STAR [Xiaoether]

ATO 3

No dia seguinte, assim que Xiao abriu os olhos e saltou para fora da sua própria cama, a primeira coisa que fez foi se trocar e em seguida, fazer suas necessidades. Ele correu para fora do banheiro após terminar de escovar os dentes, descendo até o primeiro andar do seu apartamento e adentrou com rapidez na cozinha. Não tardou em tomar seu café da manhã com a mesma velocidade em que fazia as coisas, tampouco se preocupando com uma futura tosse ao consumir os alimentos de maneira afoita. Assim que terminou, jogou seu corpo como um saco de batatas na direção do sofá, sacando seu celular da cintura e, em sequência, abriu o aplicativo de mensagens.

O motivo por trás de toda essa ansiedade tinha um nome: Lisa.

E Kazuha e o seu namorado irritante, Venti. A situação que ocorreu na loja de derivados chegou no ouvido do bardo devido o namorado fofoqueiro. 

Venti sentou-se com Xiao e desabafou sobre tudo o que pensava sobre o que havia acontecido e o que poderia acontecer, caso Xiao continuasse a ter um contato com Star, a filha de Aether. E também reafirmou seu argumento sobre nunca mentir para uma criança, dando umas broncas no amigo empresário por ter feito exatamente o contrário que pediu. Kazuha apenas ficou de longe, filmando e achando graça da cena. Venti e Xiao realmente tinham se tornado melhores amigos e grandes irmãos de consideração.

Naquele momento também rolou muitos conselhos de Venti para Xiao, sobre o que o rapaz deveria fazer. Não havia muitas opções. Então, analisaram juntos e chegaram a conclusão que o certo era conversar com Lisa, como a mulher havia pedido. Talvez ela até pudesse orientá-lo melhor nessa situação já que, possivelmente, Lisa teria alguma conexão familiar com Star.

Kazuha apostou com Venti que Lisa seria a mãe de Star.

Venti apostou que não, a mãe de Star deveria ser outra mulher. Não tinha chances de Lisa e Aether terem feito… aquilo. Era estranho pensar nisso e nessa hipótese.

Xiao não apostou, achou desnecessário a atitude dos dois amigos malucos. Quis tapeá-los por isso. E mesmo se a Lisa fosse, o que que tem? Ele tava nem aí, não se importava com isso. Cortou todas as relações que tinha com Aether e não ligava para o que ele fazia.

Xiao só voltou a pensar nele por causa de Star, apenas isso. O que não significava uma recaída já que a última vez que o encontrou foi na galeria de artes, e isso já fazia muito tempo.

Com isso, voltamos para a situação atual, onde o Yaskha está deitado no sofá e com o celular em mãos. Ele havia acabado de mandar uma mensagem para Lisa que foi respondida em questão de segundos.

Lisa: me encontre no coffe bear's daqui a vinte minutos :)

Foi o suficiente para que ele saltasse outra vez, pulando de alegria. 

Sua felicidade o assustou, mas também, não foi um choque completo. Ele esperava por isso. Com a Lisa, se desculparia facilmente com Star e com a ajuda da própria, poderia explicar com cautela o quão estranho é se aproximar dela, por conta do seu passado com Aether.

Ele não queria viver seu passado de novo. Gostaria de viver o presente, sem nenhuma assombração que lhe tirasse o sono a noite.

Os vinte minutos se passaram e lá encontrava-se ambos, Lisa e Xiao, sentados em uma mesa de uma cafeteria popular da cidade, como se fossem bons amigos de anos. 

Xiao inflou as bochechas, segurando todo o ar com seus pulmões e, em sequência, soltou-os. Suspirou e sorriu brevemente, dando início a pauta que gostaria de discutir com Lisa.

"Como está a Star?" Foi a primeira coisa que perguntou.

Lisa riu, cobrindo a boca do mesmo jeito que fazia antigamente. Tirou uma mecha de cabelo da frente do rosto, colocando atrás da orelha e tombou a cabeça.

"Eu pensei que não viria."

"É, mas a preocupação falou mais alto."

"Se sentiu mal pela Star?"

"Confesso que fiquei com peso na consciência…" encolheu os ombros.

"Pelo visto, ela não foi a única que sentiu uma conexão de imediato com você, então." Lisa afirmou, apoiando seus cotovelos na mesa. Sorriu malicioso para Xiao. "Pensei que iria quebrar o coração dela, sabe? Porque ela é a filha daquele que te machucou profundamente."

"Lisa… uh, não estou aqui pra falar sobre isso. Ela não tem culpa de nada."

"Então vai finalmente viver o futuro e esquecer o passado?"

A pergunta deixou Xiao sem respostas. Quer dizer, ele queria isso. Mas e se… não fosse o momento certo de dizer a resposta em voz alta e de bom tom?

Lisa riu outra vez, contente por deixar o rapaz em alerta e acanhado com o que disse. Ergueu as mãos para cima e abanou a cabeça.

"Relaxa. Vamos nos conhecer de novo, pode ser? Me diga o que está fazendo agora, com o que está trabalhando, onde mora e essas coisas… até o horário do almoço, vou ser sua melhor amiga. Conte-me tudo e não esconda-me nada!" Gargalhou.

Xiao sinalizou um "sim" tímido.

Conversa vem, conversa vai. Lisa realmente havia o tratado como uma melhor amiga. Contou o que fizera, do que estava trabalhando e fofocou um pouco sobre sua vizinhança. Xiao fez o mesmo. Contou até mesmo onde tinha fechado seus dois braços na tatuagem e o lugar onde mais doeu para colocar piercing, sem esconder que nesse meio tempo, suas ações impulsivas eram para esquecer e superar Aether. 

Revelou também que apesar de tudo, ainda guardava em uma pequena caixinha os "12 Motivos" que Aether havia lhe dado, pois isso realmente o ajudou a superar uma parte dos seus problemas psicológicos, deixando Lisa histérica. Ela gritou e bateu palmas, chocada com a informação.

E assim, nenhum dos dois viu a hora passar. Foi o alarme no celular da Lisa que anunciou o fim daquele encontro.

Como um bom e nobre cavaleiro, Xiao acompanhou a mais velha até o apartamento da própria, deixando-a na porta. Porém, antes mesmo de ir ou se despedir, Lisa segurou a barra da sua camisa e com um sorriso gentil, começou a dizer:

"Obrigado pelo nosso encontro, foi muito maduro da sua parte, Xiao."

"Eu quem agradeço, Lisa. Você é uma pessoa incrível."

"Tão incrível que imagino que desviei do assunto que você queria tratar comigo, não é?"

Xiao franziu o cenho e deixou a cabeça cair pro lado, visivelmente confuso.

"Desculpe, o quê?"

"A Star não tem mãe."

"Oi?"

"Ela nasceu de uma barriga de aluguel."

"O quê?!"

"Então não tenha medo de se aproximar dela, Xiao. Star é uma menina cheia de luz. Muito divertida e simpática também. Ela não é o Aether, ela é a Star. Acredito que vocês seriam grandes amigos."  

E assim, ela acenou e entrou dentro do apartamento, deixando um Xiao totalmente desnorteado para trás.