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“Eu ainda não acredito que sobrevivemos a esse dia”
Gabrielle engatinhou pela cama para se encostar contra Xena, que estava sentada na cabeceira desfazendo-se das amarras do vestido de festa azul turquesa.
“Nem eu”
Ela levantou o braço para que Gabrielle se encaixasse ao redor deles.
“De quem foi a ideia de chamar o papai e a mamãe para virem aqui?”
Xena olhou para ela como se a resposta fosse óbvia e Gabrielle concluiu rapidamente sentindo a raiva dominando-a “Joxer!”
Talvez não tenha sido totalmente culpa dele, Xena pensou. Em parte ela tinha culpa também por compartilhar com ele as suas intenções.
Era para ser um jantar simples de aniversário para Gabrielle, algo diferente de peixe, vagem e carne de veado que costumavam comer na estrada. O que não incluía a presença dos pais dela em sua casa, em Anfípolis, com a sua mãe, tão pouco a quantidade absurda de comida em sua mesa. Foi o que ela pensou argumentar em sua defesa quando Cyrene a acusou - após ter reclamado sobre o banquete desnecessário que ela estava preparando - mas sua língua ficou presa entre a razão e a inevitabilidade do caso e acabou por não dizer coisa alguma. Àquela altura Hécuba, Heródoto e Lila já estavam a caminho, de qualquer forma, era tarde demais para mandá-los voltar. E ela imaginou que, com Gabrielle feliz em revê-los, talvez desistisse de passar uma temporada em Potedea.
Ela não desistiu, no entanto.
O que fazia daquela a sua última noite juntas por pelo menos quatro semanas. O pensamento fez o coração de Xena apertar, e um nó se formar em sua garganta. Ela apertou o braço de Gabrielle e encostou o queixo contra a cabeça dela de forma protetora.
“Eu vou matar ele amanhã, Xena, eu juro!”
Xena sorriu um pouco beijando o topo da cabeça de Gabrielle e sentindo o aroma agradável flores do campo.
“Eu imaginei que você estivesse feliz”
E ela parecia feliz quando os viu; o sorriso crescendo em seus lábios quase rasgando as bochechas de tão largos e os olhos brilhantes de lágrimas contidas.
Gabrielle deslizou os dedos por entre os dedos de Xena, pressionando-os com certa força enquanto olhava para suas mãos unidas.
“Você sabe que foi constrangedor”
Os dedos de Xena pressionaram os dela também, deixando várias marcas vermelhas ao redor deles.
“Pelo menos eu pude vê-la em um vestido” - Gabrielle concluiu sorrindo enquanto virava o rosto para observá-la.
Não que Gabrielle nunca a tenha visto de vestido. Ela nunca tinha visto Xena em um vestido camponês tão simples e ao mesmo tempo tão bonito; o azul turquesa contrastando com sua pele morena e olhos. Aqueles olhos enormes e azuis como o mar. Até mesmo seu pai, Heródoto, tinha ficado impressionado com o quão ordinária ela parecia em uma vestimenta comum, sem a pintura escura ao redor dos olhos e sem suas armas. Ele quase não a tinha censurado durante o jantar, nem olhado como se fosse uma intrusa em sua família. Parte disso talvez se devesse à simpatia de Cyrene. Ela era uma boa anfitriã e sua mãe tinha gostado dela o suficiente para conversar a noite inteira, nunca deixando abertura para que Heródoto falasse uma sílaba sequer.
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Um Pouco de Orgulho
RomanceXena errou mais uma vez com Gabrielle e dessa vez, ela não está pronta pra perdoar. Um capítulo.