— Vamos, Minhyuk! Estamos atrasados!
Pela vigésima vez, a minha mãe me chamou. Será que ela entende o que está em jogo aqui? Aliás, não é fácil arrumar uma mudança em uma semana, eu deixei muita coisa de lado pra focar no principal.
— Hongjoong, ajude seu irmão a encontrar o caminho da porta.
A silhueta de cabelos azuis apareceu na porta do quarto, que não é mais meu.
— Não dificulta, vai.
— Como eu gostaria de poder dificultar...
— Você deveria estar animado, não vamos precisar ter aquelas preocupações inúteis e...
— Hongjoong, viver sem preocupações lhe parece um bom jeito de viver?
— A você não? Mais anos de vida, mais tempo para os planos e curtir a vida como bem quiser. Quem não desejaria isso?
— Eu.
— Ah! Vamos lá! Do que está falando? Teremos a chance que a mãe nunca teve! Uma escola decente, oportunidades, uma vida melhor.
— Me deixe te lembrar que não estamos saindo de uma casa no subúrbio, pra ir à uma mansão apenas nossa, onde teremos ensino particular e depois, viajarmos pelo mundo. Vamos sair daqui e ir pra uma casa já habitada. Você nem sabe o que vai vir por aí!
— Olha, o que eu sei, é que a mãe está animada, o que vai vir por aí não deveria te preocupar tanto. Só temos um ao outro, Min, a mãe precisa de nós tanto quanto precisamos dela. Não é como se fossem separar a gente, isso está fora de cogitação. Agora, me dê uma dessas caixas e vamos descer, antes que ela venha nos buscar.
Hongjoong pegou uma das duas caixas que estava sobre o colchão da cama e carregou para fora do quarto, mas eu ainda não estou pronto para me despedir desse quarto.
Não há nenhuma história triste no meu passado, apenas um menino que cresceu com a presença da solidão, mesmo tendo a amável companhia de Hongjoong e uma mãe carinhosa. Talvez a única história é sobre dois menines que cresceram sem um pai, minha mãe não fala sobre isso, mesmo que o assunto possa surgir quantas vezes for necessário, ele nunca é falado.
Quando você cresce na presença da solidão, ela acaba se tornando uma amiga mais leal do que qualquer outra pessoa que possa existir e eu não posso reclamar de todas as vezes em que estou rodeado por pessoas e, ainda assim, me sentir completamente sozinho, com um enorme buraco vazio crescendo dentro de mim. Eu ainda sou um humano, isso é tudo o que posso afirmar com toda certeza do mundo, fora isso, é tudo muito complexo, tudo muito subjetivo. Ainda que a solidão faça parte de mim, é um dos principais motivos pra ser conhecido pela minha principal característica: “Esbanjador de alegria”, como sou chamado, carinhosamente, pela minha mãe.
Fato é, você não precisa ser um Sr. Simpátia pra levar alegria e sorrisos onde quer que vá. Um depressivo e suicida podem fazer isso, mesmo que ninguém saiba seu diagnóstico médico, ele ainda vai fazer o dia das pessoas melhores, fazer sorrir aquele senhor que só vive emburrado ou animar uma jovem senhora solitária.
— Por Deus, Minhyuk! O que está pensando da vida?! Vamos logo! O motorista não vai esperar pra sempre!
Se a minha mãe não tivesse que resmungar pela minha demora, não seria a minha mãe, tal como se eu não tivesse que demorar, não seria eu. Detesto ter que me desapegar de coisas ou locais significativos, sou o único apegado à memórias, afinal, para que sentir saudades de algo que já passou, não? Guardá-las em uma caixa e deixá-las em um lugar abandonado, que você nunca vai lembrar que existe. É como no filme de O Iluminado, mas as caixas de Hongjoong e da Hwasoo não estão na mente, estão em algum local abandonado, diferente das minhas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Untamed {MinWon}
FantasyEm uma era onde sobrenaturais precisam de guardiões para protegê-los, até que os mesmos tenham desenvolvido a habilidade adequada para usar seus poderes, Minhyuk e Hongjoong são obrigados a se mudarem para a casa onde a mãe trabalha. Porém, ambos en...