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A vontade de Miguel naquele momento era deixar tudo de lado e partir em busca de Silver. Não sabia onde ele estava ou como encontrá-lo, mas Robby estava reunindo evidências há anos e a maior dificuldade era a experiência e a sagacidade de seu alvo. Enquanto Robby tinha apenas 24 anos, Silver devia ter uns 300, era mestre em artes marciais, milionário e especialista em se esconder e se livrar de provas de quaisquer crimes que cometesse.

Como tinham se tornado aliados, o padre e o vampiro decidiram em conjunto quais seriam seus próximos passos. Miguel manteria seu trabalho na escola para não despertar suspeitas e tentaria conseguir mais informações, agora com um alvo específico em foco. Robby iria deixar seu emprego e dedicar esse tempo a descansar e repor suas energias, para ter as noites livres para investigação e qualquer coisa que exigisse o uso de suas habilidades vampíricas. Miguel havia convencido o outro a se mudar para seu apartamento, para que pudessem trabalhar juntos de forma mais eficiente, e essa havia sido a parte mais difícil. Antes do fim de seu interrogatório, o padre não entendia bem o comportamento dele, mas agora sabia que ele tinha motivos muito fortes para ter medo de confiar e que convencê-lo a morar com um estranho era uma tarefa hercúlea. Mas havia conseguido, como quase tudo a que se dedicava, e quando retornou ao apartamento àquela tarde, o vampiro já estava na porta aguardando por ele.

"O que você está fazendo aqui?" Miguel perguntou confuso ao vê-lo sentado no corredor. "Muito discreto, aposto que nenhum vizinho estranhou te ver sentado aí."

"Engraçado você, Diaz. Eu não posso entrar sozinho. Você tem que me deixar entrar."

"Você viu que eu deixei a chave aqui, né? Não é convite suficiente?"

"Não. Eu não faço as regras, ok? Infelizmente."

"Certo." Miguel pegou a chave das mãos frias de Robby e sentiu um leve arrepio. Abriu a porta e se afastou dela, fazendo um gesto de boas-vindas. "Pode entrar, a casa é sua."

Robby entrou e começou a observar tudo. As paredes eram de um tom agradável de verde e claramente não eram pintadas há muito tempo. Os móveis eram quase todos do mesmo tom escuro de carvalho, e pareciam confortáveis em sua simplicidade. Havia porta-retratos no aparador de onde a família feliz que Silver havia destruído sorria alegremente para Robby. Vê-los lhe causava sentimentos conflitantes; se sentia culpado por saber que morreram para atingi-lo, mas também se sentia injustiçado por ter sido abandonado e deixado de lado enquanto o pai construía uma família feliz com outras pessoas. Seu coração pesava pela cena de horror que havia visto naquela casa, mas também se apertava ao saber que Miguel havia crescido tendo quem o levasse para a escola, cantasse para ele dormir, fosse a reuniões com seus professores, organizasse encontros com seus amiguinhos. Não tinha crescido cuidando de adultos prestes a ter overdoses, cometendo infrações para pagar as contas, se preocupando se teria o que comer, dormindo no sofá enquanto a mãe levava estranhos para o quarto toda noite. Não era justo que Robby tivesse passado por tudo isso, nem era culpa de Miguel. Os dois teriam simplesmente que aprender a lidar um com o outro.

"Se você precisar usar o computador, ele fica aqui na sala e a senha é RCJ2015. Posso anotar pra você, se quiser." Robby negou com a cabeça. "Ok. Eu sei que você não precisa ir ao banheiro, mas imagino que goste de tomar banho e escovar os dentes. Então, vou deixar a primeira gaveta do armário do banheiro pra você. É aquela porta ali." Miguel disse apontando na direção do cômodo. "A cozinha fica aqui na frente e o quarto fica ao lado do banheiro. Sei que é pequeno, mas é só pra uma pessoa... Vamos ter que nos virar." Miguel disse meio sem jeito.

