Parte Um

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Viver de princípios era uma obsessão passageira de Jungkook. Vezes gostava de pensar em situações possivelmente sucessivas aquilo, ao que se dava naquele instante, ele acreditava que era uma boa explicação para ''porque estou fazendo isto?''.

Porque, exatamente, estou a ponto de invocar um demônio com meus primos mais novos?

Era exatamente assim que sua mente se movia. Precisava ser uma pergunta precisa e exótica; daquelas que não se ouve todo dia, sentia que era a única forma de despertar um mínimo indício de adrenalina e perigo. As palavras tinham poderes, tal como a principal afirmação que circulou sua mente seguidamente do silêncio perigoso: você não crê em Deus o suficiente para também supor a vivência do diabo.

Jungkook era alguém difícil, apesar de silenciosamente atento; e a bagunça de indagações em sua mente, que não encontravam um caminho fácil para sair por sua boca, era um exemplo disto. Pessoas perigosas, com toda a certeza, podem ser comparadas consigo, por olhos especialistas de alguém que já viu muito do mundo.

Mas a questão não era essa. Para chegar a resposta sua mente deu um giro para, pelo menos, três dias atrás. Preferiu lembrar com clareza sua mãe ao seu lado, longas horas de carro para chegar naquele buraco de moscas da qual Jungkook tanto odiava.

Ele nunca teve a vontade verdadeira de voltar, somente os seus sonhos mais odiados eram a quem sempre o traziam, como uma passagem fantasma e meramente memorável. Lembranças mau agouradas. E que se tornavam verdadeiramente mau desejadas após o que se deu.

O Jeon queria mesmo não ser tão egoísta e ranzinza, por isso acreditava que se cegava com a raiva que sentia por seu pai, o cara corpulento que em seus quarenta já perdia o fio do prelúdio para o futuro, na verdade Jungkook pensava que ele o tinha antecipado, caindo em tardes de bebedeira na varanda, e às noites no sofa. "Jungkook já é um homem, e jovem; tão forte, pode carregar o farto de seu velho pai", foi oque ele disse, e assim feito Jungkook e sua mãe não paravam em casa para poder viver o poço de mal cheiro e má vontade que ele tornou. Oque era bom, sua memoria se tornaria quase nula quando fosse visualizar o rosto suado e cabeludo do seu pai, procurando injetar a raiva em outro lugar.

Funcionava; ajudava a anular o sentimento explosivo de repulsa que o assombrava a cada passo que dava na pequena vila.

Era oque acreditava.

Aliás, devia ser, aquele imprestável levantou a mão para a sua mãe, a mulher que mais se doou para dois dos homens que mais lhe devia respeito. Por isso, então, voltou para o local vivo e dono das emoções mais expressivas de Jungkook.

Era uma justificativa fodida e inevitável, se Jungkook queria muda-la era preciso voltar para o passado e convencer a sua mãe jovem e ingênua de que aquele homem mais velho, experiente, charmoso ou a porra que a levou querer se casar com dezessete era uma sombra mal disfarçada de um homem comum e assustadoramente real. 

E que ter Jungkook fora um grande erro.

Isso apagava sua existência e o faria ser um ancestral inválido e sem futuro? Claro, mas se deliciava em saber que só existiria uma vez, era angustiante pensar em reencarnar no ciclo infernal que era a vida.

Mais um ponto; preferia então não acreditar em nada. Nilista, imperturbável -para alguns que consideravam anormal olhos vazios e expressões pouco objetivas-, e estranhamente atraente, por fora; claro. Essa última, era outro fato que Jungkook jogava a olhos cegos e ouvidos surdos. Ele sabia mais não queria acreditar.

Foi bom o rápido devaneio mas não o exclareceu como devia. 

Olhando ao seu redor, naquele círculo que concentrava um copo de cabeça para baixo e uma vela acesa como núcleo, percebeu que seus primos eram pessoas novas demais para não verem algo além da diversão e curiosidade em contatar uma provável força do além, poderosa e maligna. 

Máus Diabos | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora