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desfiz as malas e fui direto para a piscina, onde eu sabia que encontraria os meninos. Os três estavam deitados nas espreguiçadeiras, balançando os pés sujos para fora. Javon deu um pulo assim que me viu.

— Senhoooras e senhooores! — começou, em uma voz teatral, inclinando o corpo para a frente como um apresentador de circo.

— Está aberta a temporada de lançamento da Gina deste verão! — Hesitei, tentando fugir, mas, se eu fizesse algum movimento brusco, eles partiriam para cima de mim e me perseguiriam até conseguirem me pegar

— Nem pensar! — retruquei. Jaden e Javon também se levantaram, formando um circulo ao meu redor.

— Você não pode quebrar a tradição — declarou Steven. Jaden só abriu um sorrisinho malévolo.

— Estou velha demais pra isso — argumentei, desesperada. Tentei dar uns passos para trás, mas eles me pegaram. Steven e Javon seguraram meus braços.

—Parem com isso, garotos! — pedi, tentando me soltar. Firmei os pés no chão, só que eles me arrastaram mesmo assim. Sabia que seria inútil resistir, mas sempre tentava, mesmo arranhando a sola dos pés no chão. Pronta?

perguntou Javon, passando as mãos por baixo dos meus braços e me levantando. Jaden segurou meus pés. Steven pegou meu braço direito e Javon ficou com o esquerdo. Eles me balançaram para os lados. como se eu fosse um saco de farinha.

— Eu odeio vocês três! — gritei, em meio às risadas deles.

— Um! — começou Javon.

— Dois! — continuou Steven.

— E très! — encerrou Jaden.

Eles me jogaram na piscina, de roupa e tudo. Cai como uma bomba, fazendo um barulhão. Dava para ouvir as gargalhadas deles mesmo debaixo d'água. Essa história de lançamento da Gina era muito antiga. Devia ter sido ideia do Steven. E eu odiava. Mesmo que fosse uma das únicas ocasiões em que eles me incluíam na brincadeira, eu odia ser o brinquedo. Ficava me sentindo impotente, e era um lembrete de que eu não fazia parte do grupo, de que era fraca demais para ganhar deles, tudo porque eu era menina. Porque era a irmãzinhq de alguém. Eu sempre chorava e corria para Jessica e para minha mãe, mas não adiantava. Os garotos me chamavam de fofoqueira. Só que da quela vez eu não ia chorar. Demonstraria um pouco de espírito esportivo. Pensei que, se fingisse levar na boa, a brincadeira talvez perdesse um pouco a graça.

Quando retornei à superfície, abri um sorriso enorme e comentei.

— Nossa, vocês parecem que têm dez anos.

— vamos parecer sempre — retrucou Steven, satisfeito, e me deu vontade de afogar aquela cara presunçosa dele junto com seus preciosos óculos de sol Hugo Boss que ele precisou trabalhar feito um condenado para comprar. Em vez disso, comentei, fingindo ter dificuldade para nadar até eles:

— Acho que você torceu meu tornozelo, Jaden. — foi até a beira da piscina e provocou, com aquele sorrisinho meio de lado:

— Ah, tenho certeza de que você vai sobreviver.

— Pelo menos me ajude a sair daqui — pedi. Ele se agachou e estendeu a mão, e eu agradeci com uma voz estridente. Então segurei sua mão bem firme e puxei com toda a minha força. Jaden se desequilibrou e caiu na piscina, espalhando mais água do que eu. Acho que eu nunca tinha rido tão alto em toda a minha vida. Javon e Steven também riram. Parecia que toda Cousins Beach podia escutar nossas risadas.

Jaden emergiu depressa e nadou até mim com apenas duas braçadas. Fiquei com medo de ele estar zangado, mas não estava — pelo menos não muito. — Jaden sorria, mas era um sorriso meio ameaçador. Eu me afastei depressa.

— Você não vai me pegar! — anunciei, alegremente. É muito A cada vez que ele chegava mais perto, eu me afastava.

— Marco! — gritei, rindo. Javon e Steven, que já estavam entrando em casa, responderam: — Polo! Aquilo me fez rir e desacelerar. Jaden conseguiu agarrar meu pé.

— Me solta! — pedi, ainda rindo. Ele balançou a cabeça.

