"And when she needs to shelter from reality
She takes a dip in my daydreams"- Arabella, Arctic Monkeys.Megan Altmayer
Os dias de chuva sempre me acalmam. Gosto de me sentir calma, até porque faz muito tempo que minha vida não é tranquila.
Gostaria de poder ficar o resto da vida embolada no meu edredom, porém, meu dia estava reservado para algo mais agitado. Literalmente.
A fachada com aspecto antigo da USP (Penitenciária dos Estados Unidos), Atlanta ainda me causava um arrepio na espinha. Imagine em dias de chuva. Eu sou psicóloga e trabalho com os prisioneiros que adotaram esse lugar como casa.
A mente humana sempre me fascinou. A mente de um criminoso me fascina, mas ao mesmo tempo me põe medo. Muito medo.
Apesar de o meu ambiente de trabalho ser um tanto quanto mórbido e a maioria das pessoas com quem eu conviva serem trogloditas, o salário é aceitável.
-Senhorita Megan. -Mackenzie me cumprimentou tocando no quepe.
-Mackenzie.
Ele era um dos únicos daquele inferno na terra que me transmitia certa calma. Parecia ser um homem bom, que cuidava de sua família.
Quando passamos a viver em um inferno, valorizamos tudo aquilo que possa nos trazer um pouquinho de paz.
Entrei no corredor que me levaria até minha sala, o salto de minha bota preta se chocava contra o piso fazendo barulho. Eu sentia algo diferente no ar, como se algo fosse me acontecer.
Ao entrar na sala, abri levemente as persianas e tirei o casaco. Assim que sentei em minha mesa, Natalie, a secretária dos psicólogos, entrou no cômodo.
-Bom dia, Altmayer- a mulher ruiva entrou na sala vestindo um vestido justo e preto, os óculos faziam sua expressão de cansaço ficar ainda mais evidente- essas são as fichas dos seus novos casos. Três no total- lançou um sorriso contido.
-Finalmente estão me passando trabalho! Não aguentava mais o louco do Pit e do Arthur-e era verdade, já que fazia pouco tempo que ganhara o emprego e por ser jovem sentia que poucos casos eram repassados para mim.
-Não quero parecer chata, mas um dia você vai se arrepender de ter dito isso e querer o Pit todinho pra você-ela piscou e soltou uma risada nasalada se dirigindo até a porta- Até mais.
Além de mim, haviam mais dois psicólogos, o John e o Mark. John era um velhusco que vivia mal humorado, ele estava no cargo há 15 anos. Mark era um jovem senhor com os seus 42 anos, e, em pouco tempo trabalhando nesse lugar, eu já enxergava ele com certo carinho e admiração. Sua paciência e capacidade de entender os criminosos eram admiráveis. Além do que, sempre era educado e prestativo com todos da penitenciária.
Na USP de Atlanta, a segurança é considerada média, ou seja, os casos que pegamos para tratar são os mais pesados do local.
Sentei em uma das poltronas da sala para ler as três fichas.
A primeira se tratava de um homem de cinquenta anos que havia estuprado mais de sete mulheres. A segunda era sobre um indivíduo na faixa dos trinta anos que matara o pai para ficar com a herança da família. Típico até demais.
A terceira ficha era a mais "pesada", cheia de papéis e observações. Era um caso de Mark que foi repassado para mim. Como assim? Mark nunca repassava nenhum caso.
O nome do suposto assassino era Harry Styles, na ficha dizia que seu comportamento era irônico e desrespeitoso, não queria ser ajudado e não falava sobre conflitos vividos no passado. Fechado.
Peguei o telefone da mesa e interfonei para Natalie:
-Por que Mark repassou um caso? E por que para mim?
-Megan, eu não sei dizer exatamente o porquê, só sei dizer que ele perdeu a cabeça com esse detento. E você sabe que isso jamais aconteceu com ele.
-Mas por que eu? Eu não tenho nem a metade da experiência que ele tem e ele resolve me repassar justo o caso que ele, pela primeira vez na história, não conseguiu levar adiante?! Você não percebe o quanto isso soa esquisito?- eu estava achando quilo extremamente estranho. Meu pulso estava acelerado. Eu estaria com medo?
-Megan Altmayer, você é jovem. Enxerga as coisas de aspectos diferentes e ele confia em você, deve ter sido isso- ela falou com um tom cansado- ou você acha que ele iria repassar para o velho sem paciência do John?
-É...quem sabe você tenha razão. Obrigada.
Voltei a olhar a ficha do tal Harry Styles. Ele estava há pouco tempo preso, e o motivo seria o bruto assassinato de Anne Hilton, sua prima. Mark havia colocado uma observação sobre traços psicóticos que Styles parecia apresentar. As páginas seguintes mostravam fotos e informações sobre o local do crime, a forma como Anne foi morta e sobre o passado do homem. Aquilo tudo estava me deixando enjoada, e tudo só piorou quando eu vi a foto dos dois juntos. Eu não sabia se lamentava pelo fato de o tal Harry Styles ser completamente lindo, ou pela menina assassinada ter algumas características em comum comigo. Corri para o banheiro da sala e vomitei.
A forma como um menino tão jovem havia estragado sua vida e posto fim na de uma menina inocente.
É, talvez eu estivesse com medo.A manhã de consultas começou com Pit, como sempre. Aquele homem, em minha concepção, era um caso perdido. Ele estava enlouquecendo dentro daquela prisão, seu tratamento tinha de ter a participação de um psiquiatra para receitar remédios. Depois dele, o estuprador, um dos novos casos, entrou na sala. Arrependimento não se fazia presente no indivíduo. Ele parecia ser realmente doente.
