Caçadoras de demônios

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- Não parecem irmãs. - disse o senhor que guiava a carruagem.

- Erih e eu fomos criadas em lugares diferentes. - respondeu a caçula. Já a mais velha, optou por continuar observando a paisagem.

- Entendo, não é fácil manter a família unida em meio a tanto caos – o homem começou a contar. - Uma hora está aqui, outra ali, quando vê já se separou da família e só os deuses sabem se irá encontrá-los de volta.

A caçula se interessou pelo assunto.

- Fala por experiência própria?

- Sim. - Bufou, chateado pela triste lembrança. - Meus pais sumiram quando eu ainda tinha nove anos e acabei sendo criado por um grupo de comerciantes. Não eram dos mais simpáticos, mas levavam uma vida extraordinária. - Agora as lembranças o faziam sorrir. - Quando cheguei aos treze anos estava vivendo o sonho de qualquer garoto: bebia, dormia com uma porrada de mulheres e viajava de cidade em cidade repetindo esse processo.

- Parece ter sido uma vida repleta de aventuras.

- Não durou muito, entretanto. - disse enquanto fazia os cavalos girarem a direita. - Um dos três idiotas morreu de tanto beber, o outro foi assassinado porque se meteu com a mulher de quem não devia e o último, bom, o último... - O homem tentava segurar a risada, mas não conseguiu, até chegar ao ponto de gargalhar. - O desgraçado tentou enrabar uma cabra e acabou sendo jogado do penhasco pela mesma.
A jovem de cabelo curto também riu com o homem.

- Ora, vamos, Erih, foi engraçado. - disse enquanto cutucava a irmã mais velha que continuava a observar as montanhas.

- Me poupe, Yue. - respondeu a moça de cabelo longo e encaracolado.

- O que houve com ela? - perguntou o homem, em um tom baixo, para que apenas Yue o escutasse.

- Nada, ela é sempre assim. Digamos que sua infância não foi das mais divertidas.

O homem assentiu com a cabeça e a viagem prosseguiu em silêncio por um período.

- Como se chama? - Perguntou Yue. Voltando a interromper o silêncio.

- Geralt, por? - Respondeu o homem grisalho, sonolento.

- Geralt, conte-me mais sobre sua história. - A viagem era longa e o tempo não passava. - O que fez depois que os três morreram?

- Bom, apesar de suas mortes o comércio não pararia, então, como já conhecia as rotas e tinha os contatos decidi contratar pessoas que pudessem me ajudar e mantive o negócio. - O cansaço desaparecia enquanto relatava.

- Veja, um homem de negócios. - Comentou a jovem, descontraída, dando palmadas nas costas do condutor. - E o que aconteceu para que abrisse mão dessa vida tão prazerosa para vir transportar desconhecidos nos mais remotos cantos do continente?

- Ah, essa é uma excelente pergunta, jovem. - Limpou a garganta antes de continuar. - Veja, a minha vida era agradável, quase sem problemas, o dinheiro era o suficiente para comer e satisfazer minhas necessidades. Acontece que aquele era o mundo ideal que eu imaginava quando criança, mas com o passar do tempo se tornou algo vazio, sem propósito. Foi aí que decidi comprar esta carruagem e explorar o mundo, ir aonde os comerciantes não vão.

- Explorar o mundo? Quer dizer então que não se limita apenas ao nosso continente? - Perguntou Yue.

- Por enquanto sim, mas logo partirei rumo a novas terras.

- Fer'Ol? Dragões?

- Ainda não sei, o destino logo dirá.

A noite caiu, obrigando a parada da caravana. Os três armaram uma fogueira e se juntaram para o jantar.

- Geralt? - Yue chamou mais uma vez. A garota desde sempre se interessara por conhecer a história das pessoas.

- Pois não? - disse enquanto mordia um pedaço de pão.

- Qual foi a coisa mais impressionante que encontrou durante suas viagens? - desde

criança a jovem sonhava em encontrar os bravos anjos das lendas ancestrais ou inclusive as temíveis feras abandonadas pelos deuses como os dragões e leviatãs.

- Nada de tão extraordinário, apenas pessoas peculiares. - Geralt tentava lembrar de

alguma história interessante. - Uma vez um rapaz me disse que era imortal. Segundo ele era impossível que qualquer coisa o matasse, nem mesmo magia. - Balançou a cabeça. - Quanta besteira.

Yue discordava. Em sua experiência na estrada já havia se topado com pessoas que

alegavam sofrer de imortalidade. Entretanto, a imortalidade que possuíam era limitada, diferente da que o senhor relatava, que segundo diziam os estudos, seriam os imortais puros.

- Por acaso viu ou ouviu falar sobre um coveiro que enterra pessoas vivas? - A pergunta

chamou a atenção do senhor grisalho. Erih também ficou atenta.

- Bom... - hesitou - Não faz muito tempo que um rapaz de cabelos escuros me parou na

estrada pedindo para transportar sua mercadoria. Primeiro pensei que se tratasse de roupas pois vi algumas saindo dos enormes sacos que ele carregava. - Pigarreou. - Depois pensei que fossem animais quando um dos sacos começou a se mexer. Mas no final... - Tinha nojo só de lembrar.

- Os animais não sabem falar no nosso idioma, correto? - Observou Yue.

- Como soube? Conhecem esse indivíduo? - Perguntou espantado.

- Sim. Estamos procurando-o desde que os casos começaram a se alastrar por diversas

aldeias e vilas. - Revelou a jovem. - Mas conte-me, o que fez quando descobriu que estava transportando pessoas ao abate?

- Eu... - sua voz falhava. - Eu apenas segui em frente. Fingi que não havia escutado nada

e continuei o trajeto. Temi por minha vida durante o dia inteiro. - O medo aparecia em seu rosto enquanto revivia as lembranças. - Pobres almas...

- Não se sinta culpado. - Erih finalmente falou. - Fez o correto. Pessoas como esse

homem são capazes de matar por qualquer motivo banal. Quanto menos aparecer para sujeitos como esses, melhor.

- Disse que temeu durante o dia inteiro, correto Geralt? - Perguntou Erih e o homem

assentiu. - Significa que a viagem durou apenas um dia?

- Sim, foi um caminho curto, levei-o de uma aldeia à outra.

- Era como suspeitávamos, Erih, é um ritual territorial. - Disse Yue para a irmã, que

parecia preocupada com a situação. - Devemos agir o mais rápido possível.

- Espere, quem são vocês? Estamos indo de encontro com esse monstro? - perguntou o

homem preocupado.

- Somos caçadoras de demônios. - Revelou a mais nova. - Receio que estamos

presenciando o que talvez seja o caso mais grave que já vimos.

- Então quer dizer que...

- Sim, eles são reais. - Completou Erih. - E não, não estamos indo de encontro com o

monstro. Vamos encontrar alguém que possa nos levar até ele.

- E quem seria essa pessoa? - perguntou o homem enquanto tentava processar toda

aquela informação.

- Uma bruxa. - disse Erih. 

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⏰ Última atualização: Aug 14, 2022 ⏰

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