Realidade paralela

Prólogo

Ele estava encarando os papéis em cima da mesa, e apesar de parado e até parecer tranquilo, sua mente fervilhava como um vulcão que acabara de entrar em erupção. Os papéis em questão eram do divórcio, que ele mesmo pediu, depois de descobrir que a Vanessa tinha um caso há meses com um cara que conheceu em um app. Um dia ele chegou em casa mais cedo, e lá estavam eles na cama. Marcos já sabia dessa traição muito tempo, mas alguma coisa nele parecia fazer vista grossa. Vanessa já não o olhava mais com os mesmos olhos de admiração de quando casaram, e era nítido que ela tampouco nutria algum desejo sexual por ele. Moravam na mesma casa, dormiam na mesma cama, mas eles já não se amavam há muito tempo.

Marcos é um cara complicado, talvez porque a vida não tenha sido muito gentil com ele. Um cara introvertido, sem muitas habilidades sociais, foi se fechando em seu próprio medo e insegurança, e, apesar de viver no nosso mundo, ele criava o mundinho dele em sua mente e passava boa parte do tempo lá.

Ele conheceu Vanessa em um bar, quando ainda estava na faculdade e tinha amigos. Ela era novata, e ele já estava se formando. Apesar de mais nova, Vanessa sempre foi do tipo sem vergonha e extrovertida, falava com todo mundo, conhecia todo mundo... O total oposto dele, e o que ela viu nele ninguém vai saber, a não ser ela mesma, que foi quem tomou a iniciativa e o chamou para conversar. Semanas depois estavam namorando, e quando ela se formou, casaram. Um casal jovem, sem muitas experiências, que foram se descobrindo juntos. Marcos conseguiu um emprego em uma empresa mediana, com um salário mediano, querendo mais uma estabilidade na vida, enquanto Vanessa sempre mirou alto, querendo o melhor de tudo.

Talvez ele sempre soubesse que, um dia, ela iria pedir mais do que ele era capaz de oferecer, mas como quase tudo em sua vida, fez vista grossa e se deixou levar até essa situação. Ele não era o tipo de cara que tomava muitas atitudes. 

Agora ele estava sozinho, traído, em sua vida mesquinha de sempre, tomando coragem para assinar os papéis do divórcio, mesmo querendo, dentro do seu íntimo, continuar com Vanessa, apesar de toda situação. Seria mais fácil perdoar a traição dela e tentar mudar, mas ele sabia que não conseguiria; preferia ser covarde e sozinho a ter que sair de sua zona de conforto e tentar ser o que ele nunca tinha sido: um homem de poder e atitude.

O que ele faria, então, se não se sentia capaz de fazer nada?