Eternal

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Meu verdadeiro amor.

Às vezes tais palavras invadem minha mente e nebulam qualquer vestígio de sanidade que eu apresente em relação ao presente estado de minha vida, mas me esclarecem de tantos sentimentos que atualmente eu duvido que podem realmente ser sentidos, mas que eu senti, dezesseis anos atrás.

Volto lá para o verão de 83, quando eu tinha apenas dezoito anos.

Dezoito anos e uma brisa gélida em meus ombros, e mãos quentes em minhas costas. Cabelos encaracolados em meu peito, o sorriso aberto de quem ama e sabe ser amado; o sabor de lábios e saliva; o tesão inenarrável de simplesmente estar vivo que nasce ao acordar, e permanece até ir dormir; o Sol brilhante no céu de brigadeiro; o apego pelas frutas de verão que iriam embora no outono. Outono que levou tanta coisa.

Não culpo o trem que o levou para longe. Não culpo nossa pouca idade. Não lhe culpo por nunca ter me dito para onde iria com aquelas folhas que tinham escritas minhas próprias impressões digitais, de tão minhas que eram, que continham meu nome sobre o corretivo posto de última hora, e que agora compõem seu livro; Eu culpo o Outono. Quando era verão, todo dia fez Sol.

Sol.

Desde então o Sol nunca foi o mesmo. Claro, a fumaça da nova tecnologia chegando à todo vapor escureceu o céu de Londres, e o Sol estava ofuscado. Porém, o advento da Internet trouxe um novo raio de esperança para aquele que nunca deixou de lembrar.

Eu criei um blog. Sim, eu sei que eu já não tinha mais idade pra isso, mas eu tinha idade para fingir estar contente com minhas infelizes decisões, então me dei ao luxo de escrever minhas saudades. Ela tinha nome composto e sobrenome, mas eu não sabia o endereço.

Henry e Parker foram por mim desenterrados com a criação do meu Blog, Ineffable.

Bem vindos ao meu blog.

Essa é uma história de amor;
da forma mais pura que pode ser vivida.

E eu contei a minha história de amor.

Não, e não me lembrei de citar que anos depois eu viria a me casar com Eleanor. Nem de todas as traições por parte dela, e nem da minha covardia de traí-la também, mesmo sabendo que eu não era seu único. Eu apenas não ligava. Era minha esposa, não minha mulher, como Harry foi meu homem.

Eu tentei me relacionar com outros homens. Tentei mesmo. Mas nenhum deles soube me tocar da forma que Harry um dia me tocou. Ele não precisava se esforçar. Suas mãos em minha cintura já bastavam. A nudez dele foi a única que tive prazer em apreciar, em tantos anos. Eu, ainda, o super estimo demais. O romantismo da perda de virgindade é tão notório para mim que nunca se extinguiu. Para mim, se eu o encontrasse hoje, agora, ele ainda seria aquele homem forte, cacheado, cheio de tatuagens recém feitas, de uma pele perfeita, e mãos nada enrugadas, compridas e macias que tive a honra de tocar anos atrás.

Hoje ele teria 40 anos. Teria, porque eu de fato não sei se ele está vivo. Nunca mais ouvi dele, depois da última carta que ele me enviou; há 16 anos. Ele não deu o menor indício de que seria a última, mas ele deveria saber. Ele era metódico, planejava as coisas.

Eu tomei coragem e pesquisei seu nome no Google. Harry Edward Styles. O frio na barriga da Internet lentamente abrindo uma página me atingiu, mas eu vi... Após dezesseis anos. Eu vi o seu rosto.

Era uma foto dele, sentado, sorrindo. Pela foto eu pude perceber, seu peso se manteve o mesmo. Ele parece ser aqueles adultos que frequentam religiosamente a academia. Seus braços ainda eram fortes, e ele tinha novas tatuagens. Ou talvez, eu só tenha me esquecido delas, e estava relembrando agora. Seu rosto não mudou nada. Ele não deixou a barba crescer, e criou poucas rugas ao lado dos olhos. Seus cabelos estão um pouco acinzentados. Os cachos se desfizeram, não totalmente, só estão mais soltos que antes.

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