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Sara.

Divido um apartamento com meu melhor amigo Jonas, temos uma amizade e tanto, na verdade acredito ser o único grande amigo que tenho.

Nos conhecemos desde o primeiro ano do colegial, quando o encontrei chorando embaixo da arquibancada, dois garotos do último ano tinham o batido, e o pior lhe dito coisas horríveis só porque Jonas é homossexual.

Eu estava vagueando pela escola já que não queria entrar na última aula e o avisto encurvado segurando os joelhos entre os braços, sentei ao seu lado e só o observei por um longo tempo, quando ele decidiu olhar para mim eu simplesmente limpei suas lágrimas e desde então nos tornamos inseparáveis e por incrível que pareça essa foi a única vez que o vi chorar, depois disso foi ele quem limpou todas as minhas lágrimas.

O colegial acabou a um tempo e decidimos dividir um apartamento, Jonas esta super ansioso pois vai fazer um intercambio de 6 meses nos Estados Unidos, estou feliz por ele.

***

- Ahhh nem acredito que isso ta acontecendo comigo! __ gritou Jonas pulando por todo o lado de animação

- Até parece que sua fixa ainda não caiu né? __ digo rindo

- Não mesmo! Aí tenho que arrumar as malas, fazer passaporte, é muita coisa pra muito pouco tempo, e ainda tenho que te dar atenção porque vai ficar sozinha, triste e melancólica. __ diz rindo e vem me abraçando em seguida

- Até parece, que exagero e você tem dois meses até a viagem, tem tempo de sobra pra me dar atenção. __ digo fazendo biquinho e entrando na brincadeira.

- Eu sei coração. E sei também que você nem vai sentir minha falta!!

-Olha o drama! __digo lhe dando um beijo na testa - Ei tenho que ir trabalhar. Até a noite e comporte-se hein!

ele retribui o beijo e saio rindo, o deixando com sua euforia e animação, já estou atrasada para pegar o metrô.

Quando chego já estou em cima da hora, e corro pra não perder o metrô, é assim quase todos os dias, sempre correndo atrás de tudo e de todos.

- Por favor sente-se aqui. __ me diz um homem de meia idade sugerindo que eu ocupe seu acento

- oh, não precisa se incomodar, eu fico em pé mesmo.__ digo gesticulando minhas mãos em negação.

- Não se preocupe, pode sentar, logo chega em minha parada. __ ele diz em tom insistente.

-hum ok! Obrigada pela gentileza. __ digo sem expressar nenhuma gratidão ao homem. Nunca consegui ficar sorrindo para as pessoas que não conheço, não entendo por que as maioria das pessoas saem por ai distribuindo sorrisos à estranhos.

O metrô cheira a fumaça de cigarro misturada a diferentes perfumes no ar, no começo isso me causava náuseas, que com o tempo deixaram de ser frequentes.

Sempre gostei de observar as pessoas no metrô e imaginar como são suas vidas e para onde vão, quando eu não chego atrasada me sento em um banco afastado na estação e fico observando todos que passam por mim, tão apressados, sem olhar para os lados sem ao menos tentar observar os outros seres de sua mesma espécie que ali estão, gosto de ver como as pessoas são tratadas pelas outras, de reparar como um modo específico de se vestir faz toda a diferença. Uma vez vi um homem de roupa social, maleta e celular nas mãos que andava apressado tropeçar e cair, em questão de segundos o segurança e outros passageiros o socorreram o levantando e lhe entregando seus pertences que se espalharam no chão, o homem mal os agradeceu e saiu apressadamente, achei absurdo sua falta de consideração, algumas semanas antes eu observei um senhor que usava vestes 'normais' e uma pequena mochila também tropeçar e se levantar sozinho o segurança apenas o observava em suas mãos estava um papel que voou perto de mim, sem hesitar peguei e o entreguei, ele me deu um sorriso tão largo que eu pude ver todos os seus dentes me agradeceu e partiu e em um ultimo momento olhou para trás e acenou para mim anda sorrindo.

Talvez seja por coisas assim que não sorrio pras pessoas, nem todas merecem gentilezas, Jonas diz que isso é equivocado de minha parte e que não importa o que as pessoas façam um sorriso muda sempre o dia de alguém, e realmente o sorriso daquele senhor me deixou muito feliz, mas de que adianta sorrir se não nos sorriem de volta? Talvez seja isso que torna algumas pessoas melhores, saber sorrir sem querer nada em troca.

****

- Oi Lucy, cheguei.

- A você esta ai! Olá, Sara tenho algumas encomendas atrasadas e vou ter que sair pra comprar material, tudo bem em te deixar sozinha na loja essa tarde?

- Problema nenhum, fique tranquila eu fico bem.

- Ok, chego antes de dar teu horário de ir embora. Até __ diz Lucy saindo apressada da loja.

- Até.

Vou para atrás do balcão e começo a separar os novos porta-incensos que chegaram de manhã por ordem de tamanho.

Trabalho meio período em uma loja hippie, que vende de tudo relacionado ao universo hippie claro, com o tempo me acostumei com o cheiro forte de incenso e até aprendi a fazer algumas coisas como cordão com pingentes de pedras coroa de flores e coisas assim.

Aqui o tempo parece passar de uma forma diferente sem pressa, sem preocupação. Lucy me ensinou que a arte da vida esta na calmaria da alma, comigo isso só funciona aqui. 

Talvez seja o incenso ou as conversas hilárias da Lucy.

Só não quero ficar Só.Onde histórias criam vida. Descubra agora