Dezessete anos anos

27 0 0
                                    

Debaixo do pé de manga, no alto do morro, é possível ver distante o centro da cidade com sua pracinha movimentada de passantes, namoricos e beatas que seguem à missa.

Os dois garotos de treze anos gozam do caloroso fim de tarde, depois da escola, trepando o pé de manga e se esbaldando do fruto predileto. Estão lambuzados da polpa da fruta madura e recém-colhida. Você já beijou?; a pergunta sai dos lábios de um para os ouvidos do outro, que estão descalços e encardidos da terra vermelha. Eu não, e você?; a manga é dilacerada pelos dentes virgens.

O vento forte não dá mais graça para empinar pipa. Não faz sentido fazer outra coisa que chupar o fruto junto a companhia um do outro enquanto jogam conversa fora.Como deve ser?; pergunta um. A curiosidade é o álibi da juventude, pena que só se descobre isso depois de adulto. Sei lá, deve ser como chupar manga coquinho. Dá uma mordida, chupa a polpa e coloca um pouco a língua lá dentro do buraquinho pra sentir o caroço... Uma boa tese, que só é possível saber da sua concretude depois de provada na pratica. Será?; no conceito do outro, deve ser.

De tanto sugar o caldo das entranhas da manga coquinho, junto com fiapos e pedaços de casca, os lábios dos dois garotos chegam formigar. Eles sorriem timidamente, quando o silêncio invade suas línguas.

É possível ouvir o som das folhas da copa das árvores contra o vento forte que anuncia o fim da tarde. Ninguém por perto. Uma manga madura cai do pé causando um estalo ao se chocar contra as raízes expostas da mangueira que quebra o silêncio dos dois como se estivessem prestes a cometer algum ato criminoso. Com olhares cruzados, a proximidade dos dois corpos intocados diminui.

Perto deles uma rajada levanta um moinho de vento. Ninguém, que possa testemunhar qualquer delito, está caminhando pela estrada de terra. De longe, os moradores ocupados com sua vidinha de interior são vistos na cidade.

De tão próximos, os lábios lambuzados da polpa da manga se encontraram, os pêlos arrepiaram e a inocência dá lugar aos novos questionamentos. Uma pausa no ato. Começam acreditar que fizeram algo errado. O que cada um sente não tem coragem de saltar da mente para a boca.

Não falaram mais nada. As seis badaladas do sino da igreja central anunciam o fim da tarde para eles, e cada um toma seu rumo. Nos dias seguintes apenas um volta em busca do gosto da fruta mordida.

Debaixo do pé de manga deram o primeiro beijo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 30, 2015 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Debaixo do pé de manga deram o primeiro beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora