Não vou mentir, não esperava que você me amasse.
Amor para mim sempre foi uma incógnita, e já deixei isso mais do que claro. Foi sua escolha insistir numa paixão que não tinha esperança e que, no final, nem uma paixão chegou a ser, creio eu. Ouvi dizer de bocas (nenhuma delas era a sua) que você se dizia apaixonada por mim, ou ao menos cedia um pouco de seu coração para mim, mas eu nunca pude retribuir um amor que mal foi me dado. Sinto muito por isso, mas sinto mais por mim, que mais uma vez não pude experienciar o carinho e o afeto verdadeiro. Não pude amar, ou algo perto disso, porque convenhamos que adolescente nenhum sabe o que o amor pode significar de maneira tão ampla e significativa a partir do momento que implica alguém além de si próprio, e eu me incluo nisso, não saberia te amar, e não lhe jogaria no mar para se afogar comigo.
Entendo que não saiba nadar caso nos afogássemos, mas eu te levantaria comigo, e te deixaria respirar o tanto necessário. Mas não era para ser, você é do mundo, já eu, tenho medo dele. Tenho medo do mundo que me quer morto, e você tem coragem. Coragem que eu não tenho. Talvez você passasse pelas correntezas melhor do que eu que sei nadar nos mares mais profundos, mas nunca enfrentaria um tsunami apenas para te amar, e sei que não faria o mesmo por mim.
No fim, eu tenho medo do mar agitado, a calmaria dele me atrai, mas não o suficiente para atiçá-lo ou entrar sabendo que ele pode me expulsar a qualquer segundo, e você preferiu encontrar alguém que já enfrentou esse mar. Queria apenas que esse mar não existisse, ou fosse calmo para todos que quisessem tomar banho nele, sem critérios, apenas um banho quente banhado pelo sol do verão eterno.
É pedir demais por um um mundo que eu possa existir sem ter que enfrentar tanto do que eu quero evitar, é como se eu estivesse pedir para morrer para todos que nutrem um amor frágil por mim, amor tal que me faria falta, porque não me deixa tão sozinho no mundo, mas é justamente o fato de eu ter usado uma letra no final de uma palavra ao invés de outra que seria o suficiente para estilhaçar esse amor jurado que dizem ter. Tudo sobre uma letra, sobre uma palavra. Sempre sobre palavras e não sobre mares, porque o mar é lindo, quase sagrado, como as letras, é uma pena que elas sejam motivo de tanta dor.
No final, nada disso é sobre mares, palavras, letras ou um amor não correspondido, mas sobre se permitir amar porque o mundo não permitiu primeiro.
Eu teria te amado com orgulho, mas não me deixam nem te amar.
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não me leve a mal, eu não podia te amar
Poetryela era do mundo, já eu, tinha medo dele. 2022, texto autoral sem nexo nenhum.