Me desculpe

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POV Kim

As pessoas costumam pensar que a pior coisa que pode acontecer em nossa vida é morte, esse é um ledo engano, a morte por pior que seja o seu método ou a dor excruciante nos seus momentos finais não é nem de longe a pior das tragédias do homem; o arrependimento por sua é uma tortura lenta, gradual e aplicada pelo pior dos carrascos, nós mesmos, em nossa consciência.

Eu sempre soube o que era esperado de mim, o legado de uma família como a Theerapanyakun é difícil de se esquecer, não somos normais, em dias bons parecemos humanos, mas dentro de nós, em nossas almas, somos aberrações bem articuladas. Foi com essa ideologia que nosso pai nos criou, e mesmo não sendo bonita, sempre fora honesta.

Khun aprendeu a dissimular antes mesmo de falar, a criatura louca da família Theerapanyakun, não era de fato insano, mas sim o melhor marionetista da Tailândia, afirmando seu poder não pelo caos e a desordem como faz muitos pensarem, mas sim ao manobrar cada um dentro do que poderíamos chamar de seu grande shown, sua demência pode até ter enganado do grande Korn, mas em seus olhos é impossível negar a veia traiçoeira.

Kinn nunca foi uma criança, mas sim um excelente soldado, suas tarefas feitas com exímia perfeição, a lealdade pela família como a de um cachorro, não foi difícil para nosso pai escolhe-lo como sucessor, Anakinn sempre foi um completo maníaco por controle em todos os aspectos de sua vida, mesmo que Tankhun não fosse como é, Kinn sempre foi o equilíbrio entre nós, o mais parecido com nossa mãe; a relação com Porsche tem o feito mais flexível, porém o sangue ainda é Theerapanyakun.

"Você é igualzinho ao papai" foi o que Khun me disse uma vez em meio a um jantar em família e meu pai não me olhou exatamente com orgulho, mas sim como algo que se assemelhava a uma ameaça. Até na máfia existe uma ovelha negra.

Nunca fui dissimulado ou um cão leal como meus irmãos, eu aceitei a máfia na minha vida e no meu sangue, mas isso não significava que eu viveria por suas regras, mas sim ela que existiria para meus interesses. Amo minha família, mas valorizo minha liberdade.

Criar Wik não foi apenas um disfarce, uma pessoa pública fora de qualquer suspeita, mas sim um escape de toda intensidade que o peso do meu nome trás, Wik me permiti relaxar, aproveitar de uma pseu-normalidade, sorrir não é uma ato que me permito muitas vezes, mas Wik tem esse prazer. Mas por mais bela que seja uma mentira ainda é uma mentira.

Proteger os meus mesmo distante sempre foi uma prioridade, quando ouvi sobre Porsche o guarda costas sem referências minha curiosidade foi instigada, a forma como meu pai reagiu a minhas indagações também foi um fato curioso, e se existe uma coisa verdadeira sobre a máfia é que sempre encontramos um meio para atingir nossos objetivos.

Meu direito de nascença me deu tudo, acesso e meios para investigar Porsche, e Wik me possibilitou entrar na vida dele de forma neutra e sem levantar suspeitas. Saber que Porsché ou melhor Chay era um fã do meu trabalho foi fácil, ele tinha aparecido num show e era um menino doce e ingênuo.

Tudo saiu como planejado, ele falou e me ofereceu tudo que pedi, informações, acesso a sua casa e até mesmo suas emoções. Chay é o completo oposto de mim, é puro em todos os sentidos da palavra, tem uma meiguice juvenil que nunca tinha visto, os olhos de cervo sempre brilhavam em minha direção, seu entusiasmo por música era admirável e conseguia ver futuro para ele nessa carreira, mesmo novo Chay é esforçado e sua letra tinha sentimento, o amor fraterno por Porsche era algo muito bonito e doce. Em meu mundo pessoas como ele não existem e foi refrescante estar com ele.

No entanto me envolvi demais, comecei a gostar de sua presença, era um alívio estar com uma pessoa como ele, sem interesse no meu nome ou fama, ele me olhava como eu sempre quis ser visto por alguém, mas era errado ele era jovem demais, inocente, eu provavelmente sou o seu primeiro amor, a vida para ele está apenas começando, nada do que vinha comigo era bom, e mesmo tendo sentimentos por ele, até mesmo eu tenho princípios e preciso reconhecer que ele merece mais do que todo drama da máfia.

O sinal de alerta aconteceu antes que eu pudesse me preparar, ele foi sequestrado por Tawan ex de Kinn na minha frente, e nunca me senti tão impotente quanto diante a possibilidade que algum mal pudesse acontecer meu garoto.

Agora olhando para ele enquanto descansa tenho certeza que tenho me afastar dele, provavelmente a guerra entre a primeira e segunda família se intensificara e não posso fazer dele um alvo maior, uma coisa é ser o cunhado de Kinn, outra era estar envolvido comigo, não quero que o vejam como Porsche, um ponto fraco ou arma para ser usado contra mim. Eu nunca pensei que possuiria algo tão singelo quanto ele em minha, principalmente porque eu não mereço, mas aqui esta ele descansando na cama do quarto de hóspedes, sereno, sem fazer ideia da maldade que habita no mundo.

"Eu sinto muito ter te arrastado para minha vida, nada me trará mais arrependimento do que ter te enganado, e sei não estou sendo justo com você, mas a vida não é feita de decisões justas, mas sim das que parecem melhores" penso comigo enquanto largo o copo de whisky na mesinha de cabeceira e começo a sair do quarto "Me desculpe pelo que vou fazer, é pelo seu bem".

Me desculpeOnde histórias criam vida. Descubra agora