Ephemeral • Paolla & Juliana

Flechazo

Era cedo, mas os raios de sol já marcavam presença entre as grandes cortinas brancas do quarto gelado de Paolla. O alarme de fundo fazia seu papel diário de não lhe permitir se atrasar, mas dessa vez, diferente das muitas anteriores, a loira não tardou a levantar da enorme cama. Com um pequeno suspiro, jogou o edredom para o lado vazio da cama e se pegou momentaneamente em inércia ao observar aquele lugar.

Seu último relacionamento tinha chegado ao fim meses atrás, mas agora teria que lidar com um trabalho no qual estaria diariamente em contato com ele. Era profissional, sabia que não iria permitir que isso lhe afetasse no local de trabalho, assim como sabia que esse seria o pensamento da outra parte. Foi um término amigável, o que não quer dizer que não doeu. Doeu, e muito. Mas raras são as coisas que não têm fim e ela já tinha aceitado e aprendido a entender, mesmo que a contragosto, esse fato.

Acabou saindo de seus devaneios ao perceber que seu alarme tocava pela segunda vez, o desligou e dirigiu-se a seu banheiro, precisava de um bom banho para começar o dia.

Teve certeza de que estava na temperatura que gostava e deu um passo deixando a água morna relaxar seus músculos, o vapor da água quente deixava o vidro do box embaçado, logo recebendo a ponta dos dedos de Paolla formando linhas desconexas sobre ele. Mesmo que lutasse por foco, era impossível não se distrair, continuava a desenhar por sobre o vidro enquanto pensava no trabalho que começaria, nas suas expectativas e seus medos.

20 minutos depois o chuveiro foi desligado, a toalha estava em volta do corpo esbelto que mesmo enrolado ainda deixava rastros de gotas da porta do banheiro até a frente do grande espelho no closet há alguns passos de distância. Alguns minutos depois, já vestida para sair, parou novamente a frente do espelho para passar o rímel, o rosto sem nenhuma maquiagem deixava suas pequenas sardas em evidência lhe dando um ar quase que angelical.

Se apressou ao perceber que se demorasse um pouco mais chegaria atrasada aquela primeira reunião, saiu rapidamente do quarto descendo as escadas quase correndo assustando Abgail que estava sentada a mesa da cozinha tomando algo que ela não conseguiu saber o que era.

- Bom dia, tia Biga! Tô quase atrasada, acho que demorei demais no banho. - disse se aproximando da mulher mais velha que tinha um sorriso no rosto e balançava a cabeça lentamente em negação.

- Sempre, Pah. - disse rindo levemente. - Acabei de fazer café, come algo antes de sair.

- Não dá, tia, vou comer lá pelo projac mesmo. - beijou rapidamente a bochecha da tia e se direcionou a saída sendo impedida de continuar pelo nada pequeno Marley. - Ei, garoto, me deixa passar. - disse fazendo um pequeno carinho no cachorro que insistia em tentar se apoiar na loira e iniciar uma brincadeira.

- Vem, Marley! - chamou Abigail abanando uma pequena bolinha azul e tendo a total atenção do grande cachorro ali presente que correu em sua direção. Deixa perfeita para que Paolla conseguisse entrar no carro e se dirigir para os estúdios da globo.

Do outro lado do Rio de Janeiro Juliana também se direcionava para o projac. Diferente da loira, estava tranquila e sem pressa. Havia acordado algumas horas atrás e estava pronta bem antes do horário previsto.

Sua rotina estava bem diferente após o tempo que ela e seu antigo parceiro deram no relacionamento, sendo discreta em relação a sua vida pessoal não permitiu que tal notícia chegasse a mídia, até mesmo pelo motivo de que naquele relacionamento não se tratava apenas dos dois, mas de um acréscimo de duas crianças naquela equação.

Seu antigo parceiro ainda dividia a mesma casa com ela, tudo parecia igual para o bem das crianças, mas o acordo estava feito e se nada mudasse em alguns meses deveriam ter coragem o suficiente para fazer o que ambos sabiam ser o certo, ambos sabiam que o ponto foi ultrapassado e não teria mais volta.