— Você não disse que eu era muito lento? — retrucou, batendo os pés e levantando bastante água perto de mim.

Nós estávamos na parte mais funda da piscina. A camiseta branca e ensopada dele mostrava sua pele rosada e brilhante. Um silêncio meio estranho se estendeu entre nós. Ele ainda segurava meu pé, e eu tentava não afundar. Por um segundo, desejei que Javon e Steven ainda estivessem ali. Só não sabia dizer por qué. — Me solta — pedi outra vez. Ele me puxou pelo pé, e estar tão perto de Jaden me deixava meio tonta e nervosa. Pedi de novo, uma última vez, mesmo que no fundo não fosse o que eu quisesse: Jaden, me solta.

Ele soltou. Então afundou minha cabeça. Não me incomodou muito: eu já estava segurando o fôlego mesmo.

Jessica acordou da soneca pouco depois de vestimos roupas secas, pedindo desculpa por ter perdido nossa chegada triunfal. Ela ainda estava meio sonolenta, com um lado do cabelo todo arrepiado, feito uma criança. Ela e minha mãe se abraçaram primeiro, um abra ço forte e demorado. Minha mãe estava tão feliz de vê-la que tinha lágrimas nos olhos e olha que ela nunca chora. Depois foi a minha vez. Jessica me envolveu num longo abra ço, daqueles que demoram tanto que a gente fica se perguntando se falta muito para acabar, preocupada com quem é que vai se afastar primeiro.

— Você está mais magra! — comentei, em parte porque era verdade, em parte porque eu sabia que ela adorava ouvir aquilo. Jessica vivia de dieta, sempre preocupada com a alimentação. Para mim, ela sempre estava perfeita.

— Ah, obrigada, querida! — Ela finalmente me soltou e se afastou um pouco para me observar. Então balançou a cabeça, perguntando: — Quando foi que você cresceu tanto? Quando se tornou essa mulher fenomenal?

Abri um sorriso, constrangida, feliz porque os garotos estavam lá no segundo andar, longe demais para ouvir aquilo.

— Ah, eu continuo a mesma... Você sempre foi linda, minha querida, mas agora... Ah, olhe só! — Ela balançou a cabeça, parecendo atordoada.

— Está tão, tão bonita. Vai ter um verão incrível. Incrível. Um verão inesquecível.

Jessica sempre falava com muita convicção, então acabava soando mais como um decretó, como se tudo fosse se tornar verdade só porque ela estava dizendo.

A verdade é que Jessica estava certa. Foi um verão realmente inesquecível. 𝘍𝘰𝘪 𝘰 𝘷𝘦𝘳ã𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘮𝘶𝘥𝘰𝘶 𝘮𝘪𝘯𝘩𝘢 𝘷𝘪𝘥𝘢. 𝘗𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦, 𝘱𝘦𝘭𝘢 𝘱𝘳𝘪𝘮𝘦𝘪𝘳𝘢 𝘷𝘦𝘻, 𝘦𝘶 𝘮𝘦 𝘴𝘦𝘯𝘵𝘪 𝘭𝘪𝘯𝘥𝘢. 𝘈 𝘤𝘢𝘥𝘢 𝘢𝘯𝘰, 𝘦𝘶 𝘴𝘦𝘮𝘱𝘳𝘦 𝘢𝘤𝘩𝘢𝘷𝘢 𝘲𝘶𝘦 𝘰 𝘷𝘦𝘳ã𝘰 𝘴𝘦𝘳𝘪𝘢 𝘥𝘪𝘧𝘦𝘳𝘦𝘯𝘵𝘦, 𝘲𝘶𝘦 𝘮𝘪𝘯𝘩𝘢 𝘷𝘪𝘥𝘢 𝘪𝘢 𝘮𝘶𝘥𝘢𝘳. 𝘕𝘢𝘲𝘶𝘦𝘭𝘦, 𝘦𝘭𝘢 𝘧𝘪𝘯𝘢𝘭𝘮𝘦𝘯𝘵𝘦 𝘮𝘶𝘥𝘰𝘶. 𝘗𝘰𝘳𝘲𝘶𝘦 𝘦𝘶 𝘮𝘶𝘥𝘦𝘪.

𝗧𝗛𝗘 𝗦𝗨𝗠𝗠𝗘𝗥Onde histórias criam vida. Descubra agora