O lugar que não precisa de sol para ser feliz

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 O abafado som de gotas de chuva era a trilha sonora dos devaneios de um rapaz que apoiava sua cabeça na janela do carro, sentado no banco da frente. Os leves balanços do veículo faziam a testa do jovem bater suavemente, de forma que ele sequer reparava. O jovem Jimmy tinha quinze anos de idade, era um jovem comum em todos os sentidos. Sua estatura era média, e sua aparência não se destacava em nenhum aspecto. Seus cabelos castanhos lisos e despenteados caiam de forma embaralhada em seu rosto. E seus olhos escuros observavam algo além de sua visão, enquanto as árvores passavam rápido por seu caminho.

Ao lado de Jimmy estava sua mãe, Pennelope, a quem a maioria se referia como "Penny". Uma mulher pouco mais alta que seu filho, compartilhando os mesmos olhos claros e cabelos castanhos. Ela dirigia atenta à estrada, pois a neblina estava um pouco mais densa do que antes. Penny perdeu seu marido anos atrás, e tinha dificuldade de sustentar a si e a Jimmy em uma cidade grande. Por isso, decidiu investir suas economias em uma pequena casa em uma cidade afastada. Ela estava otimista, pois já havia arrumado um possível emprego como garçonete semanas atrás pelo telefone. Jimmy não estava tão feliz com a mudança, mas estava ciente de que era a melhor opção, dada a situação financeira da mãe.

Jimmy sentiu seus olhos pesados olhando para a janela, agora opaca, por conta da condensação. Seus devaneios se tornaram cada vez mais distantes, enquanto ele chegava mais próximo ao adormecer. Seus olhos se fecharam, e as leves batidas da cabeça se tornaram ainda menos evidentes. Sua mente flutuou na serenidade por alguns segundos. Até que um repentino solavanco, acompanhado de um alto barulho o acordaram assustado.

-Meu Deus, mãe. O que foi isso? -Jimmy questionou, com sua respiração acelerada.

Penny estava com os olhos arregalados, seu rosto próximo ao pára-brisas. Ela deu ré no carro por alguns instantes, revelando uma placa verde no canto da estrada.

-Quase perdemos a entrada. -Penny respondeu, aliviada.-Se passássemos dessa entrada, não teria como dar meia-volta até chegar na próxima cidade. Seria mais uma hora de viagem nessa neblina maldita.

-E cadê essa entrada, mãe? Eu só vejo a placa.

Jimmy olhou para os lados, mas não havia sinal de entrada alguma. Ele analisou atentamente a placa. Era uma grande placa verde, localizada ao lado direito da estrada. Em letras brancas, lia-se: "Endless Mist, o lugar que não precisa de sol para ser feliz." Acompanhado de uma pequena seta apontando para a direita. Jimmy reparou na seta apenas depois de olhar com muita atenção.

-Para a direita!? -Jimmy indicou para a mãe, ainda sem enxergar a entrada.

-Filho, não tem nada à direita. Vamos sair do carro e procurar melhor.

-Tem certeza que é aqui? Talvez seja mais para frente.

-O rapaz no telefone foi bem claro: "A entrada é ao lado da placa da cidade." -Penny replicou. -Ele disse que não tem nenhuma indicação na estrada de onde seria a cidade. Só essa placa.

-Olha aonde você escolheu morar. -Jimmy zombou, abrindo a porta do carro e pisando para fora do veículo.

Os dois procuraram por alguns segundos. Até que Jimmy encontrou uma estrada estreita de pedra. Pareceu estranho não a terem visto antes. Mas Jimmy percebeu que ela se escondia na neblina conforme se afastava. Assim que os dois entraram no carro, Penny deu partida, e seguiu o caminho oculto para Endless Mist.

O que se seguiu foram mais trinta minutos de silêncio, interrompidos periodicamente por breves comentários a respeito de peculiaridades encontradas na estrada. Penny viu uma bela formação de pássaros sobrevoando o carro, e Jimmy jurou ter visto um homem andando na floresta. Mas atribuiu a imagem a um lenhador, ou coisa do gênero.

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