Prólogo

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Repentina, uma luz crepitou. Depois, muitas mais. Parados estavam dez mil guerreiros. Homens e mulheres. Jovens e velhos. Suas mãos, ásperas ou tênues, portavam armas - espadas, lanças ou arcos. Nos olhares repousava o foco distante no horizonte. Em cada rosto iluminado pelas tochas era possível ver a serenidade e a austeridade. Elas eram plenas, reveladoras do momento e do destino. Os corpos, protegidos por peças metálicas e tecidos grossos, estavam prontos para o que viria. Nas suas cabeças era possível ver capacetes de metal escuro com diferentes adornos. Eram as honrarias de cada um daqueles guerreiros a Ukhur. O deus da proteção, dos metais e da guerra do povo a habitar aquelas terras.

O vento frio espreitou sorrateiro e incômodo pelos campos vastos. Ele vinha do norte, distante e esquecido, o local de grandes reinos extintos pelo tempo ou pela dor. Todos os combatentes do Reino Bárbaro puderam ver o espetáculo que se formava no horizonte, pois muitas nuvens negras ocupavam o céu do poente. Elas estavam tingidas pela tonalidade vermelha do sol que em breve iria se deitar atrás das montanhas distantes. No céu leste, as primeiras estrelas cintilavam, únicas, no manto da noite que estava quase formado. Em seguida, um brilho alaranjado se fez no horizonte. Era a lua em seu estado completo. Bela e resplandecente. Muito em breve, seu manto iria se estender por aquelas terras longínquas, deixando tudo parcamente iluminado. Nesse instante, a cordilheira enfim acolheu sol e o céu oeste, por um breve momento, em seus tons vermelhos e negros, ficou repleto de inimaginável beleza. A noite, depois, acolheu soberana aquele mundo.

Uma voz, então, anunciou a chegada do líder do exército. O rei que comandara o Reino Bárbaro por vinte longos e prósperos anos. O rei que exilara seu filho, o herdeiro do trono, para que ele pudesse se tornar uma esperança para aquele mundo, mais uma vez assolado por uma guerra de proporções gigantescas. O rei que não temia a morte, nem a dor. Um caminho em meio ao exército foi aberto. Todos olharam para o seu comandante, que caminhava resoluto para o fronte acompanhado por um guerreiro de outra terra, agora sem vida. O líder trajava a armadura real, cromada como o sol que acabara de se por. O elmo repousava ao seu lado envolto pelo braço esquerdo. Sua capa vermelha era tremulada pelo vento frio. O olhar do monarca detinha a determinação dos velhos tempos. Aqueles que estiveram perdidos no passado e que foram redescobertos pelas presenças de Brisrar e Arffek.

Ulthur, o rei bárbaro, chegou à primeira linha de combatentes e cessou o movimento. Ao seu lado parou o guerreiro que o acompanhava, Hylen.

- Tem certeza que deseja ficar? - a voz grossa do rei Ulthur saiu fria, depois de olhar para o homem que estava ao seu lado.

O paladino visou o rei.

- Absoluta. Por tudo o que você fez a mim, Von e Farneum, o meu lugar é aqui no campo de batalha junto a você e seu exército. - Hylen respondeu. Depois seu olhar regressou ao horizonte.

O rei meneou a cabeça em afirmativo.

- Toda a ajuda é bem-vinda, mas você sabe que hoje nesses campos a morte possivelmente estará esperando por nós, não sabe?

- É um presságio? - o paladino falou em meio a um sorriso - Se for, ele está repleto de pessimismo e honra, mas talvez ainda não tenha chegado o nosso tempo. O meu não chegou com a queda de Eldor. Talvez o nosso último momento não esteja nessas terras, talvez ele esteja apenas começando.

O rei riu de leve, mas sem desviar o olhar.

- É uma ótima forma de pensar no fim. Com esperança. - O sorriso desapareceu do rosto de Ulthur - Um dos tesouros da alma. Agora, no entanto, não é um momento para a esperança. Devemos esquecê-la em algum lugar na alma para que ela brilhe no momento exato. Em batalhas como essa que está para acontecer, devemos preencher a alma completamente com força e fúria. Nossos punhos e músculos devem estar repletos delas para que os nossos inimigos provem o gosto amargo do aço.

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⏰ Última atualização: Nov 18, 2015 ⏰

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Gaian - Luz e EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora