Capítulo único

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Nos últimos dias uma agonia inquietante me afoga, minha ansiedade e meus sentidos me atacam aleatoriamente ao longo dos meus dias. É como se eu estivesse numa corda bamba a todo momento, mas não como um habilidoso equilibrista a ser aplaudido pela plateia, mas sim uma pessoa comum, despreparado, consumido por vertigem, em meio a um circo em chamas que não posso apagar daqui do alto. Apenas luto para não cair da corda e morrer no fogo, em vez disso, espero poder desacordar pela fumaça e não sentir o baque.

Ah, Peter, para, né! É demais pra um cara que só não tá conseguindo dar um fora no outro. Não é tão profundo assim, o mundo não gira em torno do seu umbigo, você não é tão especial.

Quem dera fosse fácil. Eu queria que fosse fácil. Mas nem tudo é preto no branco, ou azul no vermelho, ou preto no vermelho, ou preto e vermelho por cima de azul e vermelho debaixo de lençóis brancos e pretos. Quem dera fosse fácil assim.

Não é que eu queira dar um fora em Deadpool, mas...

Droga, isso não tá indo a lugar nenhum. Seguinte, olha aqui, tudo começou há aproximadamente dez meses, por volta de novembro. Um boato começou a se espalhar por Nova Iorque de que tinha um lunático mascarado matando pessoas por encomenda. E ah! Eu sou o Homem-Aranha, grande herói do povo, o espetacular, o inimigo do crime e blá blá blá, então óbvio que sobrou pra eu resolver antes que o Clarim virasse esse b.o pra minha fuça.

Foi mais fácil do que imaginei arrumar pistas sobre o cara, ele claramente não estava preocupado em esconder os rastros de onde passava. Quanto mais eu achava sobre ele, mais dúvidas tinha sobre sua natureza, e mais ainda eu tinha sobre a natureza de meu próprio objetivo.

Um rastro de sangue foi o que encontrei me levando diretamente a Wade Wilson; sangue de estupradores, pedófilos, agressores de mulheres, policiais corruptos — quem ele matava eram apenas aqueles de pior calibre, seja lá quem o contratava tinha os olhos afiados na escória.

Independente do que eu acho, assassinato é assassinato, não é assim que as coisas se resolvem, então comecei a ficar atento em Deadpool. Descobri o máximo que consegui sobre ele e seu passado, e cada informação parecia solta e não se encaixava direito. Ele é viúvo, sempre trabalhou com o que trabalha, embora em algum momento dos últimos 5 anos tenha se tornado uma espécie de mutante com poderes regenerativos e foi desfigurado no processo.

Quando a véspera de Natal chegou e com ela meus merecidos dias de folga, estava eu — na paz de 7 monges tibetanos — passeando pela rua com o solene objetivo de comprar um presente para tia May.

Eu definitivamente não deveria ter deixado para a última hora, mas fazer o quê? Sou um cara ocupado!

Optei por uma dessas lojas chiques de doces com prendinhas, que surpreendentemente estava vazia. O ambiente tocava uma música estranhamente familiar, mas decidi não prestar atenção. Acho que não conseguiria nem se quisesse, estava demasiado distraído quase desmaiando por conta dos preços; pra você ver como minha serenidade é facilmente abalável.

— Setenta dólares por um kit de pelúcia com caixa de chocolates? — murmurei indignado. — O que é isso? Uma White Friday?

Ouvi uma risada vindo de outra prateleira.

— Eu imagino que os italianos já usem "White Friday" para algo.

Nem me importei em olhar para o meliante antes de dizer:

— Se a Itália não vai ajudar a abaixar esses preços, ela e os italianos podem se ferrar.

— Na verdade, tá tudo mais barato do que no ano passado.

Corda bambaOnde histórias criam vida. Descubra agora