A Noiva do Táxi

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          Há quem dissesse que o trânsito na capital era coisa de outro mundo, com carros para todos os lados, vendedores ambulantes fazendo parte do tráfego e um estresse fulminante circulando entre os seus motoristas. Andar naquela cidade era algo extremamente desgastante, principalmente para os seus taxistas. Belém carregava em sua história muitos pontos turísticos, desejáveis para quem os visitasse e dignos de um lindo registro, porém, o foco de todo aquele fluxo infernal, tinha como destino os cemitérios da capital, era Dia de Finados, tempo em que se faziam as suas visitas para os mortos.

            Era difícil avistar alguém que não carregasse um maço de flores de plástico ou um pacote de velas amarelas, e quem poderia fazer mais do que uma visita aos túmulos em sinal de respeito? aquilo era o máximo a se fazer na ocasião. No Dia dos Mortos, todas as sepulturas ganhavam um brilho ao chão onde eram enterrados, em um lugar escuro como os cemitérios por um momento ganhavam-se um pouco de vida.

            — Com licença, senhor! — Esta era uma voz feminina, suave e calorosa. — Tu podes me levar ao canal da avenida Visconde Souza Franco?

            — Claro que sim, minha linda moça, será um prazer. — O homem era exageradamente comum, com barba mal feita e uma barriga de cerveja, dono de uma gentileza duvidosa e um sorrisinho amistoso. De certa forma carregava uma língua afiada, mas ninguém o julgaria já que; quem não gostava de uma boa fofoca ou aquele belo comentário de índole maldosa? — Venha. Entre antes que o tempo feche.

              A jovem era dona de uma beleza única, seleta e manipuladora, com cabelos lisos e compridos, enraizados com enfeites brancos, semelhantes as flores brancas que floresciam nos cemitérios a noite. Seu vestido era branco, ironicamente parecia um vestido de noiva, e a jovem carregava feições tristes, claro, era fácil reconhecer a aflição em um rosto tão amigável.

           — Está tudo bem, moça?

           — Helena, me chamo Helena — Tocando o seu ventre lentamente. — E sim, estou bem. Obrigada. Senhor...

           — Carlos — Respondeu o taxista de forma ligeira. Sem que Helena prestasse atenção, o taxista arrumou o seu cabelo rapidamente, certamente estava sem jeito com uma linda mulher entrando dentro de seu carro.

           — Agora, Carlos, leve-me ao canal.

          Certo que em uma cidade onde a maioria estava fazendo oferendas a gente morta, era normal achar estranho alguém que não estava indo comprar flores ou indo para algum cemitério.

           — Gosta de histórias, Carlos?

           — Não muito, dona Helena, não muito... — Completando a moça e passando a mão mais uma vez nos seus cabelos suados.

           — Eu tenho uma história, de um lindo homem que também se chamava Carlos, que largou a mulher que o amava no altar junto de seu filho. — Carlos não era do tipo que gostava de conversa durante as suas corridas, mas, tomado pela sua tão dominante gentileza, resolveu escutar a história da moça.

          — É uma história trágica — disse a jovem olhando pela janela do carro. — Daquelas que só são lembradas em ocasiões com esta.

          — Conte, dona Helena — Conte logo a história.

          — Não foi há muito tempo, lembro-me bem — Contava a mulher carregando um brilho vazio em seu olhar, totalmente inexpressível. — Uma jovem se apaixonou por um rapaz bonito com a alvorada e charmoso como o amanhecer no inverno, de postura hipnotizante com uma lábia inescapável.

A Noiva do TáxiOnde histórias criam vida. Descubra agora