Era por volta do meio-dia, os raios solares tocavam seu rosto, a brisa fresca dançava por seus fios mel tabaco e o aroma das flores misturado com o de terra recém mexida irritava seu olfato. Os olhos vermelhos de Johnny encaravam a lápide de granito branco e fitavam o nome gravado sobre ela. As lágrimas quentes rolavam por suas bochechas, mas ele estava em completo silêncio.
Seu corpo estava dormente, seus olhos inchados, suas mãos frias e o nó em sua garganta parecia coberto por pequenas pontas de cacos de vidro que rasgavam o tecido muscular. Aquele sentimento de culpa, angústia e descrença o afogavam a quarenta mil léguas submarinas.
Ele vestia seu paletó de linho preto com a lapela em cetim brilhante, a calça reta também preta e uma gravata borboleta verde água. Era seu smoking preferido, aquele levemente ajustado ao seu corpo — o smoking de seu casamento.
Johnny pegou seu smartphone, abriu o aplicativo de música e deu play em uma das preferidas de seu marido — esta que agora atravessava seu amago como uma espada afiada e cheia de espinhos.
Respirou com dificuldade devido ao nariz entupido — consequente de seu choro incessante — e seguiu a melodia, logo recitando aqueles versos que encaixavam tão bem com o que sentia.
“Nesta hora, neste lugar
Desperdícios, erros
Tanto tempo, tão tarde
Quem era eu para te fazer esperar?Apenas mais uma chance, apenas mais um suspiro
Caso reste apenas um
Porque você sabe
Que eu te amoEu te amei o tempo todo
E eu sinto sua falta
Estive tão longe por muito tempo
Eu continuo sonhando que você estará comigo
E você nunca irá embora”Johnny apenas sentia as lagrimas escaparem de seus olhos como um mar descontrolado em dia de tempestade, sua voz falhava e sua garganta doía como o inferno.
Ajoelhou-se, levou a mão esquerda até o granito gelado e correu seus dígitos por cima das letras prateadas que mostravam o nome de quem tanto amava.
“De joelhos, eu pedirei uma
Última chance para uma última dança
Porque com você, eu resistiria a
Todo o inferno para segurar sua mãoEu daria tudo
Eu daria tudo por nós
Dou qualquer coisa, mas eu não vou desistir
Porque você sabe
Que eu te amoEu te amei o tempo todo
E eu sinto sua falta
Estive tão longe por muito tempo
Eu continuo sonhando que você estará comigo
E você nunca irá embora”Johnny comprimiu os lábios, fechou os olhos com força e juntou as mãos como em uma oração.
— Eu sinto muito por não estar presente durante o almoço. – Sorriu fraco – Você deveria se desculpar por não ter vindo para o jantar.
Encarou o granito branco como se esperasse por uma resposta divertida e doce, daquelas que o marido costumava dar sempre que este dizia alguma gracinha.
O silêncio pesou novamente quando Far Away do Nickelback – a música que acabara de cantar – chegou ao fim, logo iniciando One More Light do Linkin Park e os espinhos em sua garganta voltaram.
— Por que me deixou uma playlist tão dolorosa, Yoonoh?
Johnny ficou parado de joelhos por mais algum tempo, analisando as flores que seus amigos e familiares haviam deixado mais cedo sobre o túmulo e concluiu que seu marido era realmente precioso e amado por todos os que o cercavam.
— Eu preciso ir agora. – Sussurrou
O acastanhado deixou o buquê de tulipas brancas sobre a lápide e sussurrou mais uma vez antes de se virar e partir.
“Eu sinto muito.”
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Eu sempre estarei ao seu lado
Hayran KurguCom o gosto amargo em sua boca e a dor em seu peito, Johnny deixava uma tulipa branca todos os dias para seu falecido marido. Estava amargamente arrependido por não estar presente nos últimos dias e agora desejava poder mudar as coisas. Como um pres...