Adam, o garoto abandonado

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A lua brilhava iluminando aquela linda noite em Aferon. Uma mulher misteriosa, vestindo uma capa escura, carregava uma cesta coberta por um pano. Ela parecia estar correndo de alguma coisa e portava o objeto com todo cuidado possível.

As ruas já estavam pouco movimentadas naquele horário, boa parte da cidade estava dormindo. Ela continuou correndo até chegar em um orfanato. Subiu as escadas e depositou a cesta em frente à porta.

— Desculpe-me, Adam — falou com um tom triste enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto —, será melhor assim.

Ela se dirigiu até a campainha e tocou-a.

— Espero que possamos nos ver novamente — continuou olhando para a cesta com tristeza antes de sair correndo até desaparecer no meio da noite.

Samantha, a cozinheira do orfanato, atendeu a porta.

— Quem está aí? — perguntou num tom sonolento antes de perceber que não havia ninguém.

Olhou para o chão e avistou a cesta. Abaixou-se e, ao levantar o pano, surpreendeu-se com o pequeno garoto. Devia ter aproximadamente um ano de vida, talvez um pouco menos.

— Pobre menino — lamentou ela, olhando para a rua na esperança de encontrar alguma pista sobre ele.

Após ver que não havia evidência sobre a origem da criança, decidiu tirá-la da cesta.

Enquanto colocava a criança nos braços, encontrou na cesta, um bilhete com os seguintes dizeres:

"Por favor, cuidem do Adam."

Era ainda muito vago, mesmo assim decidiu levá-lo para o interior do orfanato, onde explicou a todos os presentes sobre a criança. Annie Wood, a diretora do orfanato, olhou diretamente para Samantha.

— Vamos criá-lo — afirmou ela, depois de respirar fundo. — É isso que fazemos. Ele precisa de um lar.

Adam ficou no berçário por um tempo, mas não demorou muito para ele ganhar um quarto na ala masculina.

Aos oito anos, Adam conheceu Frank, um órfão de nove anos que tinha sido transferido diretamente de Ecraria para aquele orfanato em Aferon. Adam tentou ser amigável e aproximou-se dele.

— Olá, sou Adam — falou enquanto estendia a mão, estava cheio de entusiasmo.

— E eu sou Frank — cumprimentou portando um leve sorriso travesso.

Quando falou, Frank apertou a mão de Adam, mas não foi um aperto qualquer. Lançou uma leve descarga elétrica na mão de seu novo conhecido, fazendo-o pular para trás.

Embora Frank estivesse morrendo de rir, Adam não achou nem um pouco engraçado. Olhou irritado para o rapaz e partiu para cima dele, dando-lhe um forte empurrão.

Quando caiu, Frank também ficou irritado. Ele foi se aproximando vagarosamente do Adam e, por fim, socou seu rosto com toda força, fazendo-o tontear.

Naquele instante, Adam despertou seus poderes. Uma forte energia invisível arremessou Frank para longe.

Quando se deu conta, Adam já não podia fazer mais nada, então começou a chorar. Ele esperara oito anos para despertar seus poderes e quando finalmente conseguiu, acabou machucando alguém.

Alguns minutos depois, lá estavam Adam, usando um colar de irídio, e Frank sentados em frente à diretora Annie.

Ao entrar em contato com a pele, o irídio inibia os poderes de qualquer um. Ao que perecia, o elemento químico emitia uma energia contrária à dos habitantes de Sunland, anulando suas habilidades. Era bem comum esse material ser usado por pessoas que possuíam poderes perigosos e não conseguiam controlá-los, além de ser muito usado para conter criminosos.

O material era muito denso e resistente, o que tornava um pouco difícil moldá-lo, a ideia foi retirar pequenas partes e colocá-las em pulseiras e colares, até mesmo algemas.

— Não quero mais ver brigas neste orfanato! — exclamou Annie, com um tom de voz amedrontador. — Ouviram?!

Ambos permaneceram em silêncio, pois estavam com medo até mesmo de falar.

Annie não gostava de usar seus poderes — tanto que quase ninguém sabia o que ela podia fazer —, mas naquele mesmo dia ela os usou. Sua pele, que costumava ser escura, ficou com uma aparência metálica, o que era bem assustador para as crianças.

Ela levantou e socou a mesa de cima para baixo, fazendo-a ser estraçalhada.

— Ouviram?! — gritou novamente.

— Sim! — gritaram os garotos, em uníssono e perplexos.

Annie voltou ao normal e logo abriu a porta.

— Estão liberados — disse ela, seriamente. — Se não quiserem me ver assim novamente é melhor evitarem qualquer tipo de briga no orfanato.

Os dois saíram da sala cabisbaixos e amedrontados. Logo em seguida Frank estendeu a mão para Adam.

— Desculpe-me — agora sua expressão era de culpa e arrependimento.

Dessa vez, Adam desconfiou, mas logo apertou a mão dele e aceitou suas desculpas. Ele também pediu desculpas e, assim, resolveram o conflito.

Aos poucos, seus laços foram se solidificando, até que deixaram de chamar-se um ao outro de amigos e passaram a ser irmãos.

Adam tinha um sonho: ser um Cavaleiro do Sol. Esse título era dado aos onze guerreiros mais habilidosos de Sunland, que se dedicavam a proteger a ilha de qualquer ameaça que a polícia não conseguisse inibir. Contudo, ele havia sido proibido de usar seus poderes, por isso ficou extremamente desanimado.

Ele não perdeu tempoe começou a correr todas as manhãs acompanhado pelo professor de educaçãofísica do orfanato, além de insistir à diretora para que ela o deixasse praticarkaratê, judô, kickboxing, esgrima equalquer outra arte marcial que ele visse na televisão.

O Alvorecer: Livro 1 (Trilogia Sunland) ⋆ PréviaOnde histórias criam vida. Descubra agora