Cap.2: um dilema

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      Ele imaginou que aquele seria o seu fim; que não veria mais o nascer do sol, nem viveria para alcançar seus sonhos.

Mas alguns segundos se passaram entre o choque completo e o medo e a angustia. Aysa voltou a si ao perceber que ainda não havia partido para o mundo dos mortos. Se é que existe algum. Na verdade, aquele homem de preto ainda estava em sua frente, mas ajoelhado sobre o carpete preto do corredor, gemendo de dor enquanto tentava estancar o sangue em seu joelho.

O tiro foi dado por outra pessoa.

O sangue coloria o carpete preto do corredor conforme espirrava junto aos pedaços do cérebro do segurança, grudados nas paredes como uma pintura exótica e mórbida. O líquido carmesim traçava um caminho devagar, como um córrego, entre a cabeça perfurada e os pés de Aysa. Tudo se tornou lento e agonizante. Mas o pior foi quando os passos dela ecoaram atrás dele, e ele soube imediatamente quem era a pessoa que havia disparado.

A misteriosa mulher de cabelos brancos surgiu novamente em seu campo de visão, passando por eles e se colocando á frente do atirador, que ainda gemia de dor.

— o que eu disse... — ela deu mais um passo, a postura imponente, um olhar frio de uma assassina treinada, a voz serena e graciosa — sobre atirar em jovens? Não matamos civis.

— me... Me perdoe, senhora! — ele mal a olhava nos olhos de tanto medo. Parecia um animal encurralado, tremendo de pavor, ou talvez de dor, ou os dois.

Aysa sentia como se seus pés estivessem plantados até as raízes no chão e que por mais que tentasse se mexer e sair dali, seu corpo não obedeceria. A mulher tomou cuidado para não pisar no sangue com aquele salto alto que usava, e para não manchar o sobretudo preto que usava. Ela exalava perigo e uma violência irracional, embora parecesse calma e centrada.

— todo mundo erra, não é? Somos seres humanos, afinal. Todos merecem uma segunda chance — ela estava de costas para Aysa, mas ele teve certeza de que um sorriso se estampou naquele rosto — mas da próxima vez que cometer um erro, não serei mais tão piedosa. Entendeu?

— Sim senhora.

— vamos!

Ela se virou, e junto ao seu capanga, caminhou até Aysa. O coitado mancava, e o sangue pingava a cada passo sobre o chão. A mulher parou bem diante de Aysa. Aqueles olhos escuros o fitavam com um interesse malicioso demais. Pareciam vasculhar cada pedaço de sua alma, em busca de algo. E pelo olhar divertido, ele deduziu que ela encontrou o que queria nele. Mas não recuou um passo sequer. Imaginou o que seus amigos estariam pensando. Se estavam esperando a hora certa de deixa-lo para trás e correr, ou se o medo era tanto que mal conseguiam pensar.

A mulher semicerrou os olhos, Aysa não desviou o olhar, e um empasse silencioso seguido de um ar gélido e mortal, pairou sobre os dois. Mesmo Layla — sua melhor amiga — ficou parada, em choque. Quando notou que suas mãos tremiam sem parar, Aysa fechou os punhos e neutralizou o máximo que pôde sua expressão facial, ignorando cada estilhaço de terror que perfurava sua espinha e a carne de suas costas.

Precisava manter o controle. Por ele. Por seus amigos.

Não satisfeita, ela apontou a arma para o seu rosto com um movimento sutil e devagar. Mais segundos de agonia se apoderaram dele quando o mundo parou. A mente de Aysa era um universo inteiro de possibilidades sendo calculadas e descartadas sobre como derruba-la e fugir, ou roubar sua arma, ou roubar a arma e atirar na cabeça dela, mas no fim ela baixou a arma.

— se me permite perguntar, qual é o seu nome, jovem? —ela perguntou quando notou que ele não se deixou ser tomado pelo desespero. Outros correriam ou chorariam ou implorariam pela vida desesperadamente. Mas Aysa jamais faria tal coisa. Aysa jamais demonstraria medo a ninguém. Se ela era um monstro, ele seria um pior.

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⏰ Última atualização: Sep 17 ⏰

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