CAP.1 A rainha das corridas

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Dizem que a vida é feita de escolhas, mas acho que quem disse isso era claramente rico.

Com dezoito anos de idade tudo que se pode querer da vida é sucesso. Eu com dezenove só quero viver.

Observo a sala da minha casa completamente revirada, que bom que a minha mãe ainda não chegou, os sofás tombados, as almofadas espalhadas pelo chão, os quadros de pintura artesanais que minha mãe costuma fazer estão todos tortos nas duas paredes perto da TV e as nove medalhas de natação do ensino médio do meu irmão mais velho, os objetos de decoração encima da estante, uma pequena estátua de anjo branca, que não quebrou por um milagre, carros de Ferrari e opalas em miniaturas desorganizados na lateral esquerda. Os troféus que meu pai ganhou em corridas profissionais na estante ao lado direito estão intactos, vinte e vete vitórias, fora as que não passaram na televisão pois foram ilegais, e é a única coisa que Frank Rogers ainda respeita por aqui.

- Eu vou te recompensar se deixar pra próxima!

- Cala a boca, porra! - Frank grita jogando o vaso branco de porcelanato com o desenho de uma pata horrível que minha mãe pintou, aliás, o favorito dela. O vaso bate contra a parede e se torna em instantâneo estilhaços no piso marrom escuro recém limpo.

Fechei os olhos buscando autocontrole da raiva, sinto meu sangue fervilhando por dentro, seguro meus dedos de punho fechado, fazendo com que fiquem dormentes pela força que coloco neles.

- Cara, ela vai me matar.... - resmunguei de cabeça baixa.

Frank não havia escutado e começou a gritar novamente.

- Eu apostei o triplo do que tô acostumado! Você tem que ir essa noite! - continuou autoritário - Vai ser a melhor temporada do ano.

- Eu me comprometi com o Tio Austin que esse mês eu trabalharia mais na oficina, eu e você já tínhamos combinado! - argumentei, mesmo sentindo o que viria a seguir.

Frank deu passos rápidos até mim, com a respiração descompassada, suas veias do pescoço saltam, com o cheiro de álcool corriqueiro e os olhos avermelhados pelo uso da cocaína.

- Se lembra do que aconteceu em 2021?

- Sim, nossos pais morreram. - respondo de imediato.

- E você se lembra do que você fez?

Engulo em seco e junto, a raiva e a culpa.

- Sim, Frank. Como eu poderia esquecer? - perguntei retoricamente enquanto ele aperta meu ombro com força, avisando que não gostou do meu tom.

- Então, você vai fazer a porra do que eu tô mandando! - Gritou mais uma vez.

- Eu preciso de dinheiro, Frank. O médico aumentou os medicamentos da minha mãe, Jackson comprou mais drogas de um dos seus traficantes. Como vou lidar com isso, só com as corridas!?

Frank bufa e retira seu toque de mim.

- As coisas vão mudar, vai entrar mais dinheiro nas corridas, fora uns trabalhinhos que você vai fazer. Sabemos que você não têm escolha! Então pare de arrumar desculpas!

Suspirei cansada, Jackson seu fodido.

- Tudo bem, Frank, mas então esqueça a nova dívida do meu irmão, o Will prendeu ele há seis dias! Não sei mais o que inventar pra minha mãe.

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