Capítulo 1: ínicio de tudo

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as melhores poesias nascem dos corações mais angustiados.
As melhores artes refletem os mais variados estados da alma. A inteligência acima da média normalmente vem acompanhada pela solidão.

CAPÍTULO

UM

Para Elisa

" Você é o meu caminho. É a luz que me guia, não é feita de mentiras ou de falsidades. È humana, ainda assim atrai a beleza dos astros, a pureza das rosas, a maresia do mar. Tenho visto nos ultimos dias que são raras as pessoas que valem a pena, por isso minha corrida hoje é para encontrar essas pessoas, e você é uma delas."

2030


Inicio da

ciber-revolução



Aquele era para ser seu dia perfeito; o dia em que ele veria, em primeira mão, a maior conquista da humanidade, que mudaria totalmente os tempos dali em diante. Por uma pequena fagulha de tempo, pensou que talvez aquele fosse o inicio da melhor fase de sua vida, mas ele descobriria, e logo, que não tinha esse direito. Não tinha direito á felicidade, á amigos, á família ou á simples benção de viver em paz, por que decidiu ser o herói. E no mundo real não há finais felizes para heróis.


Aquele não era o inicio de sua melhor fase. Era o inicio de seu inferno, e ele seria o próprio diabo, regendo a dança flamejante das chamas, queimando e punindo inocentes ou culpados, bons ou maus, homens ou deuses. Por que foi para isso que ele nasceu, para ser o autor do caos, o amante da morte, aquele de quem os piores monstros têm medo.


Um novo vento oscilou seus cabelos, adornado pelo véu obscuro da noite estrelada. Era uma correnteza pesada e empoeirada de ar, cansada, deprimida, amarga como o fardo do conhecimento. Obrigada a carregar a sujeira das indústrias e do lixo espalhado pelo que devia ser seu lar.


As taças tilintavam, os talheres raspavam a superfície lisa e dura dos pratos sofisticados, produzindo sons levemente estridentes através do vidro da janela. Uma luz bronzeada das lâmpadas envolvia o interior do restaurante de luxo, iluminando aqueles investidores, empresários, influencers digitais. Quase todos vivendo uma falsa vida, fingindo se importar com ideais fajutos para ter aprovação social e mais dinheiro. Assim como a linha entre a vida e a morte era tênue e frágil, assim era a linha entre a riqueza e a pobreza, e ficava pior a cada dia.


Aysa Leoni observava, recostado contra a parede escura do beco nos fundos do restaurante. Os braços cruzados e o rosto sério. Há dois anos sua família, junto com outros milhares ao redor do mundo, foi morar em Cibertroid City, em busca da promessa de uma cidade com a tecnologia mais avançada do mundo, onde a inteligência artificial cuidaria de boa parte das tarefas do dia a dia que anteriormente dependiam de um ser humano.


O que ele não sabia, porém, era que tudo estava prestes a queimar até as cinzas, e ele ascenderia o fosforo.


Aysa observava os garçons que entravam e saiam, servindo as pessoas, ágeis, profissionais e velozes, mas não eram humanos. Eram robôs, deslizando sobre rodinhas, desfilando pelo lugar com bebidas e comidas, com uma telinha azul embutida naquele tubo quadrado que servia como cabeça e como interface para novos pedidos, formando a imagem de um sorriso em pixels. Estranho, mas funcional.


- quantas vezes eu tenho que te dar uma bronca!


Aysa virou seu rosto para a saída dos fundos do restaurante. Sob o manto da escuridão do beco, a porta se abriu, um feixe de luz brilhou e um cozinheiro saiu, carregando um garotinho de roupas esfarrapadas pelos cabelos.

Reino De Chamas E CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora