Único.

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Passava de meio-dia e nada de Adrian chegar, os meninos estavam impacientes por não conseguirem se ver longe da menina mais, Olivier tentava não parecer ansioso pelos papéis de adoção terem sido aprovados, cinco anos depois que saíram da ilha. Cinco anos após terem matado a face cega. Cinco anos treinando para a ordem. Cinco anos ao lado de Castello, seu esposo. Lembrou como se fosse tudo recente, as marcas que a criatura deixou em seu homem o lembrava do que sofreu, das amizades que perderam. Iara morrendo na frente das crianças após tirar Milo dos tentáculos, Vitinho tentando salvar Amora. Tudo isso estava marcado em suas pálpebras todas as noites durante um ano inteiro, foram várias sessões de terapia para ter uma noite boa de sono.

Foi difícil no começo, ver seu pai ser preso assim que chegou na cidade não ajudou. Amelie sempre dando o suporte que precisava facilitou para que lentamente o Florence pudesse se abrir, sua fobia social foi trabalhada, sua mente foi fortalecida. Se não fosse por um encaracolado que tirava toda sua sanidade quando sorria. Gradualmente foram tendo alguns momentos sozinhos, noite de filmes, tudo ideia de Amélie que assim que a dupla rural chegou na cidade exigiu fazer uma vez por semana para não perderem contato. Bárbara mais confusa que nunca só aceitou e perguntou para Milo como funcionava, outro que não soube responder. Wanderley que assim que chegou, foi levado às pressas para os enfermeiros da ordem. Nada grave, mas ficaram de olho por algumas semanas, depois que saiu fez questão de oficializar a adoção da dupla. Agora eram uma família.

Muitas horas de terapia foram gastas, e em cerca de um mês já estavam na ordem treinando para serem os melhores. Arthur se preocupava com tenebris então mandou seus melhores agentes fazerem uma busca geral na ilha de Tipora enquanto ajudava Wanderley, seu novo amigo, a treinar crianças novas. Amelie agora tinha cabelos mais curtos, porém ainda platinados com pontas roxas. Bárbara tinha uma grande cicatriz que emendava de seu olho até o pescoço. E Milo bem, ele tinha um olho falho e uma grande cicatriz passando pela metade de seu rosto. Agora ele precisava da tinta, a tinta que guardava em potinhos pequenos no seu bolso. Os quatro estavam juntos, com alguns danos, porém vivos.

Em algumas das noites de filmes, Olivier costumava ser o último da casa a dormir, ficando por horas no silêncio e escuro do quarto. Em algumas vezes quando sua visão se ajeitava com o escuro, espiava Miguel dormindo, o machucado todo cicatrizado graças ao ritual, o rosto sereno e respiração pesada que ele sempre tinha quando um pesadelo surgia. Muitas das vezes Milo acordava desesperado, e Olivier mesmo contestando a ideia um pouco o abraçava até se acalmar. Até chegar um momento que ele não se importava mais com Milo o abraçando nas noites que passava em sua casa.

Foi difícil assumir que sentia algo pelo garoto, não tinha amigos, como poderia ter alguém que pudesse chamar de seu? Não teria. Era difícil para os dois. Até que entendesse como deixar claro um para o outro o que estavam começando a sentir, Bárbara já tinha dado o primeiro passo com Amélie e estavam juntas a quase dois meses quando o primeiro beijo aconteceu. Miguel cansado de ver o irmão sofrendo, em uma noite perguntou se o garoto estava dormindo, e tomou coragem de perguntar se ele beijaria Milo. E no calor do momento, assim que Olivier se sentou na cama Miguel já estava indo com a boca em direção a dele, e mudando os papéis para o irmão assumir. O Florence nem soube o que fazer, tinha beijado uma única vez na vida, se sentia envergonhado, porém não arrependido.

E ali ficaram de pouquinho em pouquinho tentando se conhecer bem mais. Algumas saidinhas no meio da noite para verem as estrelas no parque da cidade, Olivier até gravou a inicial dos dois em uma árvore que ficava no centro, aquele era o lugar deles. Depois de muita enrolação, Olivier pediu em uma noite onde Júpiter encontrou Saturno, Milo em namoro. O Castello estava em seu primeiro relacionamento, tentava agir normalmente sempre que tinham seus encontros noturnos. Normalmente falava rápido demais quando ficava nervoso, e isso acontecia sempre que o namorado chegava perto.

Pode acreditar, é assim até os dias de hoje. Foram cinco anos para se aceitarem, para se mudarem, e para a adotarem. Adrian já estava chegando, repetia Milo do cômodo distante. Adrian já está chegando. Ele aceitou a adoção, mas por ter que trabalhar quase direto em outro lugar. Adrian estava chegando. Não. Amora estava quase chegando. Repitia na cabeça de Olivier a cada segundo.

Milo chegava na cozinha onde quase tinha um buraco no chão de tanto o moreno andar para lá e para cá. Olhou preocupado para o garoto e pediu para segurar sua mão, puxou ele e deu um beijo, o deixando mais relaxado com a situação. Florence parou por um segundo, olhou nos olhos verdes e deu um sorriso. Aquele era o cara pelo qual se apaixonou. Aquele era o garoto mais legal, não só dá ilha, mas de toda a cidade agora. O momento parecia durar minutos, quando a campainha tocou e Castello puxou ele até a recepção e abriu a porta.

Amorinha estava ali, sorridente ao auge de seus dezessete anos, tinha fones pendurados em seu pescoço e uma mala ao lado esquerdo. Adrian cumprimentava os meninos enquanto ela se abaixava para pegar bisteca no colo e entrava se despedindo do pai. Depois de uma longa promessa, estavam ali os garotos com uma pizza ao redor da televisão se divertindo. Amorinha estava em casa com pessoas que a amavam tanto quanto. E Olivier também.

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⏰ Última atualização: Aug 15, 2022 ⏰

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