"Não, está ótimo. Na verdade, é melhor que qualquer lugar que morei antes." Robby disse de forma neutra e o olhar de surpresa e pena nos olhos do padre lhe deixou levemente irritado. Não era culpa dele, precisava lembrar.

"Você conseguiu o quadro que pedi para organizamos as informações?"

"Sim. E um mapa também. E roubei um quadro branco da escola, Deus me perdoe" Miguel disse fazendo o sinal da cruz e Robby apenas riu. "Não roubarás, Diaz!"

"Estava encostado pegando poeira no depósito..." Miguel disse envergonhado. "Enfim, tem um banheiro nos fundos que não tem janela. Nem pia. Na verdade, nem funciona. Mas é escuro, pode ser um bom lugar pra você dormir."

"Se você não se importar, prefiro dormir na sala. Vou arrumar um caixão hoje à noite."

"Use o quarto. Pro caso de aparecer alguma visita, nunca se sabe." Miguel disse pensando nos companheiros de igreja. Todo cuidado era pouco. "Você vai dormir durante a tarde mesmo, não vou te atrapalhar." Miguel podia ver a hesitação estampada no rosto jovem à sua frente. Enquanto não sentassem e conversassem sinceramente, não poderiam conviver bem. "Olha, podemos conversar?" Miguel disse se sentando no sofá, gesticulando para que o outro se sentasse também, e ele o fez, a contragosto.

"Me desculpa. Eu queria ter dito isso antes, mas... eu pensei muito nisso. Eu não me desculpei propriamente pelo que fiz" Miguel falou com a cabeça baixa. Se forçou a olhar para o outro e continuou "eu poderia dizer que foi só um mal entendido, mas isso não apagaria a dor e o medo que te causei. E se vamos mesmo trabalhar juntos, precisamos confiar um no outro."

"Você quer perdão ou confiança, Diaz?" Robby perguntou com firmeza. "Os dois." Sussurrou.

"Sinto muito. Sei que estava cego pela dor e pela vingança e achou que eu tinha matado sua família. Não posso te condenar por aquilo. Pelo menos você me ouviu quando contei a verdade, então eu perdoo você." Miguel ficou surpreso e sentiu um pouco da esperança retornar. "Mas não confio em você. Não confio em ninguém. Tudo que você quer é vingança, e se eu me tornar um obstáculo ou puder ser usado como moeda de troca pra que você atinja seus objetivos, você vai se desfazer de mim imediatamente." Miguel tentou interromper e demonstrar indignação, mas o vampiro não deixou. "Não. Não minta, nem pra mim e nem pra você mesmo. Enquanto eu for necessário, você vai ter um lugar pra mim e eu vou ter um aliado. É o suficiente."

"Eu... eu realmente me sinto mal pelo que eu fiz. Você pode não acreditar, mas..." Miguel lembrava de sua mãe acariciando seu rosto e dizendo que ele era um bom menino. Tinha vontade de vomitar ao pensar em quanto tinha se desviado da pessoa que fora um dia.

"Eu acredito. Como eu disse, eu perdoo você. Eu sempre procurei arrependimento nas minhas vítimas e nunca encontrei... mas eu vejo isso nos seus olhos agora, vejo sinceridade. Vai tomar banho e comer, eu vou sair e procurar aquele caixão. Até amanhã, padre. Não se esqueça de sair mais cedo. Não podemos arriscar que saibam que estamos vindo do mesmo lugar." Robby disse e saiu sem esperar resposta.

Robby voltou com o ataúde de madeira e, como Miguel ainda dormia no quarto, ligou o computador para tentar analisar as últimas notícias e procurar rastros de Terry Silver. Encontrou uma história antiga sobre Silver e Daniel LaRusso e reconheceu o sobrenome de Amanda. Precisava falar sobre isso com Miguel e, possivelmente, investigar e talvez visitar o marido da coordenadora. Se ele tivesse sido um aliado de Silver, talvez soubesse onde ele estaria neste momento. Se ele fosse uma vítima, talvez quisesse ajudar a encontrá-lo. De qualquer forma, era uma pista importante que devia ser seguida o mais rápido possível.

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Daniel-san vem aí xD

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