ONE-SHOT

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   Hunter precisava de ajuda naquele momento. Acabara de ouvir Belos conversar com Kikimora sobre Flapjack. "Obrigado, Kikimora. Irei conversar com o guarda dourado." foram suas palavras, onde estava Flapjack? Talvez seu tio tivesse sugado ele? Não gostava dessa alternativa, não iria pensar sobre isso. Começava a ficar ansioso, estava difícil de respirar, principalmente com o pano por baixo da roupa. 

   Nunca contou para ninguém sobre suas crises, mas sempre ocorreram. Quando se assumiu para o coven, antes de contar, na hora de contar, precisava respirar, precisava de alguém segurando sua mão e dizendo "Vai ficar tudo bem, seu nome é Hunter, você é um garoto.". Mas ninguém estava lá, apenas 100 ou mais pessoas olhando para ele e julgando-o. Seu tio foi o único que te apoiou, porém, agora talvez não apoiasse tanto, não depois de ter guardado um segredo tão grande do homem. Talvez ter aceitado o abrigo deve ter sido um erro, talvez devesse correr antes que Belos vá atrás dele, não havia tempo, não havia lugar para ir. 

   Sua respiração ficava pesada a cada pensamento, dentro do seu quarto, chorando no chão, esperando sua vida cair aos pedaços quando seu tio irá abrir a porta e castigar-lhe. Pegou sua pelúcia de Spring, do seu desenho prefirido, Amphibia. Talvez seja porque é o único que já assistiu em toda sua vida, passou a infância treinando para ser o guarda dourado perfeito, e agora, graças a tal humana, nunca mais poderá ser quem sempre quis. 

  Humana, Luz, como ela disse. Talvez ela pudesse ajudar. Não. Se arrependeu logo depois que pensou, era uma inimiga, não poderia pedir ajuda para ela. De acordo com seu tio, humanos não servem para nada. Então, só ficaria ali, sofrendo, esperando seu tio. 

   A porta abriu. Olhou assustado, não era Belos, e sim, Raine Whispers, o líder do coven bardo. 

  -   Ei... hum.... Hunter...?   -   Não estava olhando para o quarto ainda, olhava para outro lado, talvez para o chão de trás da porta, talvez alguma sujeira.   -   Eu... Ouvi alguns barulhos e... tá tudo bem? ...Eu posso ... entrar?   

   Tentou limpar a garganta, até não ficar com voz de choro e olhou para o mais velho, estava nervoso, parecia que estava preocupado, mas, com o que? 

   -   Por que?   -   Perguntou

   -   Eu... me preocupo com você, Guarda Dourado.  Não é a primeira vez que eu... ouço... você...   -   pensou muito antes de falar, e não continuou. Isso irritou profundamente Hunter, por que não continuou? 

   -    Pode entrar.   -   Só aí percebeu que ainda estava chorando, que sua voz não mudou, na verdade, afinou. Voltou para sua voz feminina. Se sentia ainda mais sujo. Nunca seria um garoto de verdade, só uma menina que precisava de aprovação de todos que vê. Não estava confiante agora, não como estava em missão atrás da humana. 

   -   Okay....   -   Olhou para o quarto. Era uma cena angustiante. Um garoto apenas com as faixas no peito e calça, com o cabelo bagunçado, chorando, com os olhos inchados, como se tivesse chorado por mais de uma hora, sentado no chão com a cabeça um pouco levantada para olhar para Raine.   -   Ei... O que aconteceu? Eu sei que a gente não conversa nem um pouco..   -   Uma risada nasal sem graça   -   Mas você pode contar comigo, eu não sou como o Belos, claro, eu não sou forte ou sei discursar, mas, eu posso te ouvir, Hunter. E, eu não acho que você precise que eu te diga isso, mas você é o garoto mais forte que eu já vi, mais forte do que eu e Darius juntos, até!

   -    Raine... Porque escolheu esse nome?

   -   Por que escolheu Hunter?

   -   Significado forte. Belos se orgulharia em falar isso, eu achava.   -   Normalmente, em circunstâncias normais, nesse momento teria desmaiado, mas quando viu o Bardo Mestre, se sentiu vivo. Por um tempo, esqueceu que estava mal, apenas estava Hunter e Raine, conversando como pai e filho fariam. 

   -   Mas você gosta desse nome?

   -   Gosto, claro que gosto. 

   -    É bom que você goste do seu próprio nome, criança. Mas, você ainda tem tempo pra pensar no seu nome, ou no seu futuro.

   -    Não posso escolher meu futuro, você pôde e escolheu... estar aqui? Por que?

   -    Quis salvar quem eu amo. Uma vez, me disseram "quem não arrisca não petisca.". E de primeira eu não entendi o que quis dizer, mas depois eu entendi. Se eu não tentar, não tem nem 1% de chance de funcionar. E, muitas vezes, esse um por cento me salvou incontáveis vezes. Por que não tenta? 

   -   Não posso arriscar perder meu posto, você vai ter um substituto se sair e depois vão esquecer de você, mas você teria pra onde ir. Eu não. 

   -    Pode ficar comigo.

   -    O que?

   -    Ficar comigo, na minha casa, com a Eda, a Luz e o King. A Eda vai te querer por lá, ela já quer, se te ver, vai te levar.

    -    Hm. É melhor você ir. O Belos vai aparecer aqui daqui a pouco, não vai ser algo que você vai querer ver, Raine.

   -    Por que não? Hunter, se ele não está te fazendo bem, você não pode deixar continuar. Não é algo que eu entenda, claro, nunca fui sobrinho de alguém poderoso, mas, você tem que por um ponto final. E se quiser, eu vou estar aqui, você pode chorar perto de mim. 

    -    Não confio em você.

    -    Eu criança também não confiaria, eu era curiose. E você também é, você quer explorar o mundo, ver coisas novas, não quer?

     -    Quem não quer?

     -     Não sei. 

     -     É melhor ir.

     -     Eu vou. Mas me prometa que se o Belos te fazer algo, você irá me contar. 

     -     Prometo.

   E assim assistiu Raine Whispers se levantar, olhar para o quarto uma última vez, acenar, e ir embora. Agora estava mais calmo, talvez, nem fosse sobre ele que Belos estivesse falando. 

   Ainda pensando, olhou para a janela. Flapjack entrou no quarto piando com uma minhoca na boca. "Pássaro idiota." pensou consigo mesmo, pegou seu palismã e abraçou. Se sentia bem denovo. Depois de muito tempo sem esse sentimento, Hunter se sentiu feliz.

Hunter Needs Someone.Onde histórias criam vida. Descubra agora