Depois das duas primeiras consultas eu estava me preparando para ir almoçar, quando duas figuras são introduzidas na minha sala por Natalie.
-O advogado e primo do Styles- a ruiva disse e saiu da sala.
-Doutora Altmayer, meu nome é Richard Collins, advogado da família Hilton, e esse é Ian Hilton, primo de Harry Styles- o advogado me cumprimentou com um aperto de mão, enquanto seu cliente beijou-me a mão. Aquilo me fez tremer.
-Prazer, Doutora- disse Ian Hilton.
Ele era alto, tinha os cabelos negros e a pele alva, os olhos eram extremamente azuis e o sorriso, lançado a mim, mostrava dentes perfeitamente alinhados e brancos. O que era aquilo?
-Viemos aqui conversar sobre Harry Styles, você já deve ter sido informada- Richard prosseguiu e eu balancei a cabeça, ainda sentindo minha mão formigar com o toque dos lábios de Ian- Ele tem tido alguns problemas com o psicólogo Mark, por isso todos decidimos mudar de profissional. Mark indicou você, apesar de perceber que parece muito inexperiente- ele levantou uma sobrancelha.
-Bem, e-eu...-sentia a voz falhar. Não acreditava no que estava acontecendo. Além de me sentir constrangida com os olhos atentos de Ian e com sua atitude primeira, eu estava sendo analisada de forma crítica por um advogado.
-Eu acho que se Mark, um renomado psicólogo daqui, deixou Megan encarregada do caso de meu primo, ele sabe o que está fazendo- me sorriu e olhou confiante para Richard.
-Bem, veremos se ele tem algum avanço sob sua responsabilidade, e então poderemos discutir esse assunto- Richard finalizou- A família Hilton e a família Styles só pedem para ter cuidado com o tratamento dado a Harry, ele teve alguns problemas familiares que são considerados grandes feridas, vá com calma ou então seu trabalho não terá efeito nenhum. E lembre-se que o objetivo é ajudá-lo a sair daqui.
-Senhor Collins- me ouvi dizer com prontidão- meu objetivo não é fazê-lo sair daqui, e sim entendê-lo, não posso garantir nada a não ser que ele fale comigo. Fora isso, não posso interferir em nada- disse firme e o advogado me olhou duro.
-Ela está certa, Richard. Apesar de sabermos que meu primo é uma boa pessoa- ele olhou pesaroso parecendo considerar o que havia dito- quero acreditar que ele continua sendo uma boa pessoa- e então olhou para mim e depois suspirou- mesmo assim, obrigada pela paciência e educação de ter nos recebido.
-Não há de quê, Senhor Hilton.
E então os dois saíram da sala. Minha cabeça estava a mil. Aquele advogado acha que pode manipular uma psicóloga? E por que diabos a genética dessa família parece ser espetacular? Mergulhada em meus devaneios, levei um susto ao perceber que Ian Hilton metera a cabeça pra dentro da sala.
-Ahn...gostaria de se juntar a nós para o almoço, senhorita Altmayer?- ele perguntou mordendo a bochecha. Eu queria muito ir com ele, ficar as poucas horas que eu tinha livre para admirar sua beleza.
-Hm...eu acho melhor não, senhor Hilton. Alguém pode achar que estou deixando de ser imparcial.
-É, você está certa- disse sério-Tenha um bom dia, senhorita Altmayer- lançou um sorriso fechado.As horas do almoço até as últimas horas que antecediam a minha primeira consulta com Harry Styles se arrastaram vagarosamente. Eu estava ansiosa, nervosa e curiosa.
Estava olhando pela janela o campo gramado da frente da penitenciária, tentando me acalmar, quando ouvi a porta se abrindo rapidamente, o que fez com que eu virasse imediatamente para olhar o que estava acontecendo.
Dois guardas arrastavam o indivíduo, algemado, para dentro da sala. Harry Styles estava cabisbaixo, os cabelos castanhos, que agora estavam maiores do que na na fotografia, cobriam-lhe a fronte. O uniforme laranja parecia ser tamanhos maiores que o seu. Depois de ser empurrado e jogado na poltrona que lhe fora designada no consultório, os dois guardas se retiraram nos deixando a sós.
À medida que ele levantava, lentamente, a cabeça em minha direção minha expectativa aumentava. Percebia que seu olhar analisador passava desde minhas botas pretas, minha calça jeans escura e blusa roxa que o jaleco branco deixava aparecer. Quando seu rosto estava todo a mostra (tirando as partes que o cabelo cobria), pude ver seus olhos verdes profundos. Um arrepio percorreu meu corpo e eu mordi meu lábio.
-Erm... Olá- eu disse incerta ainda perto da janela. Um sorriso de lado meio safado se estendeu preguiçosamente em seus lábios. Entrelacei minhas mãos, não podia perder o controle.
-Está nervosa, doutora?- ele falou devagar e arrastado, sem tirar o sorrisinho dos lábios. Ajeitando alguns fios soltos do rabo de cavalo para trás da orelha, respondi:
-Nem um pouco- a voz arranhava minha garganta.
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ALTMAYER // h.s
FanfictionResponsável por tirar a vida de Anne Hilton e a paz de uma família, o jovem Harry Styles vai parar atrás das grades. Tudo a sua volta parece desmoronar, o inferno tomando conta de sua vida e a indiferença prevalecendo em seu ser. O que a Penitenciár...