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𝐄𝐓𝐇𝐄𝐋 𝐆𝐀𝐌𝐎𝐀𝐍 𝐒𝐄𝐌𝐏𝐑𝐄 𝐀𝐏𝐎𝐒𝐓𝐎𝐔 𝐍𝐎𝐒 𝐂𝐀𝐕𝐀𝐋𝐎𝐒 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐄𝐃𝐎𝐑𝐄𝐒. Ou pelo menos isso era o que seu pai dizia toda vez que ela fazia algo errado, ou confiava em alguém que não devia.
— Não confie em ninguém — Keith Gamoan havia repetido diversas vezes — Nem em suas irmãs. Confie em si mesma, e em suas armas. Todas as outras pessoas no mundo podem e vão te trair.
Ethel sabia que era verdade; ela conhecia o mundo em suas diversas nuances, sabia que a pior arma que alguém podia usar contra ela era a confiança — mas, ainda assim, Ethel era alguém que confiava. Alguém capaz de acreditar que ainda havia bondade no mundo...
Mesmo que ela mesma jamais tivesse conhecido a bondade.
Ou melhor, não tivesse conhecido a bondade até o momento em que ela conheceu Steve McGarrett.
— Você já parou pra pensar que talvez... — Ivy havia lhe dito uma vez, seus olhar fixado na praia a frente delas duas, um olhar sonhador que Ethel nunca havia visto na irmã do meio — Só talvez... o papai estivesse errado? Que talvez existam pessoas boas no mundo?
Ethel nunca havia pensado nisso. Apenas a perspectiva de duvidar de seu pai, de ir contra ele (mesmo que apenas em pensamento, em uma ilha a quilômetros e quilômetros de distância do que elas chamavam de casa — se é que Ethel e Ivy sabiam o significado da palavra "casa") era assustadora e quase impensável. Quase.
— Ele estava — Ethel sussurrou, segurando firmemente na mão de Ivy, seus olhos perdidos no horizonte azul — Eles são bons. A 5-0. Eles são os melhores.
Mas de que adiantava ser o melhor em algo se eles não podiam salvar quem precisava, na hora que essa pessoa precisava deles?
Essa era a única coisa na mente de Ethel naquela noite, estirada no chão de sua própria casa, sentindo-se cada vez mais fraca enquanto o sangue jorrava sem parar de sua ferida.
Ela sempre apostava nos cavalos perdedores.
— Estão jogando um jogo perigoso, meninas — a Governadora Jameson havia lhes dito uma vez, seu olhar feroz claramente vidrado nas três, um aviso claro em seu tom de voz — Enquanto vocês estiverem aqui, vocês fazem o que eu mando. E eu tenho certeza que vocês não gostariam que eu avisasse Keith que suas três garotas estão pensando em traição, não é?
Havia apenas uma resposta certa, e elas a haviam dado. E, talvez, Ethel não tivesse sido baleada se ela tivesse traçado o caminho mais seguro — aquele em que ela apenas fazia o que lhe era ordenado, e tudo estaria bem no fim do ano, quando a Governadora Jameson conseguisse jogar a culpa de seus erros na primeira pessoa disponível; talvez ela estivesse no caminho de casa, pronta para uma próxima missão, movendo seus braços e pernas conforme o programado por seu pai...
Talvez, se ela não tivesse apostado todas as suas fichas em Steve McGarrett, ela teria uma chance...
— Ethel? Ethy, é a Marjorie!
Ethel gemeu. Não sabia há quanto tempo estava deitada ali, mas sabia que havia perdido muito sangue, incapaz até mesmo de manter seus olhos minimamente abertos — estava doendo tanto; se aquela fosse a dor da morte certeira, ela entendia porque cada uma de suas vítimas implorava por uma morte rápida quando ela os encontrava — nunca havia sentido tanta dor em sua vida, e, naquele momento, tudo o que Ethel queria era estar morta.
— Ethy... — a voz de Marjorie enfraqueceu, e Ethel conseguiu ouvir (ou achou que ouviu, considerando que ela já não sabia mais o que era a realidade e o que era apenas fruto de sua imaginação) quando ela puxou o ar ruidosamente para seus pulmões, seus passos se aproximando rapidamente do corpo da irmã mais nova, mãos imediatamente indo em direção ao buraco que a bala havia deixado — Meu Deus. Meu Deus... Danny, aqui em cima!
Danny. Danny Williams. Detetive Danny Williams.
— Oi, eu sou o Danny — Ethel conseguia se lembrar do sorriso nos lábios de Danny quando ele se apresentou, um misto de flerte (o que ela descobriu ser um dos hábitos dele) com zombaria, um sorriso tão característico que imediatamente mostrou para ela que os dois se dariam bem.
Danny havia sido a primeira pessoa em quem Ethel havia confiado. Danny era bom.
— Ah, meu Deus! — Danny engasgou, o som de suas passadas pesadas se aproximando do corpo de Ethel, também — Aqui é o Detetive Danny Williams, eu preciso de uma ambulância urgente para a casa da Governadora.
A casa da Governadora? Então Ethel não estava em casa?
— Aguenta firme, Ethy — Marjorie sussurrou, suas mãos não deixando o buraco da bala em momento algum — Você vai ficar bem, a gente vai te tirar daqui. Aguenta firme.
Ethel assentiu — ou tentou, ela não tinha certeza; seu corpo estava mole, ela mal conseguia sentir qualquer um de seus músculos, e a dor... a dor havia sumido.
Ethel sabia o que vinha depois disso.
— Ethy? Ethel! — Marjorie sussurrou. Ou talvez ela tenha gritado, Ethel já não tinha certeza mais; a voz dela estava tão longe... — Ethel, por favor, fica comigo! Você não pode morrer!
Ethel Gamoan sempre apostou nos cavalos perdedores. Mas, dessa vez, ela havia sido um deles — havia apostado todas as suas fichas em uma liberdade que não passava de um conto de fadas, uma falsa sensação de alegria no meio do mais puro caos. E por um momento, Ethel havia achado que ela poderia vencer seu pai, finalmente soltar as amarras que a prenderam por tanto tempo e fugir de um passado amedrontador, um que ela havia tentado esquecer, e finalmente alcançar a redenção.
Mas não havia redenção, não para Ethel — e muito menos para suas irmãs. Havia apenas castigo, carma, e ela merecia aquilo.
— Como você acha que é a morte, Ethy? — Marjorie havia lhe perguntado uma vez, em uma das raras ocasiões em que as duas haviam realmente agido como irmãs, e não apenas como parceiras no crime — O que você acha que a gente vai ver quando chegar no outro lado?
Ethel se lembrava de ter rido, uma risada seca e sem nenhum traço de humor, antes de responder:
— Vai ser um purgatório. Todas as pessoas que a gente já machucou... que a gente matou, esperando pra devolver o favor — ela mordeu o lábio inferior, tentando esconder da melhor forma possível o medo que sentia — E o pior é que nós vamos merecer isso.
Ethel estava errada.
Porque quando o coração dela parou, seu cérebro parou de processar os estímulos exteriores e seus ouvidos já não ouviam mais as súplicas de sua irmã, não foi uma antiga vítima ou um inimigo de seu pai que Ethel viu.
Quando a morte chegou para Ethel Gamoan, quem a saudou do outro lado foi Steve McGarrett.