Na vila a qual nasci e cresci, acreditava fielmente numa lenda urbana. A lenda dizia que quando era cometido um contra a natureza humana, os filhos da sombras viriam atrás de você. Como qualquer outro adolescente não acreditava muito nessas coisas, mesmo que a quantidade de casos de adolescente e casados que traiam seus companheiros só tivesse aumentado.
Em uma noite, minha melhor amiga chegou em minha casa chorando, dizendo que havia cometido um delito contra a lei da lenda, havia sem querer atropelado um guaxinim por estar distraída, e agora estava com medo dos filhos da noites vim atrás dela. Enquanto tentava acalma-la, Camila uma menina da nossa escola que já se encontrava em minha casa, apenas começou a rir da situação e do desespero de minha amiga. E começou a detalhar com certa animação que já havia raspado o cabelo de uma menina da escola naquele mesmo dia, contava como a menina implorava enquanto a maquininha era passada por seus cabelos, o único delito que a menina cometeu para Camila fazer isso, era ter os cabelos e rosto bonitos e isso chamou a atenção do namorado da Cami, enquanto ia contando dava para perceber que a mesma adorou fazer tal crueldade. Outra quebra da lei da lenda.
Por não acreditar nessas coisas, apenas comentei o quão cruel Camila tinha sido e se não tinha medo da menina ir a polícia, a mesma com pura confiança apenas disse que a menina não teria coragem para tal coisa. Como Camila parecia não ouvir a lógica, voltei a minha atenção para Brenda e falei com minha amiga na intenção de acalma-la, que por não ter intenção e nem a maldade eles provavelmente deixaria passar dessa vez, ela sempre acreditou fortemente na lenda.
Bom, errada eu não estava sobre os conselhos que dei naquela noite. A única coisa a qual me arrependo, foi em ter concordado de ter uma festa do pijama em minha casa, naquele dia.
Por volta das onze horas da noite, ainda nós encontravamos todas acordadas, conversando tranquilamente sobre escola, trabalho, namorados, em geral sobre como víamos nosso futuro. Cada uma revelando seus maiores desejos e anseios para o que nós esperava ao longo dos próximos anos.
Bem, antes de continuar o relato, devo pontuar que minha casa nunca deveria ficar em completa escuridão, temos três geradores e diversas luz reservas, teto que armazena luz solar, tudo para que o escuro nunca domine o interior da casa.
Enquanto conversamos calorosamente e rimos como se nada pudesse afetar nossa vida, ao longe começo a ouvir um barulho vindo do jardim, um som de algo se mexendo, como se fosse pegadas pesadas de alguém que carrega muito peso em suas costas. Em primeiro momento cogitei a hipótese de ser minha mãe chegando em casa depois de um longo período de trabalho.
O que me faz descartar essa ideia, é que mesmo quando os sons foram ficando mais próximos da casa, em momento nenhum consegui ouvir o barulho do sapato contra a madeira do piso da varanda, ou da porta principal se abrindo, e assim que o som sumiu toda a luz da casa apagou-se, nós deixando em completa escuridão.
O desespero começou a tomar conta de meu ser.
Lembro claramente da Camila rindo e zoando que me gerador não estava funcionando, enquanto Brenda estava tão desesperada quanto eu, estávamos quase chorando, pois tínhamos plena consciência de que minha casa era preparada para passar um semana ou até mais tempo sem energia. Eu me encontrava em estado de choque, não conseguia mexer nenhum músculo para procurar uma lanterna, todo meu corpo parecer virar uma estátua de pedra. Morria de medo de escuro.
Quando Brenda ainda com lágrimas molhando seu rosto, contudo não congelada em choque como eu me encontrava, tentou alertar Camila que algo de errado estava acontecendo, e que achava que era melhor saímos de casa e procurar um vizinho. Camila nem deu importância para tal coisa, apenas respondeu que era só uma queda de energia, que o máximo que precisávamos fazer, era religar os geradores.
Enquanto tentava me acalmar, Camila se levantou dos amontoado de almofadas, provavelmente a procura de seu celular ou de uma vela. Quando a mesma voltou se sentar, senti como se o ar do quarto tivesse mudado, para um clima tenso e frio, ninguém se atrevia a falar mais nada. Era como se algo estivesse passando entre nós, e uma respiração longa e que lembrava os ventos gelados da praia, estivesse sendo sobrados contra meu ouvido. Um forte cheio de grama úmida e lama se instalou no ambiente, e algo muito gelado passou por nossas peles, aonde estavam descobertas. E isso fez todos os pelos de meu corpo se arrepiarem.
O som do choro misturado com o som do vento, começou a se tornar em algo angustiante, era como se tivesse sido transportada ao um manicômio, os sons de passos voltou a ser presente, porém parecia como se estivesse muito longe, e ao mesmo tempo muito perto.
Quando a luz finalmente preencheu o ambiente, descobrimos que o escuro era mil vezes mais acolhedor e confortável. Ao lado esquerdo de Camila, se encontrava algo inumano, um monstro, um demônio. Era um muito alto, tinha um rosto parcialmente derretido, antes que conseguisse ver mais alguma coisa a luz é apagada.
E em meio a total escuridão, uma voz profunda, nós deu a certeza que aquele monstro ainda se encontrava entre nós.
_ Alma pura e inocente seus pecados foram perdoados. - Disse tais palavras muito perto de mim, contudo sinto os dedos quentes, se fecharem ao redor do meu pulso, indicando assim que a pessoa a qual ele estava mais perto era de Brenda.
_ Alma pura e confusa, nossos caminhos ainda se cruzaram novamente. - Algo gelado é passado por minha contas até chegar em meu rosto, quando tento me afastar, outra coisa gelado é passado em volta de minha cintura, sinto um nó se e formando em minha garganta, por medo de que suas palavras realmente se tornassem reais, e pela tonalidade mais doce que o monstro tentou usar, era para que essas palavras me transmitisse calma e tranquilidade.
Ao sentir minha temperatura voltar ao normal, me sinto um pouco aliviada, o que não dura muito, já que em meio de alguns minutos a voz volta a se pronunciar.
_ Criatura cruel e malvada, por seus pecados cometidos sem nenhum pudor. Agora conhecerá o destino das almas errantes.
Quando as luzes se acenderam, em primeiro momento sentimos um incomodo para se ajudar a claridade. Ao olhar para a janela percebemos que Camilla estava pendurada com lágrimas nos olhos.
_ Agora eis uma alma crédula, porém não tenhas medo de mim, quando nós encontrarmos novamente, entenderá que não tenho uma alma tão cruel quanto aparento. - A última coisa que consigo ouvir, antes de ver Camilla despencar.
Quando chegamos perto da janela, percebemos que nada tinha acontecido, o corpo de Camila que era para se encontrar no chão, não se encontrava ali.
Depois desse acontecimento que mudou toda a minha vida, resolvi sair da minha minha vila e me mudei para a cidade grande, desde que tomei essa decisão nunca mais voltei para comemorar nenhuma data especial com minha família, porém ainda mantenho contato com todas as pessoas importantes que moram lá.
Sobre o caso da Camilla, durante os primeiros meses, houve uma procura intensa pela mesma, porém com os únicos relatos e testemunhas dizendo que a lenda a qual a vila inteira acreditava, levou Camilla. A investigação foi encerrada como morta no dia 02/10, causa não confirmada.
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