CAPÍTULO UM

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Cassie conhecia, muito bem, a palavra saudade.

Suas primeiras memórias estavam relacionadas à saudade de alguém ou de algo.

Fosse da avó no México, de uma boneca de pano que ganhou de uma velha senhora do vilarejo onde a mãe cresceu ou do próprio pai, ela sabia do que se tratava.

Era um sentimento cruel, que era capaz de pesar a mais leve das almas e trazer cores cinzentas para onde apenas havia cores vivas. Os dias podiam perder a beleza e, até mesmo, os melhores tacos de café da manhã podiam perder o gosto. Tudo, absolutamente tudo, reduzia-se a um poço sem fim de incerteza, amargura e medo.

Cassie odiava sentir saudades.

Cassie odiava mais ainda sentir saudade de Luke.

— Acabei de ver no Twitter que batemos o recorde de maior público aqui em uns vinte anos — Nora disse, olhando abismada para o público à frente. The Loyal estava fazendo mais sucesso do que qualquer um deles podia imaginar, muito mais rápido do que os integrantes conseguiam processar.

Ela sorriu.

— E pensar que a gente só tinha duas músicas no Billy.

Nora riu, abraçando-a de lado e seguindo caminho até a frente do palco, onde uma multidão gritou ao vê-la.

Luke nunca tinha conseguido vê-la se apresentar, constatou.

Cassie se pegou pensando no que ele acharia. Será que ficaria todo sério, como costumava ficar, e cantaria suas músicas baixinho? Ou perderia toda aquela pose e gritaria a plenos pulmões? Ou...

— O que aconteceu com você, Cassandra Salazar? — perguntou a si mesma, bebendo a água no copo que segurava em suas mãos.

Se alguém dissesse, um ano antes, que, mesmo com uma arena lotada, tudo o que ela conseguiria pensar era no fuzileiro naval arrogante e respondão com quem se casou por interesse, riria a ponto de chorar.

Não era possível que aquilo fosse real, pegava-se pensando. Mas se apaixonar por Luke fora inevitável. Não conseguiu, por mais que combatesse todo e qualquer pensamento em relação a ele, não aceitar a enxurrada de emoções e sentimentos que aflorava nela.

Se houvesse um destino, os dois, com certeza, seriam obra dele.

Cassie e Luke eram tão opostos quanto o Sol e Lua. Tão incertos quanto um jogo de azar. Tão improváveis quanto qualquer amor verdadeiro. Mas era isso que tornava histórias como a deles tão especiais a ponto de serem escritas em livros, interpretadas em filmes e desejadas nas noites de Paris.

Nada é tão épico quanto um amor como aquele.

E, do mesmo modo, nada é tão doloroso.

— Você precisa voltar agora. — ela escutou o produtor, no ponto eletrônico.

Sentindo o couro das botas pretas que calçava, combinando com o vestido branco, começou a caminhar até o centro do palco, onde a banda já estava. Bem ao centro, havia um piano de cauda enorme e lindo.

Segundo a ordem das músicas do concerto da noite, a próxima deveria ser uma coisinha especial e melancólica, sua primeira composição gravada.

Cassie costumava adorar cantar Come back home, antes de toda a aventura entre ela e Luke estourar entre os dois e suas palavras começassem a ter peso para si. Isso porque havia uma diferença entre cantar sobre algo que te toca o coração por um momento e cantar sobre algo que fará parte da sua biografia.

Antes, era fácil aproximar-se do microfone, sentir a melodia da música entrar em seus ouvidos e soltar a voz, sentindo a música, não a letra. Agora, ela sentia vontade de chorar todas as vezes que dizia as palavras que intitulavam a canção, porque seu coração parecia despedaçar de saudade de Luke.

Caos perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora