Acordei animada no dia seguinte, ontem chegamos cedo e eu consegui descansar.
Tomei um banho demorado, escolhi um vestidinho de malha de alcinhas colado no corpo que vai até a altura dos joelhos, marcando meu corpo e deixando o bumbum bonito. Solto os cabelos e penteio em seguida finalizando com um óleo cheiroso. Passei um hidratante labial, peguei meu celular no carregador e desci para a cozinha.
Encontrei apenas uma senhora fazendo café, no canto da cozinha tinha uma caixinha de som tocando louvor.
- Bom dia. - É engraçado o pulinho que ela dá de susto e põe a mão no coração.
- Que susto querida! Não sabia que o Filipe tinha dormido em casa.
Eu entendi o que ela tá querendo dizer. Acha que eu sou alguma namorada do traficante. Deus me livre! Credoo.
- Há não, a senhora entendeu errado. Nao tenho nada com o Tito.
- Até porque não faz meu tipo! - Agora sou eu que dou um pulinho de susto com sua entrada repentina na cozinha.
Ele passa por mim e dá um beijo no topo da cabeça da senhora.
- Essa aqui é a Sophia, Zilda. Ela vai ficar vindo pra cá finais de semana. A gente tá resolvendo uma bronca do pai dela.
Ele passa por ela tirando o pano de cima de uma forma de bolo.
- Tá certo meu filho, tira a mão daí! Deixa que eu vou servir vocês. Anda, vai se sentar! - ela fala dando alguns tapinhas nas mãos dele.
- Vem. - Passa por mim indo até a mesa. Mas antes, não pude deixar de notar o confere que ele estava me dando antes que eu me virasse em sua direção.
Ué não faço seu tipo...
Sigo ele e me sento. Abro meu whatsapp mais uma vez fugindo de qualquer assunto.
As meninas querem saber porque sumi e eu não sei mais o que falar. E o Gustavo tá mandando mensagem querendo saber se podemos estudar juntos hoje pra prova de segunda feira.
" Não posso, estou muito ocupada! Ainda nem tive tempo de ver o assunto". Respondo apenas ele.
- Já tinha entrado numa favela antes? - levanto o olhar e o Tito está me encarando.
- Não. Nem entraria se não tivesse sido forçada. Porque tinha que ser eu? Meu pai ou qualquer outra pessoa da escolha dele poderia trazer teu dinheiro. - Ele se ajeita na cadeira ficando reto.
- Porque assim teu pai não tentaria me passar a perna! Tu pode não gostar de bandido mas teu pai é pior que nós tudo junto. - nem tenho o que dizer! Ele tem razão.
- Meu pai pode ser o que for, mas uma coisa que ele não é, é burro. Não tem porque ele fazer algo do tipo, ele só quer se livrar desse mal entendido.
A Zilda põe uma garrafa de café e uma de leite na mesa, um bolo inteiro e uma bandeja com algumas frutas. Nós nos calamos um segundo se encarando. Assim que ela sai, ele responde, cuspindo fogo.
- Mal entendido? Ele tem sorte de ser conhecido no movimento. Ou eu tinha dado a cabeça dele pro meus cachorro comer! - Me assusto com suas palavras porque sinto que ele realmente faria isso sem pensar duas vezes.
- Você é louco! - Ele sorri e serve sua xícara com café.
- Louco é teu pai de tentar me roubar.
Faço o mesmo e ponho leite.
- Os garotos já terminaram de contar o dinheiro, até aonde eu sei, tá tudo certo. Mas vai ter que esperar até segunda. Se não a polícia vai se ligar nesse movimento de jato pra lá e pra cá e pode dá merda. - Ele diz.