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Bangkok, Tailândia

Não vi Vegas sair porque sai primeiro. Na verdade, fiquei a noite toda na sala e, quando o relógio apontou cinco horas, eu peguei meu casaco rumo ao trabalho.

Porsche me comprou um copo de café na padaria em frente a empresa. Nenhum dos meus dois melhores amigos perguntaram o porquê de eu estar com a mesma roupa do dia anterior e olheiras profundas, além de não parar de chorar um segundo se quer, ainda que baixinho. Tocava nos meus lábios o tempo todo imaginando se eles haviam parado de ser macios como meu marido sempre disse que eram.

No fim das contas, era apenas um saudade avassaladora do antigo Vegas. O que me levava para piqueniques mesmo atolado de serviço, comprava sorvete de chocolate embora odiasse, via filmes comigo nas tardes de domingo, aquele que se esforçava ao máximo para não dar respostas afiadas para as perguntas indelicadas da minha mãe.

Havia se tornado exaustivo amar, lutar e querer que desse certo. Me esforcei tanto para ser o companheiro perfeito que eu esquecera de amar a mim mesmo.

Quando cheguei em casa outra vez, dei um longo suspiro. Era uma quinta e Vegas faria hora extra. Mesmo extremamente cansado, lavei as roupas, limpei a casa, fiz o jantar e tomei um longo banho. Não era porque não parecíamos mais um casal que eu largaria tudo de mão.

-Boa noite. -ele cumprimentou assim que passou pela porta depois de quase duas horas que eu chegara. Largou a pasta encima da mesa e jogou os cabelos para trás com os dedos. Eu organizava algumas roupas para doação na sala de estar.

-Oi.

Não prestei mais atenção nele. Estava perdido demais em meus pensamentos deprimentes que o silêncio que pairava entre nós já não me incomodava mais. Quando dissera "sim" para ele, sabia que seria difícil, mas tão que fosse tanto.

O amor é amigo da dor. Íntimo. E, pensando bem, o amor me odeia.

O único barulho que se ouvia na casa era dos pratos e copos sendo lavados e organizados depois de um jantar silencioso. Eu precisava me acostumar com isso. Esse era o nosso novo "nós". Meus movimentos eram carregados de dor. Tornou-se nítida a minha infelicidade. Nossos momentos seguidos do expediente eram sempre alegres agora pareciam monótonos. Doía porque eu ainda o amava do mesmo jeito, mas não sentia reciprocidade.

-Você devia alugar um apartamento.

Foi quase imperceptível de tão baixo, mas eu escutei cada palavra e elas mais pareceram pedras no meu coração, machucando-o repetidas vezes.

-Como é? -me virei para observá-lo quase deixando uma caçarola cair. Nós nos olhamos por longos segundos até sair alguma frase da boca do meu marido.

-Você já estava pensando nisso, Pete. Vi o jornal aberto hoje cedo na parte dos aluguéis.

-Não acredito que está me mandando ir embora de casa.

-Você parece infeliz.

-Está me expulsando por causa de minha suposta infelicidade? -perguntei irônico.

Meu marido chegou mais perto. A única coisa que eu pensava além de gritar, era chorar.

-Pete, você não entende. É o melhor para você.

-É o melhor para você! -o interrompi. -É você que quer destruir o nosso casamento.

Não sei se parecia aliviado ou terrivelmente mais doente por ouvir todas aquelas palavras que eu adiava por muito tempo ouvir. Eu tinha uma leve esperança de que eram apenas loucuras minhas, porém era tudo verdade. Nós não nos falamos mais. Nós não gritamos um com o outro nem nos ofendemos. Vegas apenas respirou fundo e permaneceu calado.

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