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Bangkok, Tailândia

Os raios de sol bateram forte contra as cortinas do meu quarto. O calor gostoso de uma manhã tailandesa depois de uma noite fria.

Eu amo essa sensação. A sensação de aconchego.

Olhei para os lados um pouco lento por causa do sono. Não lembrava que horas havia dormido na noite passada. Lembro apenas que chegara muito tarde do trabalho. Me revirei na cama, ainda exausto, porém precisava levantar de qualquer forma.

É cansativo. É sempre cansativo. Meus dias são terrivelmente lotados e mal tenho tempo para respirar. Muitos papéis, documentos, licitações, orçamentos e, pasmem, meu salário não equivale a toda dor de cabeça que tenho.

-Vegas? -chamei meu marido, mas não houve retorno. Provavelmente, ele não está mais em casa. Ele nunca está.

Com o tempo, você percebe que a vida não é um conto de fadas; que o seu casamento não vai ser só flores. Na verdade, raramente será. Pelo ou menos, o meu não é.

Na cozinha, havia uma xícara de café já morno e um bilhete que dizia: "Estou atrasado, por isso não te esperei acordar. Tenha um bom dia. Atenciosamente, P'Vegas."

Bufei desacreditado. Faziam quase quatro dias que não nos falávamos direito. Eu lembro de vê-lo deitar ao meu lado quando chegara, mas eu estava desmaiando de sono. Não trocávamos mensagens nem ligações e sempre o fazíamos era apenas para coisas como: "precisa de algo para o jantar?", "vou passar no mercado, quer algo?" ou "não me espere para dormir, vou fazer hora extra". Estávamos casados há três anos e nos últimos meses, parecíamos completos estranhos.

Como se não nos... amássemos. Como se ele não me amasse.

Mas eu amo o meu marido. Amo muito.

A verdade que talvez eu não queira aceitar é que Vegas é o problema. Talvez ele não me veja do mesmo jeito de anos atrás. Talvez eu não seja bom o bastante para fazê-lo feliz.

Tomei o café a contragosto e segui direto para o trabalho.

🤍

-Você parece mal. Passou todo o expediente com essa cara. -Porsche colocou os dois braços fininhos encima da minha mesa e deu aquele olhar sugestivo que apenas ele consegue fazer.

-Eu estou bem. Muito bem, por sinal.

Eu não estava bem.

-Ele parece bem, amor? -meu colega chamou pelo esposo que digitava algo no computador. Ele negou. -Kinn também acha que não. Vamos! Conte o que está acontecendo.

O que está acontecendo é que meu marido não me atende, não responde mensagem alguma, não me procura nem parece interessado em saber como eu estou, respondi mentalmente, mas tudo o que saiu da minha boca foi: deixe de loucuras. Meu amigo deu de ombros.

-Ainda acho que está acontecendo algo e você não quer nos contar.

-E eu ainda acho que você está paranoico demais. -eu disse, parecendo convicto na minha resposta.

-É o Vegas, não é?

Dei um olhar desesperado para ele. Era tão evidente assim? Era evidente meu desassossego? O meu surto interno por querer o mínimo de atenção do meu próprio marido? Não consegui formular uma resposta correta para meu colega de trabalho.

-Para de encher o saco dele, amor. -Kinn o repreendeu -Pete só está cansado.

Porsche tirou suas mãozinhas da mesa e arrumou o terno branco. Suspirei aliviado por finalmente os questionamentos sinuosos terem parado e meu melhor amigo ter saído da minha cola.

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