Casulo de Cobertores

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Os olhos cor de rubi de Katsuki observavam as gotas de chuva escorrerem pelo vidro da janela, que estava meio escondida por escuras cortinas blackout.

Ele estava deitado em sua cama, confortavelmente aninhado em edredons grossos e pesados para afastar de si o frio que fazia lá fora, e que sorrateiramente se infiltrava para dentro do quarto parcialmente escuro. Haviam atingido a temporada de chuva, o que significava que agora os dias dele eram repletos de nuvens cinzas e tons tão frios quanto o clima, já que o sol raramente dava as caras – para a sua completa infelicidade.

Chovia quase o tempo todo, quase todos os dias, transformando parques em lamaçais e dando muito trabalho para os guardas de trânsito e heróis, uma vez que a incidência de acidentes ficava maior com a pouca visibilidade e eventuais fenômenos naturais – um raio que caiu aqui e cortou o fornecimento de energia de um bairro, um vento que soprou forte demais ali e fez uma árvore tombar em cima de um carro.

Katsuki sempre odiou esse clima chuvoso, desde que podia se lembrar. Se não por todas as coisas anteriormente citadas, então pelo simples fato de que o frio e a chuva dificultavam e muito o uso de sua individualidade, que primariamente dependia de seu suor. E, para que suasse, ele precisava sentir calor, precisava se aquecer e queimar energia, o que era muito mais difícil quando as temperaturas se aproximavam demais do zero. Por esse motivo, quando o clima ficava daquele jeito, Katsuki precisava se esforçar o dobro – às vezes, o triplo – nos treinos para que conseguisse atingir a temperatura corporal necessária, o que o fazia se movimentar mais, o que o deixava irritado porque ele sentia que sempre estava desperdiçando energia à toa e ele odiava desperdiçar qualquer coisa que fosse, principalmente esforço.

Mas, talvez, se Katsuki olhasse para além de tudo isso, ele descobriria que, debaixo de todas aquelas coisas, ele apenas odiava o sentimento de melancolia, abatimento e tristeza que aquele clima trazia. Parecia ser uma praga, uma espécie de fenômeno, ou um efeito colateral esquisito: literalmente todas as pessoas que ele conhecia de alguma forma pareciam se sentir mais melancólicas quando chovia, quando o céu se coloria de cinza e a temperatura despencava e as gotas geladas jorravam sobre a cidade, e ele estaria mentindo para si mesmo se dissesse que não era uma delas. Ele era, mesmo que lá no fundo, mesmo que odiasse profundamente esse fato.

E isso porque Katsuki não gostava de se sentir triste. Ou melancólico, ou saudoso, ou qualquer porcaria dessas. Ele nunca havia aprendido muito bem a como lidar com aqueles sentimentos e não queria tentar começar a aprender agora, porque ele os detestava. Katsuki não gostava da sensação de peito pesado, pensamentos confusos, desânimo ou qualquer outra coisa que vinha junto no pacote. Ele era um cara de sangue quente, que era prático e pensava em soluções para os próprios problemas ao invés de ficar remoendo eles ou se lamentando pelos cantos como um perdedor de merda. Se ele tinha um problema, ele se erguia e o enfrentava de frente – e talvez o explodisse até o além vida para se livrar dele de uma vez por todas. Era assim que resolvia as coisas.

Então, talvez por todos os motivos do mundo, Katsuki odiava os dias chuvosos e frios. Se pudesse, se tivesse poder o suficiente para isso ou pudesse fazer um desejo para Deus, ele talvez expulsasse os dias de chuva e de neve para todo o sempre da porra do rodízio meteorológico.

Bem, isso até… até a relação dele com Izuku mudar mais uma vez.

Katsuki desviou os olhos vermelhos da janela e baixou-os até a altura do próprio peito, e um pequeno sorriso curvou involuntariamente os cantos de seus lábios com a visão do garoto adormecido sobre si.

Izuku cochilava serenamente, ressonando baixinho. A cabeça estava apoiada no peito de Katsuki, espalhando um mar de cachos verde-escuros pelo rosto tranquilo. Mas, através das mechas macias, Katsuki ainda podia ver perfeitamente os cílios grandes pousados nas bochechas rechonchudas e repletas de sardas, uma delas pressionada em seu moletom preto de maneira que fazia os lábios rosados se curvarem em uma espécie de biquinho de peixe, e que batessem na cara dele se Izuku não estava a coisa mais adorável do mundo naquele momento – mesmo que ele nunca fosse falar aquilo em voz alta.

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