Sob o sol

919 83 141
                                    


— Tine!

— Já vou, já vou!

Eu gritei sem realmente ser necessário porque sinceramente...

O único com audição normal naquela imensa mansão era eu, já Vegas... Bom, assim como meu surpreendentemente recém marido, Vegas era uma pessoa com muitas habilidades e uma delas era todos os sentidos mais sensíveis que os meus.

Um mero humano.

Vegas assim como Sarawat era um vampiro.

Terminei de me secar e trocar depois de tomar todo aquele temporal após uma DR explosiva no meio do bosque e sai do meu quarto para o corredor luxuoso e cheio de tapetes que levavam a escadaria circular da mansão onde agora eu era morador fixo. Ao passar pela janela vi um céu limpo e enluarado, nada lembrando a chuva torrencial de antes... Que ótimo!

Aos pés da escada a minha espera estava o vampiro mais próximo do homem, se assim eu podia chamá-lo, que me exigiu em casamento na semana passada em troca de uma infração do meu estúpido pai tonto...

Para encurtar a história até esse momento em que eu acabava de voltar de uma DR debaixo de um temporal que inclusive terminou dando lugar a um céu noturno enluarado é o seguinte: Sou o terceiro filho de um simples viúvo que assim como seu pai e seu avô trabalhavam, ele é um motorista particular de uma família abastada da cidade. Em um belo dia chuvoso que logo se transformou em manhã radiante – Notem aqui a ironia - meu pai se perdeu na floresta fora da cidade que circundava o parque florestal da região e foi parar nos jardins da mansão de Sarawat Chivere.

Meu pai tem como hobbie a observação de pássaros e nos jardins daquela mansão aparentemente abandonada havia muitos deles após a chuva de verão. Meu pai saiu do carro, entrou no jardim para tirar uma foto de um beija flor raro e sem querer esmagou as Jades Vines no meio do caminho, acontece que elas são as flores mais amadas do dono da mansão que viu aquela cena do alto de sua janela e entrou em fúria meteórica. Aquele homem coberto da cabeça aos pés e que meu pai não conseguiu ver nem o nariz - E hoje eu penso que foi uma sorte impagável para ele - O ameaçou sobre a infração: ele tinha destruído seu bem mais precioso e teria de dar a ele algo tão valioso quanto as flores raras se quisesse continuar vivo.

Algo a se dizer sobre meu pai, além de crédulo e devoto a buda e a lei do retorno, ele era mesmo 'tapadinho e mentiroso' e disse tolamente que não tinha nada valioso em sua vida, apenas seus filhos.

— Então me dê uma das suas filhas.

— Eu só tenho filhos.

— Então me dê um deles!

— Todos meus filhos me ajudam! Só o Tine que estuda, mas ele...

— Tem até amanhã para me dar esse Tine então! Nem um dia a mais!

Um amigo meu sempre disse que o Carma era uma vadia e eu não tinha acreditado até meu pai chegar em casa e dizer que devia a um rico excêntrico e que se não pagasse sua dívida seríamos todos mortos! - Sim, ele aumentou, exagerou e fez drama, como típico dele - E então disse que esse tal esquisito rico me queria como pagamento.

Eu me senti naqueles dramas de mafioso que o pai deve rios de dinheiro e vende o filho no lugar, coisas assim, mas não era como se eu tivesse muitas escolhas, eu realmente gosto do meu pai apesar dos pesares e sabia que não podia acabar com a vida dele daquele jeito mesmo que ele estivesse acabando com a minha e eu ainda era um estudante universitário, veja só. O fato foi que com a ajuda do GPS porque óbvio, meu pai nem sabia como chegou ali, fui até a mansão aparentemente abandonada por fora, mas limpa e milimetricamente arrumada por dentro. Seu dono era um viciado em limpeza e organização e eu soube disso no exato momento em que atravessei a porta de entrada. O lugar era mesmo habitado.

Casamento arranjado com um vampiroOnde histórias criam vida. Descubra agora