O peito de Giulia subia e descia, respirando suavemente durante um sono tranquilo. A janela do quarto estava aberta e a luz da lua invadia o cômodo. Téssia observou a pessoa adormecida enquanto acariciava gentilmente seu rosto delicado. A pele macia e suave era ainda melhor depois de tanto tempo sem tocá-la. Uma longa espera havia se passado até que tivesse a chance de ver Giulia uma última vez.
Giulia, que até um momento atrás dormia como pedra na cama, abriu os olhos ao sentir um toque frio na pele, causando cócegas. Uma risada doce escapou por seus lábios, como uma bela sinfonia após a guerra. Durou pouco, até que notasse conscientemente a outra pessoa em seu quarto e se encolhesse embaixo de suas cobertas. Mas a curiosidade veio à tona e o medo se esvaiu quando esticou o pescoço para descobrir os olhos azuis estrelados que cintilavam naquele lugar mal iluminado. "Lindo" foi seu primeiro pensamento. Era uma linda visão.
Téssia viu a cena com olhos meigos e se sentiu mais leve por dentro. Essa pessoa não mudou nem um pouco, Téssia poderia se tornar outra pessoa e mesmo assim Giulia reconheceria seus olhos em qualquer lugar. Um sorriso sem dentes se formou em seu rosto e a deixou ainda mais estonteante. Ela se levantou e estendeu a mão para Giulia.
- Vem comigo - pediu.
Giulia aceitou.
Téssia a trouxe para uma praia deserta que era perto da casa de Giulia. As duas se sentaram na areia gelada e Giulia estremeceu de frio. Os olhos azuis observaram e Téssia cobriu Giulia com uma manta.
- Como vai?
- Vou bem... - A voz de Giulia saiu mais fraca que o esperado devido sua curiosidade.
Quem é essa pessoa e por que veio vê-la? Giulia não se lembra desse rosto e tem certeza de que não conhece essa mulher, mas esses olhos azuis atraem completamente sua atenção, como a jóia mais preciosa em exibição já vista.
- É um alívio, isso acalma meu coração. - Os olhos azuis de Téssia se curvaram em duas luas minguantes brilhantes.
O coração de Téssia pode estar calmo, mas o de Giulia disparou descontroladamente dentro de seu peito só por escutar suas palavras.
- Posso te abraçar? Por favor... - Suplicou e Giulia foi tentada a ceder mais uma vez.
Como ela poderia dizer "não"? Isso não é possível.
Téssia se aproximou lentamente, chegando mais perto até que seus corpos entrassem em contato, e cercou Giulia com seus braços. No começo, sua força era quase inexistente, mas gradualmente aumentou até que estivesse agarrando Giulia firmemente em seus braços.
É a última vez que poderá fazer isso, é melhor aproveitar enquanto durar.
Téssia inspirou profundamente o cheiro de baunilha que Giulia tinha, para que pudesse gravar dentro bem no fundo de sua mente, para nunca esquecer e manter como uma lembrança preciosa.
Por algum motivo, esse gesto despertou uma vontade de chorar em Giulia, que fez um bom trabalho em suprimir esse desejo. Seus olhos ardiam e a respiração saía cortada. O que está acontecendo?
Quando Téssia libertou a pessoa em seus braços, olhou para o seu rosto por alguns segundos e se aproximou para beijar ternamente sua testa.
O último encontro escondido, o último abraço e o último beijo; já é o suficiente, agora chegou o momento de partir.
Téssia levou Giulia de volta para o seu quarto e disse seu último adeus:
- Estou me despedindo de você. Espero que seja feliz, Giulia.
Antes que tivesse a chance de se pronunciar frente a esse veredito, Giulia acordou. Acontece que era só um sonho.
Só um sonho?
Lágrimas escorriam de seu rosto e molhavam sua roupa, mas não havia ninguém ali para secá-las por Giulia. Ela estava sozinha.
O quarto nunca pareceu tão vazio quanto naquele momento.
