IV.

344 58 89
                                    

Allucard, o Capitão de ego ferido.

Batidas suaves e firmes cortaram o tímido silêncio que preenchia o quarto principal do palácio.

A empregada, que encontrava-se agachada buscando por vestes sujas de sua majestade espalhadas pelo quarto, assustou-se levemente pelo ruído repentino. Colocou o cesto de roupas no chão e apressou-se para atender a visita que, em sua concepção, veio em horário totalmente inadequado. Ergueu seus lumes miúdos para fitar o corredor mal iluminado encontrando a figura do príncipe parado a sua frente.

O vento gelado atingiu sua derme, obrigando-a repuxar o cardigã que usava para cobrir melhor seus braços desnudos. O homem a olhou com desinteresse, o suor acumulado em sua testa denunciando que acabara de sair de um de seus muitos treinamentos.

— Vossa alteza. — curvou-se em respeito, por mais que a aversão pelo citado fosse evidente em seu timbre.

O Kim tinha ciência de que alguns cidadãos não o consideravam verdadeiramente parte da família real por ser filho apenas de Hemma, principalmente aqueles que o serviam cotidianamente. Lembrou-se de ser destratado por muitos durante a infância após seu segredo ser revelado ao povo e como isto o afetou por anos.

No entanto, agora com vinte e quatro anos completos e a responsabilidade de um exército inteiro entre seus dedos essa era a menor de suas preocupações, logo a maneira que a outra o tratou não fazia diferença alguma.

Era inabalável.

— Minha mãe se encontra? — questionou de forma ríspida, pois não trataria com respeito aqueles que não o mereciam.

— Ela está finalizando o banho, seria bom não incom—

— Não pedi nenhuma sugestão. — ergueu os dedos indicador e médio, fazendo que a mesma se calasse no mesmo instante. — Vou aguardá-la aqui.

A mais velha rolou as órbitas e deixou um resmungo fraco escapar ao que o rapaz adentrou o cômodo sem cerimônia alguma.

— Algum problema? — o acastanhado jogou-se contra as almofadas do recamier de cor arroxeada que ficava logo abaixo de uma das janelas de vidro.

— N-não senhor. — os orbes verdes lhe fitaram com uma intensidade de amedrontar. — Claro que não.

— Foi o que pensei. — ergueu um riso ladino passando a destra entre seus fios castanhos. — Retire-se, preciso conversar com Hemma em particular.

— Mas...

— É uma ordem. — ergueu uma de suas sobrancelhas bem feitas na direção da mais velha.

Suave como um coice. Vante riu da expressão que moldou o rosto da mulher.

— Como quiser, Vossa alteza. — ditou entredentes antes de pegar o cesto e sair.

Aposto que ela vai cochichar sobre você junto com aquela corja de pobretões da cozinha. O lupino esboçou completamente desgostoso. Zero dias de paz, o recorde são zero dias.

— Neste caso espero que ela acabe por morder a língua e se envene com a própria saliva. — relaxou seus músculos tensos.

Eu me pergunto onde está aquele garoto que tinha medo da própria sombra. Às vezes sentia saudades do seu antigo portador, ele tinha um gênio mais fácil de lidar.

CASTLEVANIA • JIKOOK Onde histórias criam vida. Descubra agora