteiro naquele sofá. Pelo menos estes eram seus planos, até Nobara aparecer e arrancá-lo daquele dormitório à força. A verdade é que havia uma festa no prédio ao lado, e a ruiva estava empenhada em se divertir naquela noite. 

"Festa estranha, com gente esquisita", foi o diagnóstico de Itadori após dez minutos no local. Já estava meio tonto e só pensava em ir 'pra casa quando, de repente, uma cena privilegiada se deu em seu campo de visão. A poucos metros dali, apoiando os cotovelos no bar, um jovem esbelto de cabelos espetados e escuros parecia ler o menu de bebidas pela centésima vez naquela noite. Talvez o rapaz fosse mais velho por uns dois, três anos no máximo; mas ainda assim ambos partilhavam a mesma altura. Se Yuji pudesse ler mentes, ouviria dezenas de reclamações mentais do moreno sobre o quão absurdamente doces eram todas as opções de drinks naquele cardápio. Pagaria o preço que fosse por um conhaque naquele momento. 

Estava tão distraído com o menu que nem notou a aproximação do rosado, percebendo sua presença apenas quando Yuji colocou seus dedos sobre o livreto e o tomou da mão alheia. O moreno já tinha um xingamento subindo por sua garganta; quem em sã consciência toma um cardápio das mãos de alguém que nem ao menos conhece?! Levantou a cabeça, já preparado para iniciar uma bela discussão, até que se viu completamente distraído pela serenidade no rosto alheio. Não sabia quem era aquele rapaz de cabelos cor-de-rosa, mas sua expressão parecia tão convidativa que o moreno até se esqueceu de que estava prestes a ofender sua mãe. 

- Oi... - Yuji iniciou a conversa com um tom de voz aveludado. 

- O-Oi. - o rapaz respondeu, sentindo sua voz falhar. Aquilo nunca havia lhe acontecido antes; não costumava se enrolar quando falava com alguém. 

O que o moreno não sabia era que Itadori nunca havia puxado conversa com um desconhecido em uma festa antes. Nenhum dos dois sabia exatamente o porquê de estarem diante daquela situação tão rara para ambos, mas parecia que havia algo maior convergindo os dois para aquele momento. Não era como se fossem apenas estranhos que um dia se encontraram sem querer. 

- Quer dançar comigo? - o rosado lançou a proposta. 

Em qualquer outro convite à dança, o moreno dispensaria. Mas aquele não era um simples convite, ele não iria apenas dançar, a proposta era bem clara: dançar com Itadori, e isso era algo que o moreno definitivamente estava interessado em fazer. 

O rapaz sorriu e se afastou do balcão. Tomou a mão de Yuji e correram juntos até o meio do salão. As palavras que disseram nesse meio tempo se limitaram à provocações e brincadeiras que trocavam entre sorrisos. O rosado se derretia a cada olhar que recebia do moreno. 

Dançaram durante um tempo, tentando aprender o máximo que podiam um sobre o outro. Itadori teve a impressão de que havia algo em seu cabelo, já que o rapaz não parava de olhá-lo. Mal sabia que o outro estava apenas tentando memorizar aquele tom peculiar entre rosa e ruivo tão perfeito e reconfortante. 

Em algum momento, embora nenhum dos dois soubesse ao certo quando, acabaram se perdendo nos olhos um do outro. Yuji se viu completamente fora de si enquanto admirava aquelas íris tão escuras quanto o céu estrelado. Estava acontecendo algo ali e, como se fosse a única coisa que poderiam fazer naquele momento, se projetaram na direção um do outro. O moreno ainda hesitava, estava com dificuldade de se entregar completamente; se perguntando se aquilo seria realmente adequado. No entanto, suas dúvidas se esvaíram no instante em que Yuji lhe roubou um beijo. 

Teria dado um tapa na cara de qualquer um que o fizesse; mas Itadori não parecia ser (e, de fato, não era) qualquer um. Seus lábios eram diferentes de todos os que havia provado antes; eram macios, quentes, acolhedores... e o cheiro do rosado, que lhe entorpecia o nariz, só facilitava o processo. Ao invés de se afastar, envolveu seu pescoço e o beijou de volta com vontade e gosto. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha quando Itadori lhe agarrou a cintura. 

Yuji e Megumi (ItaFushi)Onde histórias criam vida. Descubra agora