16. Coma Induzido

178 24 8
                                        

Se eu tinha perguntas, imagina as outras pessoas, e se antes aqueles soldados da Polícia Militar não gostavam de mim, a minha situação com eles só piorara depois da cena que fiz.

Mas por sorte ou azar, segundos depois de ter abraçado Eren, eu simplesmente desmaiei, ou pelo menos, era o que eu achava.

“Lembre-se de um lugar que se sinta tranquila.”

Pede a voz, e penso em uma parte da floresta que Jean me apresentou no nosso primeiro ano no acampamento de recrutas.

Ele me levou lá porque tinha ouvido uma conversa minha com Mikasa, onde eu dizia sentir falta de colher pêssegos, e lá, além de ser bastante arborizado e ter um lindo pessegueiro, o sol entrava entre as folhas e deixava feixes transpassar por elas, só colaborando para a cenário ser ainda mais encantador.

Não sei ao certo porque me lembrei disso, seja pela descoberta que os lábios de Jean eram mais doces que o pêssego, ou simplesmente pela calmaria que aquele lugar exalava.

Mas quando dei por mim, estava sentada na grama com as costas apoiadas no pessegueiro, sentindo uma tranquilidade imensa dentro de mim, até que;

— Você não é ele — acuso, quando fito o garoto de 13 anos que colhe duas frutas.

— Não, não sou o Jean — confirma, se sentando ao meu lado. — Quer? — oferece um.

— Você é ela? — aceito o pêssego. — A voz?

Aquele ser que se transformara em Jean me olha.

— Digamos que sim — morde a fruta.

— Desde quando faz isso? — pergunto.

Isso o que?

— De alguma forma, você adormece meu corpo e agora estamos em uma espécie de sonho — tento explicar.

— Ah, isso — diz de boca cheia. — Se chama coma induzido e eu sempre consegui fazer — sorri. — Porque na realidade, eu controlo algumas partes de seu corpo. Quando você ainda não sabia da minha existência, por exemplo, conseguia induzir alguns sentimentos, mexer no seu sistema nervoso de vez em quando e coisas do tipo.

Arrombada. Penso.

— E a quanto tempo você está dentro de mim? — Indago

— Desde de sempre — responde calmamente, olhando distraída para as árvores.

— Defina sempre — peço.

— Antes mesmo de o seu feto desenvolver-se eu já estava lá — enfatiza.

Mesmo vendo Jean ao meu lado, uma pessoa em quem confiava e me sentia bem, foi impossível não sentir um arrepio de medo. O que ela disse foi extremamente perturbador.

— Eu sei o que você sente — relembra. — E se isso te confortar, sou incapaz de te fazer algum mal, faço parte do seu ser, não faria sentido eu querer lhe machucar, pois sentiria também.

Fico em silêncio olhando para a grama, não sei o que falar, e se fosse realmente verdade o que dissera, todas as vezes em que senti dor física ou mental ela estava sofrendo sozinha dentro da minha própria cabeça. Que deprimente.

Aperto o pêssego em minha mão e levo ao meus lábios, o gosto era fiel ao daquele dia.

— Quanto tempo vou ficar aqui? — abordo, assim que a fruta desse pela minha garganta.

— O quanto você precisar — compadece. — O tempo aqui passa diferente. Mas quando acordar, vai faltar apenas 30 minutos para os cadetes escolherem a qual força irão servir — assegura.

ÊxtaseOnde histórias criam vida. Descubra agora