SE NÃO FOSSE

CAPÍTULO 1

                              ELIZA

A vida pode nos tirar muitas coisas,mas o que ela me tirou eu nunca vou perdoar.

Fecho meu diário na esperança de que o dia de hoje ,seja melhor que o dia anterior

- Liz! - grita minha mãe no andar de baixo,que nem é tão longe do meu quarto já que ele é o primeiro do corredor - o café já tá na mesa! Precisa de ajuda pra descer?

- não mãe,sei me virar sozinha! - falo enquanto direciono a cadeira de rodas até a escada,posiciono a cadeira no elevador...sim! Elevador! Ele é meu então chamo do que eu quiser

Após 5 minutos finalmente chego ao andar de baixo,já vou logo em direção a cozinha onde estão meu pai e minha mãe tomando o que parece ser um daqueles cafés da manhã de comercial de manteiga

- bom dia - diz os dois em sintonia

- bom dia - falo secamente

- você demorou muito pra descer hoje o que houve? - mal comecei a comer e meu pai já começa a me fazer perguntas

- nada de mais , o elevador está lendo...deve ser falta de óleo não sei - na verdade ele está normal , só não queria ter que tomar café com eles mesmo

- vou pedir para o José dar uma olhada mais tarde

- okay. - acho que ele ainda não entendeu que eu não quero papo

Por um segundo senti um arrepio e um frio na barriga,como se eles estivessem engasgados com suas palavras ,prontos para cuspi-las na minha cara

- então... - disse Ricardo com uma voz calma ,como se quisesse me confortar de alguma maneira,coisa boa não é - eu e sua mãe contratamos um novo fisioterapeuta

- O QUE? - digo batendo meus punhos na mesa , não esperava essa notícia as 9:00 da manhã - já não basta a do hospital?! O que passa na cabeça de vocês ,em contratar alguém sem falar comigo antes?

- eu já não sou humilhada o bastante pelas pessoas ao meu redor? Vc tem que contratar mais uma?? - odeio quando tomam decisões por mim. Só porque um uso cadeira de rodas, não significa que eu não consiga tomar decisões

- filha, só queremos o seu bem meu amor e eu prometo que você vai gostar dele , ele tem sua idade então vai ser mais fácil se darem bem - falou Adriana enquanto segurava minha mão

- eu não quero me dar bem com ninguém! Não quero outra babá,ou vai me dizer que vocês só o contrataram para ser fisioterapeuta? - nesse momento é como se todas as palavras tivessem sumido de suas cabeças - eu sabia. Pode demitir agora! Eu não quero uma babá! Não quero mais uma pessoa pra me olhar com pena! Sei me virar sozinha.

- filha... E se você cair e precisar de ajuda? Tenho certeza que ele não vai te olhar com... - começa minha mãe, mas eu a interrompo

- para! Para de ser ingênua! Eles não fazem isso perto de você ! Mas eu não sou uma coitada e não vou deixar vocês fazerem eu me sentir uma. - pronto...disse tudo que estava entalado em minha garganta a muito tempo.

- já chega Eliza! Não fale assim com sua mãe! Ela está fazendo de tudo para que você se sinta acolhida! - meu pai as vezes sabia falar as palavras certas para acabar com a minha paciência

- acolhida? Você acha mesmo que eu me sinto acolhida,se toda vez eu faço alguma coisa que um de vocês não gosta ..fazem questão de jogar isso na minha cara? Se for pra jogar na minha cara , prefiro que não façam nada por mim - essa foi a gota d'água para que eu me retirasse e me trancasse em meu escritório, mas como meu pai não desiste ficou gritando na porta

- você vai ter um ajudante, babá chame do que quiser e não vai conseguir se livrar dele tão fácil

Nesse momento minha paciência já tinha ido embora e para não acabar xingando meu pai , coloquei meus fones de ouvido e fiquei lá por bastante tempo.