Inconstância

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Oi, aqui é Jay. Essa não é minha primeira história publicada, mas é a primeira depois de muitos anos. Sendo sincera, isso aqui é mais um surto meu de quem precisa colocar algumas coisas pra fora. Prometi para mim que voltaria a escrever coisas que não fossem relacionadas a rpg principalmente depois que parei de participar deles, mas sempre arranjei alguma desculpa para não voltar de fato. E talvez isso aqui passe completamente despercebido na plataforma, como tem mais chances de ser do que alguém esbarrar por aqui e ceder um tempo para ler, mas é o famoso "minha parte eu fiz". Então é minha dose de coragem e meu tiro no escuro. Boa leitura :D

Capítulo Zero

Rotina é uma faca de dois gumes.

Particularmente, me sinto melhor quando me presto o papel de ser produtivo ou de me sentir como se fosse por mais do que míseras horas. Há um gosto doce em sentar-se na noite de domingo e saber que durante a semana inteira, fui, de fato, alguém decente.

Mas meu cérebro constantemente me impede de realizar esse pequeno feito por mim. É como se eu soubesse todas as regras de um jogo, mas ainda não conseguisse jogá-lo por pura e simples incompetência. Viver é exatamente assim para mim. Uma eterna prova do quão incompetente eu sou.

A inconstância dos meus dias os tornam desgastantes e me fazem uma caixa de surpresa. Nunca sei com qual humor estarei no dia seguinte ou na próxima meia hora. É fácil me pegar pensando em como pareço um nó jogado no universo que desistiram de tentar desatar.

É cansativo. Ser instável é uma merda. É mais bosta ainda saber que talvez isso tudo, muito provavelmente seja uma desordem causada por todas as coisas que já vivi. E que deve ter um jeito de ficar melhor, de consertar. Que alguém pode me ajudar. Mas cheguei em um nível em que me tornei um completo estranho para mim também, como poderia tentar me mostrar para alguém para que me ajude a resolver? A ideia de ter uma mãozinha com comprimidinhos brancos me corrói e sempre a abano para longe como faço com os mosquitos no verão.

Os dias, no entanto, são monótonos. Independente da inconstância, acordar, tomar café e ir trabalhar, lidar com situações diferentes mas tão parecidas, não me enchem de alegria. Não sei se posso dizer que nunca encheram. Lembro-me da euforia do começo. Mas não me lembro do sentimento de fato.

A euforia inicial é um dos meus maiores medos. Ela nos torna inconsequentes, inocentes e irrevogavelmente tolos e cegos. Fazem com que as situações se maquiem atrás de uma beleza irreal, que encobre tantos defeitos vitais para nossa compreensão. A animação é tão letal quanto uma bala perdida.

Mas foi num dia de chuva que ele surgiu, pingando água no chão da loja em que me enclausurava por algumas horas do dia em troca do mínimo para sobreviver nessa droga de mundo. Foram dois segundos desejando matá-lo por molhar o piso que eu havia limpado como uma reza matinal de todos os dias e nos demais que sucederam-se, foi a terrível euforia inicial.

Meus olhos esqueceram da chuva que ele havia transportado do lado de fora para dentro porque eu precisava lidar com a tempestade que se formou dentro de mim, trazendo neblina e coração acelerado como um acidente de carro. Uma troca pouco justa com covinhas nas bochechas e olhos brilhantes. Olhos tão bonitos que me fizeram questionar se já vi olhos mais belos que os dele. Não pensei por muito tempo, mas sabia a resposta e ela claramente se exaltava em afirmar que não, jamais havia visto algo como aquele par de olhos brilhantes.

Foi súbito. Culpei isso pela(s) batida(s) errada(s) do meu coração. Susto. Tolice.

— Posso ajudar…? – balbuciei. Inclinado, confuso e tolo. Tão tolo.

Se eu soubesse o que o futuro reservava, me pergunto se teria feito o mesmo ao invés de ter enxotado o garoto pela bagunça que fez na loja e em mim. Mesmo sabendo que faria igual. Sem tirar. Nem por. Na verdade, colocaria mais extensos segundos do sorriso que ele me abriu ao responder tão gentilmente, grande e cheio de dentes brilhantes e convidativos como uma obra de arte pronta para ser admirada e analisada a fundo.

— Por favor.

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⏰ Última atualização: Aug 24, 2022 ⏰

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Rain {namgi}Onde histórias criam vida. Descubra agora