One Shot

9 2 0
                                    


Em algum lugar no norte da Itália. Em um dia ensolarado um garoto se escondia em seu quarto, não por escolha, talvez antes fosse, mas agora era só impossível se levantar novamente, não no estado de fraqueza que se encontrava, apenas para se sentar na cama já havia sido esforço demais.


E agora ele estava aqui, segurando uma canela e um pedaço de papel, ponderando se deveria ou não fazer aquilo. Olhando pela janela e vendo a paisagem verde e brilhando ele suspira e volta sua ocupação atual, tomando coragem e colocando a caneta no papel antes que se arrependesse.


Como começar? Talvez perguntar como ele estava? Não, não. Querido Oliver. Não. Querido Élio. Sim, um bom jeito de começar o fim dessa história.


"Querido Élio,


Ultimamente, não consigo parar de pensar como nossas estradas nos levaram a lugares diferentes, é doloroso pensar que tudo que fizemos e sentimos, até as coisas mais puras, foram sem objetivo.


Quando você se foi, todas as coisas que gostamos, livros, poemas, músicas, nossas conversas, tudo isso passou a ser agridoce.


Estou perdido em tristeza, nem o amor de Marzia é como seu. Aqueles arrepios, aquele frio no estomago, eles não estão aqui sem você. Nada parece importar sem você, por que sinto que ninguém me amou minha vida toda como você me amou em 5 meses.


Desde que aquele dia quente de verão que você chegou, todos os meus dias monótonos e sem brilho, deixaram de ser sombrios. Até sol parece mais quente quando estou com você. Existira uma versão nossa em algum lugar com um final mais doce e colorido que o nosso? Um final genuinamente feliz?


Posso parecer um tolo, que nunca vou superar esse amor de verão, um amor de verão no qual pulei de cabeça, mas vc é tudo o que vejo. Mesmo chafurdado na tristeza da sua ida, não esqueço o que me fez sentir, algo que nem Marzia fez.


E por falar em Mariza, ah Doce Marzia, tão perfeita. Ela tiraria o mundo das minhas costas, se um dia fosse difícil de me mover. Ela transformaria a chuva em arco-íris quando eu estivesse afundando em tristeza, então por que, se ela é tão doce e perfeita, eu ainda desejo que seja você aqui, ainda desejo seu toque. Perfeito não significa que funciona.


Porque às vezes eu olho nos olhos dela e é quando encontro um vislumbre de nós. Tento desesperadamente me apaixonar pelo toque dela, mas o toque dela não é o seu, e eu ainda penso em como foi. Eu disse a todos que estou bem, que estou seguindo em frente, mas quando eu olho nos olhos dela, vejo um vislumbre do que poderia ter sido nos, e tudo desaba.


Diga-me que ela, a mulher sortuda que te roubou do meu alento, saboreia sua glória, ela ri como eu ria? Faz parte da sua história de um jeito que nunca fiz. Talvez você se sinta solitário, preso, e quando olhar nos olhos dela, você verá um vislumbre de nós, vislumbre de liberdade, e talvez você escorregue lentamente e me encontre novamente.


Mesmo nos braços dela eu ainda sinto você, eu ainda tento me apaixonar por ela, paixão que sentia quando era você, mas só estou aqui passando um tempo nos braços dela, esperando entrar um vislumbre de nós enquanto você está fora de vista.


Estou aqui escrevendo isso com minhas últimas forças, longe dos braços acalorados de Marzia, e longe dos seus, porque não sai mais quanto de mim ainda resta, quanto tempo ainda tenho. Me desculpe, não consegui ser forte, não consegui seguir em frente, fui negligente, fui um tolo, me deixei adoecer enquanto me afundava na cama remoendo minha dor. Parei de ler, porque os livros me leram você, parei de escutar música, porque as melodias me leram sua voz, parei de sair de casa, porque o sol me lembra seus olhos, seus olhos sempre tão brilhantes.


E agora estou aqui, doente de corpo e alma, desmotivado, destruído, sem motivos para continuar esperando desesperadamente achar um vislumbre de nós.


A algum tempo atrás meu pai estava lendo um livro sobre mitologia, o mesmo livro que conta sobre a caixa de pandora, nele diz que quando a caixa se abriu todos os males do mundo saíram, e por último a esperança. Então muitos tentaram achar o porquê disso, alguns dizem que é porque a esperança é a última que morre, e por isso o pior dos males, pois prolonga o sofrimento do homem. Eu costumava discordar, até você ir embora.


E sofrendo por todos esses meses eu ainda tinha esperança de você voltar, e mesmo agora, ao provável leito de minha morte, eu tenho esperança de que você vai voltar, mas se está lendo isso, então é porque não voltou, pelo menos não a tempo.


Com carinho, Oliver."


E ponto final. Seria dramático demais dizer que o ponto final foi marcado com uma lagrima? por que não haveria melhor maneira de descrever o estado de Élio agora. Olhos dele ardem enquanto choravam elas palavras escritas e não escritas, palavras ditas e não ditas, momentos vividos e não vividos, promessas feitas e quebradas.


Insatisfeito, era assim que ele se sentia sobre a carta lendo novamente, mesmo cada palavra sendo verdadeira, não era o suficiente para expressar o quão quebrado, sufocado, aflito, amargurado ele se sentia nos últimos meses. Com as mãos tremulas ele seca as lagrimas, pega a carta, e com uma pontada de dor no peito, amassa e joga em qualquer direção no chão do quarto, o mais longe que seus braços cansados conseguem, e então se deita.


Engraçado, ele podia jurar, que deitado agora olhando o teto com a consciência quase sumindo, ele podia escutar a voz de Oliver. Ele poderia se apegar a essa falsa ilusão, essa esperança, mas pela primeira vez ele se sentia leve com a ideia de apenas esquecer, esquecer como ele foi esquecido.

Em algum lugar no norte da ItáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora