Minha amiga foi até a Lívia, que estava há poucos metros do meu pequeno grupo, eu sabia que isso iria dar errado, eu sabia que não deveria ter aberto a boca pra falar sobre isso.
— Eric, vem aqui! – Minhas pernas começaram a tremer quando eu a ouvir gritar. — Vem aqui, por favor. – Ela insistiu e eu vagarosamente me virei, com todos olhando pra mim. Odeio chamar atenção demais.
— Pra quê? – Minha voz saiu trêmula, eu já sabia o que ela fez.
Ela veio até mim e me puxou até onde a Livia se encontrava com sua amiga de cabelos vermelhos, que se afastou na minha presença, como se fosse combinado.
— Eu falei pra Livia, conversei com ela sobre o que você me disse. – Ela começou a falar e minhas mãos começaram a suar. Livia tinha um olhar distante, como se estivesse envergonhada pela situação. — Então ela disse que sim, ela disse que quer te beijar também, mas se você não tomar uma atitude não vai rolar. – Eu poderia cavar minha cova naquele lugar, porque não estava acreditando no que estava acontecendo. Não foi assim que eu planejei tudo. — Vai, se peguem. – Ela me empurrou contra a Cachinhos, que gentilmente me segurou pelos braços. Eu estava sorrindo ou rindo, não sei, estava nervoso, a presença dela me deixa nervoso.
— Você não fez isso. – Eu estava em negação, ela ria e se afastava aos poucos, me deixando ali sozinho com ela, no meio do pátio, com uma enorme iluminação e um chafariz ativo. Foi então que eu olhei pra liv, que já me olhava antes. — Desculpa por isso, não foi assim que eu planejei. – falei, com as bochechas ruborizadas.
— Eu entendo, eu não sou muito de interagir.
— Eu notei. – Respondi rápido. — Olha, se você não quiser, eu entendo. Eu não quero forçar nada, minha amiga é maluca.
— Eu quero. – ela respondeu baixo e eu jurei que não sabia que estava prendendo o ar.
— Ta bom então.
Gradativamente eu fui me aproximando, meus braços tocaram gentilmente sua cintura e você não recuou. Suas mãos entornaram meu pescoço e eu molhei os lábios instintivamente, olhando pra boca dela. Era muito bom te ter tão perto. Me aproximei dos seus lábios e você arfou e eu quebrei a distância. Sim, eu estava beijando a Lívia. Minhas língua invadiu sua boca em instantes e eu poderia jurar que estava no paraíso, talvez morrer teria a mesma sensação. Meus lábios selaram os seus mais de uma vez antes de nos afastarmos. Estagnado e talvez um pouco frenético, eu olhei pra ela e depois pra plateia. Ah, tínhamos esquecido que era um local público.
— Você quer comer com a gente? – Ela me puxou de volta pra Terra e eu ainda estava meio atônito.
— Claro.
É, meu amigos, acho que nesse momento eu tive certeza de que eu havia me apaixonado no primeiro beijo. Estava assustado sobre essa questão, inseguro por pensar que talvez ela não tenha gostado do meu beijo ou se eu fiz algo de errado. Eu só queria te beijar de novo. Tive a audácia de te acompanhar até seu ônibus, você não parecia entender qual era o meu problema ou o meu objetivo com toda aquela aproximação, mas parecia curiosa para saber o que eu tinha pra falar.
— Você sabia que as formigas se comunicam pelo olfato? – Foi a única coisa que me viera a mente e ela mudou seu semblante de indiferente para confuso em segundos, cruzando os braços.
— An? – Ela perguntou e eu ri.
— Esquece, eu sou maluco. – falei, negando com a cabeça enquanto chutava uma pedra qualquer.
— Eu queria deixar claro que não sou muito de falar, eu geralmente gosto de ficar só observando e sou meio lenta, então você vai perceber isso. – Ela começou a desenvolver uma conversa aleatória e eu apenas assenti com a cabeça.
— Eu entendo. Eu também não sou muito de falar sobre mim. Você me deixa nervoso.
— Eu te deixo nervosa? – Ela questionou, surpresa.
— Sim, eu não sei explicar isso. – Cocei a nuca, olhando para trás.
— Entendi.
— Eu acho que seu ônibus tá vindo e eu preciso procurar o meu, então é isso. A gente se vê? Eu vou pra casa comer meu belo biscoito.
— Sim, a gente se vê. E é Bolacha.
— Biscoito.
E essa foi a despedida mais idiota e aleatória que eu já vivi, nada parecia fazer muito sentido. Eu não sabia o que tinha significado para ela, mas para mim havia significado. Naquela mesma noite eu tive um sonho, sonho que mais parecia memória perdida. Epifania. Encarnações? O que isso significa? Muitas dúvidas perturbavam minha mente.