Mudando com a tragédia

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Elena Gilbert


A dor era imensa, constante e terrivelmente familiar, me lembro de ter sentido algo parecido quando meu primeiro cachorro morreu quando eu tinha apenas onze anos, foi difícil mas não se comparava a essa. Já se passaram dois meses e ela continua aqui, martelando em meu peito como um castigo do meu corpo, um jeito difícil do meu subconsciente se vingar por eu ter sobrevivido e eles não. Não me importo de sofrer, na verdade até me acostumei com essa dor, ela sempre está aqui, já faz parte de mim, então porque não abraça-lá? Um bom jeito de conviver com isso é bebendo e bem, isso eu aprendi muito bem, pela manhã, a tarde ou a noite, não importa a hora e sim a quantidade de comprimidos que irei tomar algumas horas depois


Olhei para as folhas em minha frente, não me concentraria hoje, na verdade eu estou sem concentração a dois meses, sessenta dias nesse martírio que se tornou a minha vida, mamãe sentiria vergonha se me visse nesse estado deplorável. A porta se abriu em um rompante, levantei a cabeça vendo uma loira parada perto à porta me olhando feio, ótimo, mais sermão


_Bom dia Caroline


_Não me venha com bom dia Caroline, depois desses meses todo você simplesmente decide vir ao trabalho e nem se da ao trabalho de ir até a minha sala? Fiquei sabendo pelos outros que a minha amiga finalmente saiu da toca

_Oh me perdoe, não sabia que aqui agora tinha que te dar satisfações

Caroline arregalou os olhos, parecia chocada mas logo seus olhos azuis voltaram ao normal, a loira ajustou a postura me encarando com firmeza

_Não é mais a mesma de antes

_Provavelmente não, todos mudam

_Você não mudou, esta agindo como se tivesse morrido também

_Talvez eu devesse- retruquei levando o copo de bourbon até os lábios tomando um grande gole, o álcool não fez tanto efeito em mim, não senti nada

_Está bebendo? A essa hora?

_No rótulo não diz nada sobre horário, só que não devemos dirigir bêbados, mas eu não sigo muito esse conselho- sorri sarcástica__ Até porque não precisa estar bêbado para sofrer um acidente e morrer não é mesmo

_Já chega disso Elena, nós vamos resolver essa situação- Caroline comprimiu os olhos em duas fendas e depois saiu da sala batendo a porta com força, respirei fundo, parece que não é só meu corpo que está me torturando, a vida também está


Olhei a papelada em minha frente e conclui que não conseguiria fazer mais nada hoje, sai do escritório com minha pasta e o casaco em mãos passei pelas pessoas com um sorriso no rosto, no fim era isso que elas queriam ver, a boa e feliz Elena sorrir como se seus pais não estivessem mortos, sai do prédio indo até meu carro estacionado no lugar de sempre e depois de destravar o mesmo, entrei e logo dei partida, meu apartamento não ficava tão longe e eu agradeço por isso, no momento estou morando em um apartamento que aluguei logo depois do acidente dos meus pais, antes eu morava com eles e Jeremy, já tinha planos de me mudar, a vida só adiantou um pouco as coisas. Tia Jenna constantemente me liga pedindo para que vá morar com ela e Jeremy em sua casa, quer dizer na casa dos meus pais, não acho que consiga entrar naquele lugar por um bom tempo, Jeremy me disse que todas a fotos e lembranças já foram encaixotadas mas não me sinto pronta ainda, não entro naquela casa a meses, a última vez foi quando estava saindo para o trabalho, como estava sem carro meu pai ficou de passar e me dar uma carona para casa, não chegamos ao nosso destino

Apenas amigos, ou nãoOnde histórias criam vida. Descubra agora