Recomendo que leiam escutando a música Kids- Current Joys

Ao abrir a porta, Theo logo é recebido por Ray, que fica passando por suas pernas. Que noite foi essa, ainda atordoado com tudo o que havia acontecido, pensou que um banho ajudaria a limpar sua cabeça. É,não deu muito certo.

- Ótimo, quando eu decido tomar um banho decente, esqueço de ajeitar a água.

Aparentemente alguém esqueceu que o abastecimento de água tá cheio de frescura e não resolveu nada. Tentou se limpar com lenços porém acabou, para a alegria dele. Trocou de roupa e colocou seu pijama confortável, então era a hora de produzir. Sua inspiração estava correndo a mil, melhor aproveitar.

Seu humor e animação estavam perfeitos, até receber uma ligação. O monitor mostrava o contato "Mãe". As ligações dela não eram sempre as melhores, na verdade nunca eram. Os problemas com sua mãe, surgiram especialmente quando ele saiu de casa para seguir sua carreira de escritor. Ela nunca aceitou sua saída de casa e muito menos sua escolha de carreira.

Como muitos dos brasileiros, ela não teve a oportunidade de terminar a escola e nem o gosto pela leitura desenvolvido. Já seu filho, teve a oportunidade de estudar em uma escola pública, que sempre foi boa para ele, em sua opinião. Conseguiu ter acesso a livros, boas aulas e grande incentivo na escrita.

Sua avó, Amélia, morreu há alguns anos. Ela era a única pessoa que sempre acreditou em seu potencial. Adorava vê-lo recitando poemas ou histórias criadas por sua imaginação, sempre teve criatividade para isso e ela apreciava com vigor. Prosseguindo, a voz de sua mãe invadiu sua mente de forma gradativa e suas memórias foram criando cores novamente. Tentar dispersa-las era inútil e ele sabia disso, porque já havia tentado.

Como de costume em suas ligações, ele recebia elogios primeiro sobre seu sucesso com as vendas. Então vinha os pedidos de ajuda financeira,sendo mais específica. Suas desculpas eram as mesmas de sempre: estou ficando velha, sempre me matei para dar do bom e do melhor para você então deve me ajudar. No finalmente, ela o julgava por ser assim e não ligar para a mesma, ele encerrava a ligação. Não ligava se cortava os gritos dela, apenas queria sossego. Sua relação com sua mãe sempre se validou em caos.

As inevitáveis lágrimas caem sem seu controle. Essas ligações sempre destruíam seu psicológico, porém sempre atendia. Não importasse como faria ele se sentir, ao ouvir a voz de sua mãe também ouvia a voz de sua avó. As vozes eram simplesmente muito parecidas, mesmo que as palavras fossem bastante diferentes.

Ele nunca teve a coragem de levantar a voz para ela, para questionar suas decisões e ações ignorantes. Mesmo que essa ligação o fizesse tremer, Ray sempre chegava na hora certa. O gatinho preto pula para o seu colo e se aninha, junto ao peito de Theo, que percebe sua respiração abrandar.

- Ah meu amor, o que eu faria sem você?

Os olhos brilhantes do gato brilhavam mas nenhuma palavra, ou melhor dizendo, miado foram proferidos.

- Você deveria falar como o gato risonho, iria me divertir horrores, meu pequeno.

A moça das ruas de RecifeOnde histórias criam vida. Descubra agora